13/04/2009

A CULTURA DO SLOW DOWN


Leia com atenção e medita bem o seu conteúdo.

Já tem 18 anos que ingressei na Volvo, empresa sueca bem conhecida.
Trabalhar com eles é uma convivência muito interessante. Qualquer projeto aqui demora dois anos para se concretizar, mesmo que a idéia seja brilhante e simples.É uma regra!

Os processos globalizados causam-nos a nós (brasileiros, portugueses, argentinos, colombianos, peruanos, venezuelanos, mexicanos, australianos, asiáticos, etc...) uma ansiedade generalizada na busca de resultados imediatos.
Conseqüentemente, o nosso sentido de urgência não surte efeito dentro dos prazos lentos dos suecos.
Os suecos debatem, debatem, realizam "n" reuniões, ponderações, etc...
E trabalham! Com um esquema bem mais “slow down". O melhor é constatar que, no fim, isto acaba por sempre dar resultados no tempo deles (suecos) já que conjugando a necessidade amadurecida com a tecnologia apropriada, é muito pouco o que se perde aqui na Suécia.

Resumindo:
1. A Suécia é do tamanho do estado de São Paulo (Brasil).
2. A Suécia tem apenas dois milhões de habitantes.
3. A sua maior cidade, Estocolmo, tem apenas 500.000 habitantes (compare-se com Paris, Londres, Berlim, Madrid, mesmo Lisboa, onde vivem permanentemente 1 milhão de pessoas, ou ainda a cidade do Rio de Janeiro com 7 milhões).
4. Empresas de capital sueco: Volvo, Skandia, Ericsson, Electrolux, ABB, Nokia, Nobel Biocare , etc. Nada mal, né? Para se ter uma idéia da sua importância basta mencionar que a Volvo fabrica os motores de propulsão para os foguetes da NASA.

Os suecos podem estar enganados, mas são eles que me pagam o salário. Devo referir que não conheço nenhum outro povo com uma cultura geral superior à dos suecos.

Vou contar uma pequena história,para terem uma idéia:

A primeira vez que fui para a Suécia, em 1990, um dos meus colegas suecos apanhava-me no hotel todas as manhãs.
Já era Setembro, com algum frio e neve.

Chegávamos cedo à Volvo e ele estacionava o carro longe da porta de entrada (são 2000empregados que vão de carro para a empresa).
No primeiro dia não fiz qualquer comentário, nem no segundo ou no terceiro
Num dos dias seguintes, já com um pouco mais de confiança, uma manhã perguntei:
"Vocês têm lugar fixo para estacionar? Chegamos sempre cedo e com o estacionamento quase vazio você estaciona o carro no seu extremo?
E ele me respondeu com simplicidade:
“É que como chegamos cedo temos tempo para andar, e quem chega mais tarde, já vai entrar atrasado, portanto é melhor para ele encontrar um lugar mais perto da porta. Entendeu?"
Imaginem a minha cara! Esta atitude foi bastante para que eu revisse todos os meus conceitos anteriores

Atualmente, há um grande movimento na Europa chamado "Slow Food". A “Slow Food International Association”, cujo símbolo é um caracol, tem a sua sede na Itália (o site na Internet é muito interessante- www.slowfood.com)

O que o movimento Slow Food preconiza é que se deve comer e beber com calma, dar tempo para saborear os alimentos, desfrutar da sua preparação, em família, com amigos, sem pressa e com qualidade.
A idéia é contraposição ao espírito do Fast Food e o que ele representa como estilo de vida.

Verdadeiramente surpreendente, é que este movimento de Slow Food está servindo de base para um movimento mais amplo chamado “Slow Europe” como salientou a revista Business Week numa das suas últimas edições européias.
Na base de tudo isto está o questionamento da "pressa" e da "loucura" geradas pela globalização, pelo desejo de "ter em quantidade" (nível de vida) ao contrário do "ter em qualidade", “Qualidade de vida" ou “Qualidade do ser".

Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, ainda que trabalhem menos horas (35 horas por semana) são mais produtivos que os seus colegas americanos e ingleses. E os alemães, que em muitas empresas já implantaram a semana de 28,8 horas de trabalho, viram a sua produtividade aumentar uns apreciáveis 20%.

A denominada "slow attitude" está a cahamar a atenção dos próprios americanos, escravos do "fast" (rápido) e do "do it now!" (faça já!).

Portanto, esta "atitude sem pressa" não significa fazer menos nem ter menor produtividade.
Significa sim, trabalhar e fazer as coisas com "mais qualidade" e "mais produtividade", com maior perfeição, com atenção aos detalhes e com menos stress.
Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do prazer dum belo ócio e da vida em pequenas comunidades.
Do "aqui" presente e concreto, ao contrário do "mundial" indefinido e anônimo.

Significa retomar os valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do quotidiano, da simplicidade de viver e conviver, e até da religião e da fé.
SIGNIFICA UM AMBIENTE DE TRABALHO COM MENOS PRESSÃO, MAIS ALEGRE, MAIS LEVE, E PORTANTO MAIS PRODUTIVO, ONDE OS SERES HUMANOS REALIZAM, COM PRAZER, O
QUE MELHOR SABEM FAZER.

É saudável refletir sobre tudo isto. Será que os antigos provérbios: “Devagar se vai ao longe" e “A pressa é inimiga da perfeição" merecem novamente a nossa atenção nestes tempos de loucura desenfreada?

Não seria útil e desejável que as empresas da nossa comunidade, cidade, estado ou país, começassem já a pensar em desenvolver programas sérios de “qualidade sem pressa" até para aumentarem a produtividade e a qualidade dos produtos e serviços sem necessariamente se perder “qualidade do ser"?

No filme "Perfume de Mulher" há uma cena inesquecível na qual o cego (interpretado por Al Pacino) convida uma jovem para dançar e ela responde: "Não posso, o meu noivo deve estar chegando". Ao que o cego responde: “Num momento, vive-se uma vida", e leva-a para dançar um tango. Esta cena que dura apenas dois ou três minutos, é o melhor momento do filme.

Muitos vivem correndo atrás do tempo, mas só o alcançam quando morrem, quer seja de enfarte ou num acidente automobilístico por correrem para chegar a tempo.
Ou outros que, tão ansiosos para viverem o futuro, esquecem-se de viver o presente, que é o único tempo que realmente existe.

O tempo é o mesmo para todos, ninguém tem nem mais nem menos de 24 horas por dia.
A diferença está no que cada um faz do seu tempo. Temos de saber aproveitar cada momento, porque, como disse John Lennon, “A vida é aquilo que acontece enquanto planejamos o futuro".

Parabéns por ter conseguido ler esta mensagem até ao fim.
Certamente haverá muitos que leram só metade, para "não perder tempo" tão valioso neste mundo globalizado.

E-mail enviado pela amiga Maria José Areal e ATENÇÃO amigo João, tratado como me ensinou.

Aprender até morrer...OBRIGADA AMIGO.

Fernanda Ferreira



7 comentários:

A. João Soares disse...

Cara Ná,
Que boa aluna!!! Está um trabalho impecável. Parabéns.
Um abraço
João Soares

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo João,

Quando o professor é bom...aprender é fácil.
Obrigada do fundo do coração.

Beijinho

Unknown disse...

Querida amiga Ná,
parabéns pelo post que nos trouxe.
Concordo plenamente que "A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO", e penso que isso está mais que provado, actualmente existem muitas fábricas que exigem produções completamente disparatadas aos seus operários, e os resultados estão à vista muita produção e fraca qualidade.
O mesmo se aplica ao nosso dia-a-dia, se fizermos tudo a correr, nem os bons momentos ou a beleza do Pôr-do-Sol conseguimos apreciar.

Beijinhos,
Ana Martins

Luis disse...

Amigos,
É verdade que as pressas só trazem atrasos pois como diz o João é necessário e conveniente pensar-se antes de se tomarem decisões. O que por cá se vê é exatamente o contrário. faz-se tudo à pressa sem se pensar devidamente nos problemas e depois há que remendar ou deitar abaixo e refazer de novo. São desperdícios de tempo , de dinheiro e de credibilidade de quem nos governa. ou dirige. Sempre ouvi dizer que tempo é dinheiro porquê desperdiçá-lo desta maneira? Talvez a resposta seja mesmo seja a ignorância dos "macacos"!!!!

Pod papo - Pod música disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pod papo - Pod música disse...

Muito bacana essa cultura slow down. Realmente devemos levar em consideração o provérbio "devagar se vai longe". As pessoas ficam correndo o tempo todo, para todos os lados em busca sabe-se lá do que, e se esquecem que, estando você rápido ou devagar, todo mundo tem as mesmas 24 horas por dia, portanto, temos que aproveitar esse tempo, não só com o trabalho, mas também com a família, lazer, nos dedicarmos mais à Deus, entre tantas outras coisas maravilhosas que podemos fazer todos os dias.

Beijos

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amiga Juliana,

Essa devia ser a cultura a adoptar por todos os países em todo o Mundo...slow down e slow food...

Bjs.