Há já uns bons anos atrás, mais precisamente em finais de Maio de 1969, encontrávamo-nos atracados na base naval de Norfolk, estado da Virgínia, USA, na fase final de uma operação destinada a instalar a bordo diverso equipamento electrónico.
Dado que já lá estávamos há quase dois meses, a maioria das provisões trazidas de Lisboa tinham esgotado, tendo o colega encarregado dos abastecimentos de procurar no mercado local aquilo que nos fazia falta. Numa dessas ocasiões dirigiu-se ao talho, situado dentro da base, levando com ele o cozinheiro. A ideia era comprar algo de diferente daquilo que tínhamos vindo a comer nas últimas semanas, e de que a maioria já se sentia enjoada - lombinhos de bacalhau fresco!
Dentro do estabelecimento, no Inglês possível, ele pediu uns quantos quilos (a quantidade, não sei dizer) de pezinhos de porco. O talhante olhou para ele com ar incrédulo, de espanto, e pediu que ele repetisse o pedido. Soletrando as palavras, com muito cuidado e devagarinho para não atropelar a gramática, ele fez-lhe a vontade, mas tudo o que com isso conseguiu foi que o sujeito mostrasse um ar ainda mais incrédulo, de quem não podia acreditar no que estava a ouvir, e não se conteve. “Mas vocês têm muitos cães a bordo? ”, perguntou.
Desta feita, foi o nosso colega a fazer uma cara de espanto, a ficar de boca aberta, mas logo recuperando ao perceber o alcance da pergunta. “Não, nós não temos nenhum cão a bordo; a carne é para a guarnição, e nós somos cento e sessenta”. E a curiosidade do magarefe pareceu quedar-se por ali - não fez mais perguntas; estava esclarecido quanto ao que aqueles “estranhos” clientes dele pretendiam, e isso era certamente tudo o que lhe interessava naquele momento saber.
Mas, lá dentro daquela cabecinha, certamente estaria ele dando voltas para tentar perceber os exóticos hábitos alimentares daquela gente que tinha na frente - como é que seres humanos podiam comer aquilo? Pezinhos de porco, tanto quanto ele sabia, era comida para cães lá na terra dele!
E, tal como previsto, lá nos deliciámos com uma rica feijoada, no dia seguinte, ao almoço!
Vitor Chuva
21-07-2009
Fernanda Ferreira
7 comentários:
Amigo Victor Chuva,
Pézinhos de Porco, depois dum delicioso lanche de ananás às rodelas, de soja Alpro com morangos e um pratinho de tapioca, não me caíu muito bem. Fiquei assim como que sem apetite para o jantar... E como não como carne de porco, não por imposição moral de qualquer tendência religiosa, mas porque não a aprecio, vou deixar este texto para os carnívoros.
Contudo, gostaria de deixar aqui o meu comentário sôbre a descrição, que está muito bem feita. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Um abraço.
Maria Letra
Amigo Vitor,
Eu, contrariamente à nossa amiga Mizita, e não tenho nada contra a dieta que ela faz, pelo contrário, eu seria seguramente mais saudável se resistisse a uma boa comidinha...felizmente não somos ambos nada gordos, o que significa que não cometemos exageros ou então temos um metabolismo fabuloso.
Pois eu Vitor, adoro uns pezinhos de porco, em feijoada à transmontana, a minha preferida, com grelos, ou como está aí apresentada na foto. com feijão preto...delicioso " a true delicacy".
O resto já sabes, estou-me sempre e repetir, és um narrador nato.
Parabéns.
Ná
Amigos,
Quem ficou com água na boca foi a minha mulher que adora este tipo de comida.Eu também gosto mas tenho de me acautelar para não engordar, coisa que ela não precisa pois por muito que coma continua magrinha... Dizem as más linguas que deve ser da "ruindade"... mas isso é só conversa pois ela não é nada assim! Então agora com o neto é só "melices"!
Beijinhos.
Parabéns pelo nétinho, Luís.
Ná, gostaria de prestar aqui um esclarecimento ao Victor Chuva e a Si, para não ser mal interpretada. Eu 'não aprecio' carne de porco e NUNCA entra em minha casa, desde que não tenha visitas que me peçam para cozinhar, por exemplo, a Feijoada à Transmontana que dizem eu fazer como pouca gente a faz (não acredito, mas está bem). Ora bem, não gostando de carne de porco, pelo seu sabor e, além disso, porque penso sempre nela estufada, ou na orelheira, na farinheira, etc., eu adoro chouriça. Eu sei, eu sei que não devia e também não a compro, mas adoro-a grelhada em alcool, no pão, no cozido à Portuguesa, etc. Eu não 'aprecio' carne de espécie nenhuma nem a compro. A única que vou comendo é a de galinha, de frango ou de peru. Mas não sou fanática de nada. Faço o possível por cuidar da minha saúde, facto que herdei da minha Mãe que, como disse, tem 93 anos quase e sai todos os dias. Pretendo, pelo menos, chegar a bisavó, pois adoro os meus nétinhos e a vida. Se recebo visitas, então acompanho-os no que fizer. Não faço nada especial para mim.
Um abraço.
Maria Letra
Ná, mais um pormenor: pézinhos de porco, NÂO, isso não! Foi por causa dos pézinhos de porco que reaji assim ao texto.
Beijinhos.
Maria Letra
Mizita...se eu lhe contasse o que já me aconteceu à custa dos pezinhos e das orelhas e outras partes do porco que os portugueses no geral comem e gostam, ficávamos aqui horas. Sobretudo com britânicos.
No geral, para resumir, as pessoas ganham hábitos alimentares que passam a fazer parte da sua cultura, devemos estar de acordo!!!
Amiga, de todo o porco, Pezinhos SIM, de coentrada com migas à alentejana, no Cozido à Portuguesa, etc.
Contudo respeito que não goste.
Faço esses pratos mais calóricos somente no Inverno.
Beijinhos,
Fernanda Ferreira
Olá !
A todos os que se pronunciaram sobre este "pertinente" tema gastronómico/cultural, gostando, ou nem por isso, da ementa proposta, o meu obrigado.
Quanto ao meu gosto pessoal...esse facilmente se deixa adivinhar p'lo conteúdo do texto...
Um abraço.
Vitor Chuva.
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