14/10/2009

NORMOSE - A doença de ser normal


"NORMOSE" (a doença de ser normal)
Michel Schimidt Psicoterapeuta

Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exactamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo.

A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, irritação, intolerância, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas vidas? Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma colectividade abstracta que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.

A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar? Então, como aliviar os sintomas desta doença?

Um pouco de auto-estima basta.

Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.

Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.

Por isso divulgue o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.

" E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música".
Nietzsche

5 comentários:

Maria Letr@ disse...

Mais um óptimo texto! Parabéns pela recolha.
Há só aqui uma pequena coisinha: Quanto a mim, seria bom que fossem bem analisados os limites desse "ser-se diferente", por quem, onde, quando e se não perturba o "ser-se diferente" a outros.
Um abraço.
Maria Letra

Luis disse...

Querida Mizita,
Claro que o ser-se diferente irá incomodar os medíocres pois eles só sobrevivem escondidos nas "modas", no "parece bem", no "parece mal" e nas coisas deste género. Não se ligando a isso mostram as suas fraquezas ficam desnudados e isso eles não gostam.
Ser-se normal é ser-se natural é ser-se sadio!!!
Um abraço muito amigo.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Um bom texto, acima do normal!!!

Não sou «normal» nem quero sê-lo, procuro não o ser. Tenho os meus valores e não os relego para me inserir em modelos artificiais.

Um dia, deixei de exercer umas funções em que dispunha de um Mercedes com motorista, mas que podia conduzir sozinho. Uns dias antes de terminar essas funções comprei uma motorizada que arrumei no parque no palácio na véspera da minha saída. No último dia entrei de Mercedes e saí de motorizada, como um banho de humildade realista, para não me ficarem sensações impróprias do homem simples que sempre fui e quiz e quero continuar a ser, o João.

Um abraço
A. João Soares

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido amigo Luís,

Desculpe, mas estou tão cansada que não consigo ler mais nada.
Amanhã voltarei para comentar, prometo.

Beijos

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo Luís,


Só agora li o seu excelente texto.
Realmente assim é ... quantos ditos normais têm uma vida profundamente anormal e vice versa.

Não correspoder aos padrões exigíveis pela sociedade não pode ser motivo de exclusão,bem pelo contrário, a virtude está na diferença.

Beijinho,