03/07/2009

Manuel Pinho e a mitologia egípcia

Depois de publicar o post Manuel Pinho o rufião do bairro , encontrei o artigo que transcrevo, por apreciar a elevação cultural com que o assunto é abordado a qual se enquadra bem no Sempre Jovens.

Eis o artigo:

O aparte o ministro e os cornos
DN. 090703. por Ferreira Fernandes

Não é verdade que o incidente tenha sido com o ministro da Economia. Foi com o ministro da Economia e da Inovação. O pormenor não é para desprezar.

Foi nessa qualidade de ministro da Inovação que lhe deu, a Manuel Pinho, para se expressar de forma nova. Ele, que tem tentado manter em funcionamento as minas de Aljustrel, custou-lhe ouvir um aparte jocoso do deputado comunista Bernardino Soares.

Daí Pinho ter feito um gesto lembrando Ápis. O boi Ápis era adorado no Antigo Egipto e era símbolo da fecundidade. Provavelmente o ministro queria dizer, com o seu gesto, que ele, Manuel Pinho, fecundou, fez, arranjou trabalho para os mineiros.

Mas o país, pouco dado à mitologia egípcia, não entendeu. Não entendeu apesar de o ministro ter feito corninhos que mais pareciam antenas da Abelha Maia - numa alusão evidente ao touro Ápis, pois ápis também quer dizer abelha.

Ora é essa frouxidão na linguagem gestual - esses cornos parecidos com antenas - que eu mais critico em Manuel Pinho. Mais valia ele ter feito um grande manguito ao aparte jocoso. No Parlamento há certas coisas que não se fazem, mas, em fazendo, que seja com garra. E, depois, claro, pedia demissão.

15 comentários:

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido amigo João,

Quando ouvi e vi a notícia hoje de manhã na TV fiquei(apesar de tudo...porque nós já sabemos quem temos)aparvalhada, estupefacta...

O caso não é grave...é como diz o autor deste magnífico texto, um simples mal entendido, coitado do ministro, já agora não se pode expressar??? seja lá como for, afinal há ou não há democracia???
Se tivesse feitos "corninhos" e "manguitos" ter-se-ia expressado muito melhor. Afinal nem todos têm o dom da palavra.
Simplesmente ridículo...onde já se viu???

Beijinhos

A. João Soares disse...

Querida Amiga Ná,
Obrigado pelo seu comentário na hora. As suas palavras estão muito ajustadas ao post de que inseri um link, como se depreende do próprio título.
Falta de respeito pelo Estado, pela AR., por eles próprios e, o que é mais grave, por todos os telespectadores que, desta forma, deixam de ter motivos para respeitarem os seus representantes.
Veja o post Manuel Pinho o rufião do bairro
e depois pense se tenho ou não razão para tirar a conclusão final.

Beijos
João

Maria Letr@ disse...

Claro que tem razão, amigo João Soares. Estamos a assistir a uma série de vergonhas que deixam os cidadãos absolutamente estupefactos. O problema é que cada vez ficamos menos estupefactos e mais revoltados. É disso que eu tenho medo.
Um abraço.
Maria Letra

A. João Soares disse...

Querida Amiga Maria Letra,

Participo do seu receio quanto ao futuro, embora procure alimentar uma esperança de que de entre os agora ainda crianças surja uma elite com capacidade de organização e de concretização que consiga dar um novo rumo à humanidade, sem grandes sofrimentos. Toda a mudança obriga a sacrifícios de hábitos e de rotinas, bem como de alteração da escala de valores.
Mas, realmente, a humanidade em geral, está a precisar de uma correcção da rota para evitar o abismo irremediável.
Esta crise deu uma oportunidade para boas mudanças, mas os políticos, inábeis focaram a atenção na recuperação do que estava antes, e foi isso que originou a crise, pelo que nada melhora.
O mundo vai sofrer profundas alterações que, provavelmente, serão violentas. A hegemonia irá deixar de pertencer à América e passar para o Extremo Oriente (China). A Europa, que durante séculos foi o centro da humanidade, vai perder essa regalia, esmagada por imigrantes, na maior parte vindos do Norte de África onde não há ocupação para a a população crescente. Os muçulmanos irão criar agitação com o Ocidente, embora não tenham organização para dominar a civilização, mas o petróleo continuará a dar-lhes alguma força por mais uns anos.
Enfim, este esboço de tópicos já é bastante preocupante e devia estimular os políticos a definirem linhas estratégicas para fazer face a um futuro mais pacífico e de convivência harmoniosa entre todos.
Não haverá mais lugar para «colonialismos» ou hegemonias incontestadas.

Beijos
João

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido Amigo João,

Agora disse TUDO, clara e nitidamente, não podia ter feito melhor análise da situação actual, da que infelizmente aí vem e das reviravoltas/revoltas que surgirão.

Tenhamos esperança nas gerações vindouras...a nossa está demasiado apática, resignada, a dos nossos filhos condenada por natureza.

Não posso estar mais de acordo consigo...o que neste caso lamento profundamente.

Beijinhos

A. João Soares disse...

Cara Amiga Ná,

Não disse tudo. Nem sou o Nostradamus. Mas o que disse resulta da observação do que se passa e na dedução do que se poderá passar, em presença dos sinais existentes.
A nossa geração já fez o que fez (nem sempre bem), e não pode fazer mais. O poder está em pessoas com menos de 40 e esses já estão viciados nas maleitas existentes, pelo que a esperança tem que residir nos ainda crianças, embora estejam a ser orientados para um rumo errado. Mas terá de ser uma elite de entre eles que terá de dar a volta ao texto.
A minha esperança está aí, embora já nada beneficie com a mudança, mas penso na humanidade como se por cá continuasse sempre!

Beijos
João

Pedro Ferreira disse...

Caro Sr. João Soares,

Na condição de Português que vive há cerca de doze anos na Suíça, sinto muitas vezes vergonha de dizer que o sou.
Triste não é???!!!
Frequento cafés e restaurantes Portugueses, onde tenho laços de amizade, e hoje toda a gente fazia chacota do acontecido.
Há por aqui muita gente que pensa que Portugal é um país onde não há princípios, educação, regras, e quando nos insurgimos para defender a nossa Pátria temos muito pouco por onde se pegar.
Que vergonha!!!

Cumprimentos,
Pedro Ferreira

A. João Soares disse...

Caro Pedro,

Agradeço a sua visita e o facto de a família Ferreira aproveitar este espaço para se encontrar e evidenciar o carinho que une o trio maravilhosos que a constitui.

Infelizmente, «errar é humano» e não há nações perfeitas, excelentes. Não somos os melhores, mas também estamos longe de sermos os piores!
A imagem de Portugal é o somatório de cada um dos portugueses. E, no estrangeiro, a imagem que o mundo faz deste rectângulo resulta dos comportamentos dos nossos emigrantes e turistas que levam um pouco de Portugal lá para fora.
As notícias que chegam podem ser, muitas vezes, para rir ou chorar, mas o que os estrangeiros vêm é os portugueses que vivem e trabalham na sua proximidade.
Cada um de nós, dentro ou fora do rectângulo, deve usar do maior civismo em todos os actos da vida.
Este blogue, com a sua dedicada equipa de autores, tem servido de estímulo para melhorar a vida e os comportamentos dos visitantes. Mas o resultado depende da vontade de cada um.

Abraço
João

Maria Letr@ disse...

Depois de ter "ingerido", após o meu pequeno almoço, este "suminho" de comentários tão bem feito (como sempre!), pelo amigo João Soares, eu não tenho dúvida de que há mais do que razão para este meu atordoamento, esta minha confusão motivada por uma série de pensamentos que me deixam, no mínimo, nesse estado.
Houve, entre nós, colaboradores, alguém que tivesse lido (esquecendo a política seguida pelo seu autor) o livro "Quando a China Acordar o Mundo Tremerá"? Não será mesmo o que está a acontecer? Atenção: não misturemos opções políticas neste assunto. Eu gosto de comentar factos, não políticas.
E, quando o João fala da sua esperança na geração que se seguirá, eu gostava de acreditar fosse assim, mas como sou leal a mim mesma, digo-lhe que não acredito. Estou num país onde vejo tanta coisa ... Estando provado que uma elevadíssima percentagem de jovens fuma a chamada "erva" e que está provado, também, que a mesma provoca paranóias e tendência para a violência, será que podemos acreditar que as coisas vão melhorar? Haveria TANTO para escrever aqui ... Não posso. O espaço é pequeno e eu não quero ser demasiado longa.
Um abraço, amigo João e obrigada por ter uma mente tão rica. Quem me dera estar ao seu nível no que se refere ao conhecimento que tem de tanta coisa!
Maria Letra

Luís disse...

Queridos Amigos,
Infelizmente também tenho muitas dúvidas que as próximas gerações consigam inverter as situações que ora vivemos e porquê? Porque, ainda que apareça gente nova com muita qualidade intelectual e cultural, eles são uma minoria neste mundo acéfalo em que vivemos! Se não há princípios éticos, se os valores que nos ensinaram se perderam e não estão a ser transmitidos aos mais novos como é que podemos acreditar que as novas gerações poderão dar lições de humanismo, de solidariedade num futuro ainda que distante. Não acredito e gostava de estar errado mas João acho que estás em crer que o que gostarías que acontecesse pensas que se verificará! Oxalá esteja a ser pessimista eu que sempre me pautei por realista e de certo modo optimista! O que nos tem vindo a acontecer no mundo últimamente é para nos aterrorizar e não pretendo ser um novo "Nostradamos" com as suas profecias. Mas temo que o homem está mesmo destruindo este mundo! Talvez que depois venha a surgir um "Novo Mundo" purificado e sublimado com outros seres para bem da Humanidade no Futuro!
Talvez tenha acordado em escuridão e não consiga ver a Luz que nesta manhã desponta mas ... é o que penso e que ao ler o comentário da Maria Letra me ocorreu dizer.
Que esteja errado e que as gerações vindouras sejam como o João e todos nós gostaríamos que fossem.
Beijinhos e abraços muito amigos

A. João Soares disse...

Querida Amiga Mizita,

A minha esperança não é em interesse pessoal, porque o prazo que prevejo, já não me trará benefícios pessoais. Penso na humanidade como se estivesse a olhar de um outro planeta e, dessa forma, procuro não me deixar prender por casos isolados, mas sim por tendências gerais ou erros com efeitos alargados que ultrapassam a área local.

Por outro lado, a esperança é o antídoto da depressão e da angústia, uma espécie de higiene mental que ajuda a viver em equilíbrio.

Mas a minha utopia tem bases reais. A Natureza funciona segundo o movimento sinusoidal com descidas e subidas, altos e baixos. As estações do ano são um belo exemplo disso. Na primavera nascem as folhas às árvores, depois as flores e os frutos e, no outono amarelecem e começam a cair, para no inverno ficarem nuas. Depois tudo recomeça.

O nosso planeta teve épocas glaciares, diluvianas, etc. Agora estamos em época seca e quente. A humanidade também tem passado por fases e não é necessário recuarmos à pré-história, pois basta irmos à época dos descobrimentos em que Portugal foi dono dos mares, sendo depois substituído pelos ingleses, e em parte pelos holandeses, franceses, belgas e os espanhóis com quem se partilhou a América do Sul. Todos recolheram ao espaço inicial deixando as colónias em liberdade.

A China foi o Império do Meio, com todo o mundo à sua volta. Depois a Europa liderou o chamado mundo ocidental, «cargo» que passou a ser desempenhado pela América do Norte.

Nada permanece imutável e há na Natureza um regresso periódico a situações anteriores. Como o homem é o único ser vivo que constrói ferramentas e aperfeiçoa tecnologias não deixará que algo venha a ser igual a ontem, mas isso nem sempre é vantajoso, porque as próprias tecnologias começam a dificultar ser controladas pelo homem.

A propósito da queda do avião em viagem entre Rio de Janeiro e Paris houve técnicos que afirmavam que o sistema do avião é de tal forma perfeito que se auto-repara sem necessidade de intervenção do piloto. Mas se este vir que a coisa não corre bem, tem dificuldade, muitas vezes impossibilidade, de intervir. Passamos a ser sequestrados, vítimas indefesas da máquina.

Mas, quanto a uma evolução da vida social e política, a esperança não pode ser alimentada pela observação da generalidade dos jovens que têm crescido no ambiente doentio que lhes foi legado pela geração anterior; temos que esperar que, de entre eles, surja uma elite de «génios» que usem o raciocínio, concluam que tudo está errado e que é indispensável regenerar o sistema para que o Homem continue na Terra, e que tenham coragem de organizar e levar a cabo a mudança. A revolução francesa surgiu assim, a independência americana também.

O ideal seria que tudo se conseguisse com as palavras dos filósofos sem violência, mas, provavelmente, terá de haver violência para desalojar os actuais donos da humanidade (banqueiros, multinacionais e outros capitalistas exploradores que estiveram na origem da actual crise financeira global). Mas a violência por vezes traz benefício, porque é sucedida de clarificação e concentração de esforços para objectivos claros. A Alemanha depois de ter ficado destruída pela II GM, foi bem sucedida no rápido trabalho de reconstrução e tornou-se depressa na locomotiva da Europa. Pelo contrário Portugal, com os seus brandos costumes, não teve violência mas, em vez de reconstrução da Democracia, gerou o PREC que ainda se traduz no caos em que vegetamos.

Enfim, irá haver mudanças, sem sabermos quando nem como, mas a esperança em dias melhores para os nossos netos não deve desaparecer!!!

Beijos
João

A. João Soares disse...

Caro Luís,
Os nossos comentários mais recentes foram elaborados simultaneamente e só me apercebi do teu depois de ter publicado o meu.
Compreendo o teu raciocínio, mas acho-o desadequado ao conceito de revolução. Nenhuma revolução foi feita com o consentimento prévio da maioria.
Afonso Henrique não se tornou independente de Leão ou de Castela, por vontade colaborante da maioria do condado portucalense!!!
Se surgir um pastor que saiba conduzir o rebanho para um pasto melhor, as ovelhas seguem-no, mesmo que uma ou outra se tresmalhe.
O teu pensamento conduziria a um suicídio colectivo. Tu não acreditas nisso. Aquela foto de avós babados mostra que os avós têm esperança de uma vida agradável para o seu novo rebento. Com o teu pensamento aqui exposto, os avós teriam eliminado o neto antes que o desgraçado viesse a sofrer as agruras que a sociedade lhe imporá. Não és assim tão pessimista, não acreditas no que escreveste e partilhas da minha esperança. A esperança é a última coisa a morrer. Mas é preciso alimentá-la. E é isso que estou aqui a fazer, procurando contribuir com a minha quota-parte para uma humanidade mais feliz e próspera, apesar das infantilidades de políticos sem formação ética.

Abraço
João

Maria Letr@ disse...

Comentar para quê? Está bem clara a posiçao e a sábia análise do João, uma pessoa muito lúcida, inteligente, simultaneamente realista e inconformista, que não deixa de contribuir e lutar - como todos temos o dever de fazer - para que a construção dum futuro melhor, através do nosso exemplo de vida e de alertas sôbre o que está mal, deixe de ser uma utopia para passar a uma realidade que TODOS deveríamos exigir enquanto vivos.
Devo confessar-lhe, amigo João, que sou invadida, por vezes, duma incontrolável saturação de temas políticos e tendo a fugir deles. Incorrecto que seja, é uma realidade. Ficarei sujeita a críticas, eu sei, por dizer esta realidade, mas João, eu estou tão cheia. Desde o 25 de Abril, como marco da possibilidade de podermos dizer o que pensamos, que venho enfrentando constantes "quedas" de precipícios abertos por políticos corruptos. Sou uma das muitas pessoas que têm passado as suas vidas a pregar aos peixinhos e parece-me que a poluição, cada vez maior, está a deixar por aí tanto céguinho ... que já nem sei se a cegueira deles passou a crónica. Gostaria que me passase uma parte dessa sua incansável vontade de lutar.
Um abração.
Maria Letra

Luis disse...

Caríssimos,
Depois do que foi dito do anterior fico à espera do "PASTOR" e que venha com um longo cajado para, surzindo nesta "malta", possa pôr isto direitinho... Só depois acredito na Democracia!
Um abração muito amigo a todos cheio de esperança nos nossos netos e bisnetos.

A. João Soares disse...

Querida Mizita e caro Luís,
Agradeço as vossas palavras. Estas e as anteriores, vieram estimular-me a aproveitar todas as minhas respostas aos comentários para elaborar o post Que futuro teremos?, que até este momento, teve muita aceitação «no mercado!!! Bateu o record de comentários no espaço do meu blog, muito escondido das vistas de visitantes apressados.

Abraços

João