10/10/2009

Da Janela do Avião, como «Do Miradouro»!!!

Janela do Avião

Texto de Alexandre Garcia

Era criança quando, pela primeira vez, entrei num avião. A ansiedade de voar era enorme. Eu queria sentar-me ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o voo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até à descolagem. Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul. Tudo era novidade e fantasia.

Cresci, formei-me, e comecei a trabalhar. No meu trabalho, desde o início, voar foi sempre uma necessidade constante. As reuniões em outras cidades e a correria obrigavam-me, às vezes, a estar em dois lugares distantes num mesmo dia.

No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.

O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse. Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido.

As poltronas do corredor agora eram exigência. Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

Por um desses maravilhosos “acasos” do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar a Curitiba o mais rápido possível. O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona. Sem pensar, concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.

Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar. E, num rompante, assim que o avião descolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.

Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer. Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista. Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, da minha família, do meu trabalho e convívio pessoal?

Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida. A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos. Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.

Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor para embarcar e desembarcar rápido e “ganhar tempo”, pare um pouco e reflicta sobre aonde você quer chegar. A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante. Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.

Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe. Afinal, “a vida, a felicidade e a paz são caminhos, e não destinos”.

Extraído de um anexo recebido da amiga Celle, a quem agradeço a atenção.

4 comentários:

Adelaide disse...

Que belo texto e que grande verdade.Dá para ficar a pensar e para decidir tomar sempre o lugar junto à janela.

Parabéns à Celle.

Abraço
Milai

Luis disse...

Bons Amigos,
Parabéns à Celle que enviou, ao João que postou!
É realmente um lindo texto que nos obriga a pensar.
Um abração.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido amigo João,

A nossa querida Celle também me enviou o mesmo e-mail.
Para além de umas notas pessoais muito suas e queridas.
Sei que ela sempre lê tudo, só não entendo porque não publica...
Mas quero aqui agradecer todo o seu carinho Mana Celle.

Este seu texto é fabuloso. Cheio de verdades absolutas. Lindo.

Beijos cheios de ternura da amiga de sempre,

Maria Letr@ disse...

Amigo João,
Que belo texto, cheio de bom conteúdo. Adorei, pela verdade que tantas vezes negligenciamos. Até meio revi-me perfeitamente nele, durante as minhas frequentes e cansativas viagens ao estrangeiro, em trabalho. As amigas diziam-me: "Quem me dera a tua sorte! Sempre a viajar!", enquanto eu pensava no quanto precisava era de descansar, estar com a família mais vezes, tranquilizar o espírito. A única diferença está no facto de, mesmo voando como quem apanha o autocarro, ou vou ali e já venho, nunca deixei de apreciar a beleza das nuvens, o azul do céu ou a serenidade dos campos, que via da janela do avião.
Um abraço.
Maria Letra