Estávamos no início de Setembro, quando os dias ainda são longos e amenos. Adoro os meses quentes e Setembro tem ainda um cheiro intenso quase a Verão.
Embora a viver na cidade, tinha acabado de chegar de férias no campo, da casa dos meus avós paternos, da Quinta dos Santo Amaro, onde ainda há pouco se tinha colhido o milho e feito o vinho, onde ainda havia peros a algumas maçãs autóctones da região, que se comem em pleno Inverno.
Eu sentia-me tão orgulhosa… tinha feito todo o meu percurso escolar do ensino primário, sempre como excelente aluna, estava finalmente agora na “Escola Grande”, no Ciclo Preparatório da Escola António Sérgio em Vila Nova de Gaia.
Após mais um dia de aulas, de alegria intensa com os meus colegas, de brincadeiras e de algum estudo, estava de volta a casa, sozinha, o que era só por si uma verdadeira aventura.
Já na paragem do autocarro, cantarolava baixinho uma canção popular da época. Sabia qual o autocarro a tomar e o número de cor. Lembro-me perfeitamente que nessa manhã, a minha mãe me fez mil recomendações “ Agora que já és uma mocinha grande, tem cuidado para não perderes o autocarro, não te distrais, podes perder-te…” talvez intuição de mãe!
Vi o autocarro chegar e entrei. Apesar de o condutor não ser o mesmo eu não achei nada de anormal, pensei “ bem, eles trocam de turnos, deve ter sido isso o que aconteceu”. No entanto, um pouco mais tarde, ao olhar mais atentamente através da janela a paisagem, apercebi-me que a mesma deixara de me ser familiar. Corei então intensamente ao sentir-me confusa e perdida.
Levantei-me de repente e dirigi-me ao condutor pedindo-lhe que parasse mal lhe fosse possível.
Senti uma necessidade tremenda de me sentar imediatamente mal sai do autocarro, as pernas que tremiam, o coração que palpitava desenfreado e as lágrimas que começaram a correr rosto abaixo com muita intensidade.
Sentei-me num banco do jardim, cabeça inclinada sobre o peito, como para esconder o meu estado de quem passava e a sacola bem encostada contra o peito, como que para me apoiar.
De repente, vindo de não sei onde, um senhor sentou-se ao meu lado e numa voz calma que me inspirou automaticamente confiança perguntou-me “ o que foi??? , estás perdida??? “ Ao qual eu , por entre soluços, só acenei com a cabeça um sim.
O senhor primeiro acalmou-me, enxugou-me as lágrimas e só depois começou a perguntar-me onde morava. Eu senti que podia confiar nele, tinha um olhar bondoso e confiável, coisas que não são explicáveis. Sim, porque eu também fui ensinada a não falar com estranhos, o que nem sempre cumpri, felizmente neste caso.
As referências para a minha casa na altura eram fáceis, de maneira que foi fácil o senhor lavar-me a casa, aliás ouve uma altura em que eu já corria à frente dele, e ria já de alegria.
Não foi preciso tocar à campainha, a minha mãe que já estranhava o meu atraso estava à porta, apreensiva e foi com genuínas lágrimas de felicidade que agradeceu a boa acção do senhor. No meio de abraços e chamadas de atenção para que passasse a ter mais cuidado, aquele estranho desaparecera assim como aparecera, sem deixar rasto. Sei que tudo isto se passou há muitoooooos anos…mas sei também que nunca mais esquecerei o seu rosto bem como o seu gesto.
Fernanda Ferreira
Embora a viver na cidade, tinha acabado de chegar de férias no campo, da casa dos meus avós paternos, da Quinta dos Santo Amaro, onde ainda há pouco se tinha colhido o milho e feito o vinho, onde ainda havia peros a algumas maçãs autóctones da região, que se comem em pleno Inverno.
Eu sentia-me tão orgulhosa… tinha feito todo o meu percurso escolar do ensino primário, sempre como excelente aluna, estava finalmente agora na “Escola Grande”, no Ciclo Preparatório da Escola António Sérgio em Vila Nova de Gaia.
Após mais um dia de aulas, de alegria intensa com os meus colegas, de brincadeiras e de algum estudo, estava de volta a casa, sozinha, o que era só por si uma verdadeira aventura.
Já na paragem do autocarro, cantarolava baixinho uma canção popular da época. Sabia qual o autocarro a tomar e o número de cor. Lembro-me perfeitamente que nessa manhã, a minha mãe me fez mil recomendações “ Agora que já és uma mocinha grande, tem cuidado para não perderes o autocarro, não te distrais, podes perder-te…” talvez intuição de mãe!
Vi o autocarro chegar e entrei. Apesar de o condutor não ser o mesmo eu não achei nada de anormal, pensei “ bem, eles trocam de turnos, deve ter sido isso o que aconteceu”. No entanto, um pouco mais tarde, ao olhar mais atentamente através da janela a paisagem, apercebi-me que a mesma deixara de me ser familiar. Corei então intensamente ao sentir-me confusa e perdida.
Levantei-me de repente e dirigi-me ao condutor pedindo-lhe que parasse mal lhe fosse possível.
Senti uma necessidade tremenda de me sentar imediatamente mal sai do autocarro, as pernas que tremiam, o coração que palpitava desenfreado e as lágrimas que começaram a correr rosto abaixo com muita intensidade.
Sentei-me num banco do jardim, cabeça inclinada sobre o peito, como para esconder o meu estado de quem passava e a sacola bem encostada contra o peito, como que para me apoiar.
De repente, vindo de não sei onde, um senhor sentou-se ao meu lado e numa voz calma que me inspirou automaticamente confiança perguntou-me “ o que foi??? , estás perdida??? “ Ao qual eu , por entre soluços, só acenei com a cabeça um sim.
O senhor primeiro acalmou-me, enxugou-me as lágrimas e só depois começou a perguntar-me onde morava. Eu senti que podia confiar nele, tinha um olhar bondoso e confiável, coisas que não são explicáveis. Sim, porque eu também fui ensinada a não falar com estranhos, o que nem sempre cumpri, felizmente neste caso.
As referências para a minha casa na altura eram fáceis, de maneira que foi fácil o senhor lavar-me a casa, aliás ouve uma altura em que eu já corria à frente dele, e ria já de alegria.
Não foi preciso tocar à campainha, a minha mãe que já estranhava o meu atraso estava à porta, apreensiva e foi com genuínas lágrimas de felicidade que agradeceu a boa acção do senhor. No meio de abraços e chamadas de atenção para que passasse a ter mais cuidado, aquele estranho desaparecera assim como aparecera, sem deixar rasto. Sei que tudo isto se passou há muitoooooos anos…mas sei também que nunca mais esquecerei o seu rosto bem como o seu gesto.
Fernanda Ferreira
Nota: Foto da autora poucos anos mais tarde.
5 comentários:
Querida amiga,
esta é uma história linda de amor ao próximo e muito carinho.
Foi à muitos anos, mas ainda hoje há pessoas assim, como aquele senhor que com a sua sensibilidade e bondade estranhou a tristeza da menina, prontificando-se de imediato a ajudá-la.
O que torna tudo mais difícil hoje, é que, e com muita tristeza o digo, é demasiado perigoso confiar, daí não podermos de forma alguma deixar que os nossos filhos façam o percurso casa-escola e escola- casa sózinhos.
Beijinhos,
Ana Martins
Minhas Queridas Amigas,
Realmente aqueles tempos eram outros! Não, que não houvesse malandragem e quem também fizesse mal aos outros! Mas, apesar de tudo havia uma segurança que hoje em dia não há! Confundiram LIBERDADE com LIBERTINAGEM, acabaram-se os PRINCÍPIOS! VIVEMOS NUM "REGABOFE" DESENFREADO em que tudo é possível! Que pena isto ter acontecido!!!!! Vai ser muito difícil a segurança ser um factor de ALEGRIA para todos nós, particularmente para as crianças!
Gostava de ainda poder ver novamente as crianças andarem livremente, sem receios, mas duvido que tal venha a acontecer no meu tempo!
Beijinhos
Hoje acontecer isso, seria o milagre do anjo guia dos transviados, mas já é difícil acreditar em milagres.
O ar simpático, se é próprio dos bons, também é arma dos aldrabões, de vigaristas e de outros criminosos, que abusam dos inocentes.
Os perigos são tantos que não é fácil dar conselhos para não tornar as pessoas demasiado fechadas e insociáveis.
Abraços
João Soares
Queridos amigos,
Concordo 100% com as opiníões de todos. Infelizmente é verdade.
Nós vivemos outros tempos...mesmo assim eu deixei claramente implícito que o senhor que me acompanhou a casa não era um senhor qualquer...talvez fosse o meu anjo da guarda...
Já agora gostava de vos contar, que esta minha história me marcou tanto que, num dia de chuva tenebrosa, quando eu terminava a minha aula, um dos meus alunos e a avô estavam a caminho de casa. A senhora andava com imensa dificuldade e o Samuel só pensava em fugir daquela chuva.
Eu...naturalmente fui levá-los a casa.
Agora imaginem o que aconteceu a seguir...
Na aula seguinte, a professora coordenadora da Escola chamou-me ao gabinete dela, para me dizer que não podia/devia ter feito o que fiz...uma vez que os alunos que não têm familiares ou tenham outro tipo de problema têm transporte assegurado pela Câmara Municipal...que entendia perfeitamente a minha boa intenção, mas que não voltasse a fazê-lo.
O que eu também entendo...mas e agora??? já não se pode ser solidário??? ter coração???
Bjs.
NÁ
NÁ,
Peço desculpa mas essa professora-coordenadora deve pertencer à DREN e ou está a fazer-se a um tacho qualquer!
Aos filhos dela não fazia nem dizia isso. Cada vez mais prefiro os animais!!!!! Deus me livre de gente desta!!!! Não têm coração e têm maus figados...
FEZ A NÁ MUITO BEM DANDO AJUDA A QUEM PRECISAVA!
Estou consigo. Um grande Xi-coração
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