31/01/2014

Incentivo aos infratores



Coitados dos infratores
Que não puderam pagar…
São todos uns bons gestores
Sabem bem administrar

O negócio que bem gerem
Por sua conta e risco,
Pagar ao Estado não querem,
É melhor fugir ao fisco.

Têm benefícios fiscais
Põem o dinheiro a render
Ganham muito e muito mais
Só benefícios vão ter.

Ser esperto é não pagar
Ganha com o perdão fiscal.
Dá lucro prevaricar
Que o Estado premeia o mal!

O cumpridor é que paga,
Paga o pobre reformado,
Vive-se assim nesta saga,
A alguns cortam o ordenado.

Inteligente incentivo
Para os que fogem ao fisco
É um enorme motivo
Trabalhar por conta e risco!
                    «»

                            Zélia Chamusca

30/01/2014

The Shadows - Instrumental Show


O défice já baixou!



É preciso agradecer
Porque o défice já baixou
Já vamos todos crescer
Pois a crise já passou!

Conseguiram acabar
Com esta crise que criaram!
Foi fácil, foi só roubar
Os que à miséria mandaram!

Roubaram os reformados
Para dar ao capital
E aos bancos já desfalcados!
Foi tão fácil, afinal!

O défice já baixou
A Troika vai abalar
E Portugal já ficou
Com a riqueza a gerar!

Temos que reconhecer
Estes feitos gloriosos
Passou o bom povo a sofrer
Graças aos grandes mafiosos!

Devemos o grande feito
Aos governantes que temos
Render-lhes-emos o pleito
Porque todos já vencemos!
                «»
                       Zélia Chamusca
                              


25/01/2014

O QUE SE PASSA POR CÁ…



 
Cliquem nos itens abaixo para saber. Não deixem de ver o último!
  1. Em flores
  2. Em Assistentes pessoais
  3. Em cantinas
  4. Em subvenções vitalícias, precoces e que dobram de valor aos 60 anos
  5. Em Golf subsidiado, é essencial
  6. Em regalias aos ex-presidentes
  7. Em despesismo inútil
  8. Em Regalias e mais regalias aos deputados
  9. Em Incompetência / irresponsabilidade
  10. Majestoso menu de luxo, da AR
  11. Em video, mais luxos
  12. Os carros de luxo... ou bólides
  13. O orçamento da AR de 2013, engorda?
  14. Deputados defendem o povo, atacam deputados?
  15. Em Água mineral, por favor.
  16. Deputados representam o interesse dos deputados
  17. Em numerosos de deputados
  18. O futuro dourado
  19. Marinho Pinto tenta enfrentar os deputados advogados
  20. os privilegiados
CORRUPÇÃO À DESCARADA

ESTA É A MELHOR DE TODOS OS TEMPOS!





Taxista inglês
Todos devíamos ser como ele. Chega de abusos... Em nome da tolerância!
*Isto aconteceu na cidade inglesa de Manchester.*

Um muçulmano devoto e barbudo entra num táxi.

Uma vez sentado, pede ao taxista para desligar o rádio, porque não quer ouvir música, como decretado na sua religião, e porque no tempo do profeta não havia música, especialmente música ocidental, que é música dos infiéis.

O motorista do táxi educadamente desliga o rádio, sai do carro, dirige-se à porta do lado do cliente e a abre.

O árabe pergunta: - "O que você está fazendo?"

Resposta do taxista: - "No tempo do profeta não havia táxis; por isso saia e espere pelo próximo camelo".

Só inglês mesmo...


Não desperdices... Há quem precise!


24/01/2014

O PORTO E O MINHO NO INÍCIO DO SEC. XX




Alguém sabe o que era o Pathé na cidade do Porto? O Pathé era uma sala de espectáculos ao ar livre, situada onde mais tarde vieram a fazer o cinema Batalha. No Pathé passaram os primeiros filmes mudos da cidade. Era o único cinema. As pessoas diziam. Vamos ao Pathé em vez de dizerem vamos ao cinema, nos princípios do séc.XX. Projecionista dos filmes era o Sr. César. Conhecido pelo Cesinha.

Portugal , visto por António Lobo Antunes





Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos.

Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal-agradecidos, protestamos. Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estoico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados. Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.

O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles.
Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão.

O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito.

Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver:
- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro
- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima
- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo
que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores, que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho. E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia-miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade.

As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas. Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente  indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos.

Vale e Azevedo para os Jerónimos, já! Loureiro para o Panteão já! Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já! Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia.
Para a Batalha. Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram. Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara. Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito.
Estátuas equestres para todos, veneração nacional. Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no. Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis.
Admitam-no. E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar do D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de
Pombal, esse tirano. Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar.

Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho. Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar. Abaixo o Bem-Estar.

Vocês falam em crise mas as actrizes das telenovelas continuam a aumentar o peito: onde é que está a crise, então? Não gostam de olhar aquelas generosas abundâncias que uns violadores de sepulturas, com a alcunha de cirurgiões plásticos, vos oferecem ao olhinho guloso? Não comem carne mas podem comer lábios da grossura de bifes do lombo e transformar as caras das mulheres em tenebrosas máscaras de Carnaval. Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira. O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos peitos, lábios, literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.

Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem? Da mesma forma que os
processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever. E, magrinhos, magrinhos mas com peitos de litro e beijando-nos uns aos outros com os bifes das bocas seremos, como é nossa obrigação, felizes.

António Lobo Antunes