A região situa-se no nordeste de Portugal, estendendo-se pelo vale do rio Douro e seus afluentes e abrange os distritos de Vila Real, Bragança, Viseu e Guarda, dividindo-se em três sub-regiões - Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior, produzindo cada uma, vinhos com especificidades próprias.
A região tem início a cerca de 150 Km a montante da foz do Douro em Mesão Frio, Peso da Régua e Santa Marta de Penaguião e parte dos concelhos de Alijó, Murça, Sabrosa e Vila Real. No distrito de Bragança: parte dos concelhos de Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Torre de Moncorvo, Vila Flor e Mirandela. No distrito de Viseu: parte dos concelhos de Armamar, Lamego, Resende, São João da Pesqueira e Tabuaço. No distrito da Guarda: o concelho de Vila Nova de Foz Coa e parte dos concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo e Meda.
Esta é uma região muito montanhosa que por se encontrar a oeste protegida por montanhas, destacando-se a serra do Marão (1415 metros) a qual a protege essencialmente da influência do clima atlântico. Assim a região tem um micro clima do tipo atlântico, atlântico - mediterrânico, acentuando-se para montante, com elevação da temperatura e diminuição da queda pluviométrica. A distribuição da temperatura e da pluviosidade além de bastante irregular no decurso do ano apresenta extraordinárias amplitudes térmicas, atingindo-se por vezes temperaturas superiores a 45 ºC no Verão, para descerem abaixo dos 0ºC nos meses de Janeiro/Fevereiro. Nove meses de Inverno e três de Inferno é a forma como no Douro se referem às condições climatéricas.
Com uma superfície total que abrange 250 mil hectares, dos quais apenas 48 mil são ocupados por vinha, a região duriense tem para além do micro clima, como característica fundamental, características geológicas particulares com solos predominantemente xistosos. Uma propriedade peculiar que a rocha apresenta é a de permitir a penetração das raízes a grandes profundidades, facultando-lhes assim a absorção da quantidade de água necessária para resistirem a verões quentes e secos, que caracterizam o clima da região.
Embora exista excesso de argila e de cascalho, proveniente da desagregação do xisto, um e outro equilibram-se, conferindo aos solos uma textura adequada à vinha. O ditado popular aqui diz, que a vinha bebe sol e como pedra.
Muita dessa pedra foi usada para a construção de terraços nos socalcos, que têm como principal função o impedimento da erosão do próprio solo e a retenção de parca chuva no Verão, tendo estes sido feitos à mão, sobretudo nas zonas de maior declive.
(Continua)
Para terminar, e porque tenho duvidas que tenham lido as histórias do Sr. Nicolau de Almeida, termino esta crónica sobre a região, com uma história verídica, que eu própria ouvi da boca do pai do Barca Velha.
Numa dada altura, andava o Sr. Nicolua de Almeida pelo Minho, procurando vinhos para uma possível exportação para o Brasil, quando se encontrou com um produtor, que por sinal era bastante mal encarado, sobretudo quando ouviu da boca do mestre que o seu vinho não tinha as características que ele desejava.
Como este insistisse para saber qual o defeito encontrado no vinho, sob pena de soltar os cães, este viu-se obrigado a explicar-lhe que o vinho tinha mofo, tinha um cheiro idêntico ao de um pano molhado dentro de uma sala. O produtor do vinho verde furibundo correu com o Sr. Nicolau de Almeida e este aliviado desapareceu.
Passados largos meses, apareceu na Ferreirinha alguém que dizia pretender falar com o “cheirista”. Intrigado, o famoso pai do Barca Velha recebeu-o e percebeu imediatamente ao avistá-lo de quem de tratava. O produtor minhoto, que desta vez trazia um ar bem-disposto, vinha informar o mestre que tinha vendido o vinho todo na região, mas para seu grande espanto quando chegou ao fim da Pipa, lá estava uma samarra que possivelmente algum trabalhador acidentalmente tinha deixado cair e lá tinha ficado.
Afinal o “Cheirista” tinha razão!
Fernanda Ferreira
7 comentários:
Muito interessante, grata pela partilha, sempre vou aprendendo algo que desconhecia.
Beijinhos.
Amiga Fernanda,
Por duas vezes tive a oportunidade de visitar a Casa do Douro na Régua e fiz a viagem de barco pelo Douro até ao Pinhão regressando pelo comboio. Nessas visitas fiquei a conhecer muito bem essas paragens maravilhosas. O seu "post" fez-me recordar esses belos momentos aí vividos. Quem possa deve fazer esse passeio turístico pois não fica atrás de outros que se fazem pela "estranja" antes pelo contrário.
Obrigado pelo recordar tão belas paisagens!
Devido ao adiantado da hora, os meus comentários são curtos. Todavia, como o prometido é devido, cá estou eu a marcar presença.
E cá está a minha amiga Ná a cumprir a sua promessa, também, enriquecendo a nossa cultura sôbre um tema muito nosso, muito português, duma forma muito harmoniosa.
Um grande abraço amiga.
Maria Letra
Cara Fernanda,
Terras de xisto, socalcos das montanhas expostos ao sol das Terras Quentes Transmontanas, do Alto Douro.
Uma descrição muito bem feita de forma didáctica.
Não é por acaso que o Turismo rural está ali a desenvolver-se e já há grandes industriais da hotelaria a criarem ali fortes pólos de atracção. Como diz o Luís, temos grandes belezas neste rectângulo que merecem ser vistas antes de ir para além da fronteira.
Devemos conhecer Portugal e as suas gentes e riquezas naturais, para o amarmos. Só se ama o que se conhece.
Obrigado por partilhar connosco o muito que sabe.
Um abraço
João Soares
Sou mais da cerveja. O Marquês esqueceu-se dela.
Queridos amigos,
Permitam-me que comece por abraçar a minha querida amiga Mizita, embora virtualmente (estou à espera de mais do que isto).
A todos um grande bem-haja pelos comentários, cheguei a temer que este tema não tivesse grande interesse, isto pelos parcos comentários no meu primeiro post.
Se calhar o meu entusiasmo é que é desmedido, desculpem se assim é...
Ana, Luis, João, esta região é assombrosamente bela, de cortar a respiração e o nosso amigo Taxi Pluvioso, que me desculpe, eu também bebo uma "cervejolas"... mas definitivamente um bom vinho na ocasião certa faz toda a diferença, até o Marquês sabia disso.
Beijinhos
Fernanda
Conheço bem esta paixão da autora.
Trabalho muito bem conseguido.
Parabéns.
Beijo,
José Ferreira
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