Apenas como prefácio, gostaria de dizer que na minha curta experiência como professora, identifiquei três casos graves, um dos quais aconteceu no recreio e teve como consequência a fractura de um braço de uma das minhas alunas. Brigas, ofensas, disseminação de comentários maldosos, agressões físicas e psicológicas, repressão. A escola pode ser palco de todos esses comportamentos, transformando a vida escolar de muitos alunos num verdadeiro inferno.
Maria, aluna da 2ª classe, de oito anos, faltava frequentemente à escola. Quando comparecia, chorava muito e não participava das aulas, alegava dores de cabeça e medo. Certo dia, alguns alunos decidiram procurar a professora da turma e contaram que a colega estava a sofrer de ameaças, do tipo ou dava as suas roupas, sapatos e dinheiro ou apanharia.
Rafael, da 4ª classe, foi vítima de alguns colegas por muito tempo, porque não gostava de futebol. Era ridicularizado constantemente, sendo chamado de gay nas aulas de educação física. Isso o ofendia sobremaneira, levando-o a pensamentos suicidas, mas antes queria encontrar uma arma e matar muitos dentro da escola.
Os casos descritos acima são reais e revelam a agressão sofrida por crianças dentro da escola, colhidos e narrados por Cleo Fante como parte de uma pesquisa sobre a violência nas escolas, publicados no seu livro “Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”. Esses e muitos outros casos de agressões e violências entre os alunos desde as séries iniciais até o ensino médio, demonstram uma realidade assustadora que muitos desconhecem, ou não percebem, trazendo à tona a discussão sobre o fenómeno bullying, o grande vilão de toda essa história. Mas o que é? Quais as causas? Como prevenir?
Significado do termo
A palavra bullying é derivada do verbo inglês bully que significa usar a superioridade física para intimidar alguém. Também adopta aspecto de adjectivo, referindo-se a “valentão”, “tirano”. Como verbo ou como adjectivo, a terminologia bullying tem sido adoptada em vários países como designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações interpessoais. As vítimas são os indivíduos considerados mais fracos e frágeis dessa relação, transformados em objecto de diversão e prazer por meio de “brincadeiras” maldosas e intimidadoras.
Desconhecimento e indiferença
Estudos indicam que as simples “brincadeirinhas de mau gosto” de antigamente, hoje denominadas bullying, podem revelar-se em uma acção muito séria. Causam desde simples problemas de aprendizagem até sérios transtornos de comportamento responsáveis por índices de suicídios e homicídios entre estudantes.
Mesmo sendo um fenómeno antigo, mantém ainda hoje um carácter oculto, pelo facto de as vítimas não terem coragem suficiente para uma possível denúncia. Isso contribui com o desconhecimento e a indiferença sobre o assunto por parte dos profissionais ligados à educação. Pode ser manifestado em qualquer lugar onde existam relações interpessoais.
Consequências marcantes
As consequências afectam todos, mas a vítima, principalmente a típica, é a mais prejudicada, pois poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte de sua vida. Desenvolve ou reforça atitude de insegurança e dificuldade relacional, tornando-se uma pessoa apática, retraída, indefesa aos ataques externos.
Muitas vezes, mesmo na vida adulta, é centro de gozações entre colegas de trabalho ou familiares. Apresenta um auto conceito de menos valia e considera-se inútil, descartável. Pode desencadear um quadro de neuroses, como a fobia social e, em casos mais graves, psicoses que, a depender da intensidade dos maus-tratos sofridos, tendem à depressão, ao suicídio e ao homicídio seguido ou não de suicídio.
Em relação ao agressor, reproduz em suas futuras relações, o modelo que sempre lhe trouxe “resultados”: o do mando obediência pela força e agressão. É fechado à afectividade e tende à delinquência e à criminalidade.
Isso, de certa maneira, afecta toda a sociedade. Seja como agressor, como vítima, ou até espectador, tais acções marcam, deixam cicatrizes imperceptíveis em curto prazo. Dependendo do nível e intensidade da experiência, causam frustrações e comportamentos desajustados gerando, até mesmo, atitudes sociopatas.
O papel da educação
A educação do jovem no século XXI tem-se tornado algo muito difícil, devido à ausência de modelos e de referenciais educacionais. Os pais de ontem, mostram-se perdidos na educação das crianças de hoje. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem para se dedicarem à educação dos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são entregues à própria sorte.
Os pais não conseguem educar seus filhos emocionalmente e não se sentem habilitados a resolver conflitos por meio do diálogo e da negociação de regras. Optam muitas vezes pela arbitrariedade do não ou pela permissividade do sim, não oferecendo nenhum referencial de convivência pautado no diálogo, na compreensão, na tolerância, no limite e no afecto.
A escola também se tem mostrado inabilitada a trabalhar com a afectividade. Os alunos mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a educação doméstica, seja por meio dos maus tratos, do conformismo, da exclusão ou da falta de limites revelados em suas relações interpessoais.
Os professores não conseguem detectar os problemas, e muitas vezes, também demonstram desgaste emocional com o resultado das várias situações próprias do seu dia sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos no ambiente profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns professores contribuem com o agravamento do quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou reagindo de forma agressiva ao comportamento indisciplinado de alguns alunos.
O que a família pode fazer?
Não há receita eficaz de como educar filhos, pois cada família é um mundo particular com características peculiares. Mas, apesar dessa constatação, não se pode cruzar os braços e deixar que as coisas aconteçam, sem que os educadores (primeiros responsáveis pela educação e orientação dos filhos e alunos) façam algo a respeito.
A educação pela e para a afectividade já é um bom começo. O exercício do afecto entre os membros de uma família é prática primeira de toda educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos necessários nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de autoprotecção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção em dose certa é elementar no processo evolutivo e formativo do ser humano.
O que a escola pode fazer?
Em relação à escola, em primeiro lugar, deve consciencializar-se de que esse conflito relacional já é considerado um problema de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais observador tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar. Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados.
Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo; evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo. Também se podem promover debates sobre as várias formas de violência, respeito mútuo e a afectividade tendo como foco as relações humanas.
Mas tais assuntos precisam fazer parte da rotina da escola como acções que se prendem com as atitudes e não apenas com conceitos. De nada valerá falar sobre a não-violência, se os próprios profissionais em educação usam de actos agressivos, verbais ou não, contra seus alunos. Ou seja, procurar evitar a velha política do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
Acções exemplares
Há diversos exemplos claros de acção eficiente contra o bullying no espaço escolar. Uma delas é o programa “Educar para a paz”, criado e desenvolvido por Cleo Fante e equipe, que trabalha com estratégias de intervenção e prevenção contra a violência na escola. Além disso, também existem sites sobre o assunto como que visam a alertar e informar profissionais e pais no combate ao bullying.
Destaca-se o trabalho da Associação Brasileira Multiprofissional de Protecção à Criança e ao Adolescente, com os sites: www.abrapia.org.br e www.bullying.com.br
Trabalho feito com base em estudos e análise de textos publicados na Net.
Fernanda Ferreira
Maria, aluna da 2ª classe, de oito anos, faltava frequentemente à escola. Quando comparecia, chorava muito e não participava das aulas, alegava dores de cabeça e medo. Certo dia, alguns alunos decidiram procurar a professora da turma e contaram que a colega estava a sofrer de ameaças, do tipo ou dava as suas roupas, sapatos e dinheiro ou apanharia.
Rafael, da 4ª classe, foi vítima de alguns colegas por muito tempo, porque não gostava de futebol. Era ridicularizado constantemente, sendo chamado de gay nas aulas de educação física. Isso o ofendia sobremaneira, levando-o a pensamentos suicidas, mas antes queria encontrar uma arma e matar muitos dentro da escola.
Os casos descritos acima são reais e revelam a agressão sofrida por crianças dentro da escola, colhidos e narrados por Cleo Fante como parte de uma pesquisa sobre a violência nas escolas, publicados no seu livro “Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”. Esses e muitos outros casos de agressões e violências entre os alunos desde as séries iniciais até o ensino médio, demonstram uma realidade assustadora que muitos desconhecem, ou não percebem, trazendo à tona a discussão sobre o fenómeno bullying, o grande vilão de toda essa história. Mas o que é? Quais as causas? Como prevenir?
Significado do termo
A palavra bullying é derivada do verbo inglês bully que significa usar a superioridade física para intimidar alguém. Também adopta aspecto de adjectivo, referindo-se a “valentão”, “tirano”. Como verbo ou como adjectivo, a terminologia bullying tem sido adoptada em vários países como designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo inerente às relações interpessoais. As vítimas são os indivíduos considerados mais fracos e frágeis dessa relação, transformados em objecto de diversão e prazer por meio de “brincadeiras” maldosas e intimidadoras.
Desconhecimento e indiferença
Estudos indicam que as simples “brincadeirinhas de mau gosto” de antigamente, hoje denominadas bullying, podem revelar-se em uma acção muito séria. Causam desde simples problemas de aprendizagem até sérios transtornos de comportamento responsáveis por índices de suicídios e homicídios entre estudantes.
Mesmo sendo um fenómeno antigo, mantém ainda hoje um carácter oculto, pelo facto de as vítimas não terem coragem suficiente para uma possível denúncia. Isso contribui com o desconhecimento e a indiferença sobre o assunto por parte dos profissionais ligados à educação. Pode ser manifestado em qualquer lugar onde existam relações interpessoais.
Consequências marcantes
As consequências afectam todos, mas a vítima, principalmente a típica, é a mais prejudicada, pois poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte de sua vida. Desenvolve ou reforça atitude de insegurança e dificuldade relacional, tornando-se uma pessoa apática, retraída, indefesa aos ataques externos.
Muitas vezes, mesmo na vida adulta, é centro de gozações entre colegas de trabalho ou familiares. Apresenta um auto conceito de menos valia e considera-se inútil, descartável. Pode desencadear um quadro de neuroses, como a fobia social e, em casos mais graves, psicoses que, a depender da intensidade dos maus-tratos sofridos, tendem à depressão, ao suicídio e ao homicídio seguido ou não de suicídio.
Em relação ao agressor, reproduz em suas futuras relações, o modelo que sempre lhe trouxe “resultados”: o do mando obediência pela força e agressão. É fechado à afectividade e tende à delinquência e à criminalidade.
Isso, de certa maneira, afecta toda a sociedade. Seja como agressor, como vítima, ou até espectador, tais acções marcam, deixam cicatrizes imperceptíveis em curto prazo. Dependendo do nível e intensidade da experiência, causam frustrações e comportamentos desajustados gerando, até mesmo, atitudes sociopatas.
O papel da educação
A educação do jovem no século XXI tem-se tornado algo muito difícil, devido à ausência de modelos e de referenciais educacionais. Os pais de ontem, mostram-se perdidos na educação das crianças de hoje. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem para se dedicarem à educação dos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são entregues à própria sorte.
Os pais não conseguem educar seus filhos emocionalmente e não se sentem habilitados a resolver conflitos por meio do diálogo e da negociação de regras. Optam muitas vezes pela arbitrariedade do não ou pela permissividade do sim, não oferecendo nenhum referencial de convivência pautado no diálogo, na compreensão, na tolerância, no limite e no afecto.
A escola também se tem mostrado inabilitada a trabalhar com a afectividade. Os alunos mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a educação doméstica, seja por meio dos maus tratos, do conformismo, da exclusão ou da falta de limites revelados em suas relações interpessoais.
Os professores não conseguem detectar os problemas, e muitas vezes, também demonstram desgaste emocional com o resultado das várias situações próprias do seu dia sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos no ambiente profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns professores contribuem com o agravamento do quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou reagindo de forma agressiva ao comportamento indisciplinado de alguns alunos.
O que a família pode fazer?
Não há receita eficaz de como educar filhos, pois cada família é um mundo particular com características peculiares. Mas, apesar dessa constatação, não se pode cruzar os braços e deixar que as coisas aconteçam, sem que os educadores (primeiros responsáveis pela educação e orientação dos filhos e alunos) façam algo a respeito.
A educação pela e para a afectividade já é um bom começo. O exercício do afecto entre os membros de uma família é prática primeira de toda educação estruturada, que tem no diálogo o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais elementos necessários nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de autoprotecção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção em dose certa é elementar no processo evolutivo e formativo do ser humano.
O que a escola pode fazer?
Em relação à escola, em primeiro lugar, deve consciencializar-se de que esse conflito relacional já é considerado um problema de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais observador tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar. Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados.
Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do recreio e intervalo; evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que seja o motivo. Também se podem promover debates sobre as várias formas de violência, respeito mútuo e a afectividade tendo como foco as relações humanas.
Mas tais assuntos precisam fazer parte da rotina da escola como acções que se prendem com as atitudes e não apenas com conceitos. De nada valerá falar sobre a não-violência, se os próprios profissionais em educação usam de actos agressivos, verbais ou não, contra seus alunos. Ou seja, procurar evitar a velha política do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
Acções exemplares
Há diversos exemplos claros de acção eficiente contra o bullying no espaço escolar. Uma delas é o programa “Educar para a paz”, criado e desenvolvido por Cleo Fante e equipe, que trabalha com estratégias de intervenção e prevenção contra a violência na escola. Além disso, também existem sites sobre o assunto como que visam a alertar e informar profissionais e pais no combate ao bullying.
Destaca-se o trabalho da Associação Brasileira Multiprofissional de Protecção à Criança e ao Adolescente, com os sites: www.abrapia.org.br e www.bullying.com.br
Trabalho feito com base em estudos e análise de textos publicados na Net.
Fernanda Ferreira
4 comentários:
Dados que exigem dos pais, das escolas e, acima de tudo, dos governantes, muita atenção para o que se passa com os jovens.
Um abraço
João Soares
Amigo João,
Este tema foi abordado com a intenção clara de alertar todos, todos sem excepção, para um facto real e cada vez mais preocupante.
As crianças/ adolescentes podem ser cruéis entre elas, todos nós fomos vítimas de alguma forma de crueldade, mas nada como nos dias de hoje...é assustador.
Beijinho,
Fernanda
Cara NÁ,
Artigo que revela uma profunda análise ao prloblema da violência nas Escolas. Já difundi por pais que estão muito interessados neste tipo de assuntos. O Ministério da Educaçaõ deviatomar conhecimento destes trabalhos para melhor se aperceber do que se passa e poder minimizar ou mesmo acabar com a dita violência. óptimo serviço público que se está a desenvolver neste blogue. Parabéns.
Amigo Luís,
Infelizmente há muita gente que nem sonha do que eu estive a falar.
Para esses em especial, peço encarecidamente que estejam atentos aos sinais, eles são evidentes se estivermos atentos.
Quando eu disse ao meu filho que ia dar aulas, ele disse-me "Mãe, não vás...nem sabes o que te espera", mas eu retorqui "Pedro, vou dar aulas a crianças inocentes, não a adolescentes já carregados de vícios"( que me desculpem os adolescentes, mas esta é a imagem que infelizmente tenho, anda hoje, de digamos 75% de todos vós).
Depois percebi a dura realidade, não são infelizmente só os adolescentes...
Lembrei-me agora da Iara, da Escola de Gondarém, menina linda, educada com esmero e inteligente...
a mãe veio falar comigo um dia, estava preocupada porque a filha inventava desculpas para não participar na minha aula.
Passei a menina para a minha secretária e passe a dar a aula de pé, aliás era meu hábito.
Passados dois dias ela contou-me, agarrou-se ao meu pescoço e beijou-me, depois contou-me que na aula de Inglês onde a turma era de 25 alunos, onde não haviam condições nem para instalar os alunos, ela era pontapeada por debaixo das carteiras dispostas em forme de L para que coubessem todos os alunos da 3ª e 4ª classe e se falasse levava mais cá fora.
Felizmente a mãe estava atenta e alertou-me, ambas resolvemos o problema, mas e os outros...???
Pensem bem neste problema, a violência está instalada nas Escolas...estejam atentos.
Abraços
Ná
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