03/07/2009
Sócrates "O Ditador"
Único senhor a bordo tem um mestre e uma inspiração.
Com Guterres, o primeiro-ministro aprendeu a ambição pessoal, mas, contra ele, percebeu que a indecisão pode ser fatal, ao ponto de, com zelo, se exceder.
Prefere decidir mal, mas rapidamente, do que adiar para estudar.
Em Cavaco, colheu o desdém pelo seu partido.
Com os dois e com a sua própria intuição autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.
Onde estão os políticos socialistas ?
Aqueles que conhecemos, cujas ideias pesaram alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado?
Uns saneados, outros afastados.
Uns reformaram-se da política, outros foram encostados.
Uns foram promovidos ao céu, outros mudaram de profissão.
Uns foram viajar, outros ganhar dinheiro.
Uns desapareceram sem deixar vestígios, outros estão empregados nas empresas que dependem do Governo.
Manuel Alegre resiste, mas já não conta.
Medeiros Ferreira ensina e escreve.
Jaime Gama preside sem poderes.
João Cravinho emigrou.
Jorge Coelho está a milhas de distância e vai dizendo, sem convicção, que o socialismo ainda existe.
António Vitorino, eterno desejado, exerce a sua profissão.
Almeida Santos justifica tudo.
Freitas do Amaral, "ofereceu-se, vendeu-se" e reformou-se !
Alberto Martins apagou-se.
Mário Soares ocupa-se da globalização.
Carlos César limitou-se definitivamente aos Açores.
João Soares espera.
Helena Roseta foi à sua vida independente.
Os grandes autarcas do partido estão reduzidos à insignificância.
O Grupo Parlamentar parece um jardim-escola sedado.
Os sindicalistas quase não existem.
O actual pensamento dos socialistas resume-se a uma lengalenga pragmática, justificativa e repetitiva sobre a inevitabilidade do governo e da luta contra o défice.
O ideário contemporâneo dos socialistas portugueses é mais silencioso do que a meditação budista.
Ainda por cima, Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos políticos.
Sem hesitar, apanhou a onda.
Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam Sócrates.
Não mais do que picadas de mosquito. As gafes entretêm a opinião, mobilizam a imprensa, distraem a oposição e ocupam o Parlamento.
Mas nada de essencial está em causa.
Os disparates de Manuel Pinho fazem rir toda a gente.
As tontarias e a prestidigitação estatística de Mário Lino é pura diversão.
Não se pense que a irrelevância da maior parte dos ministros, que nada têm a dizer para além dos seus assuntos técnicos, perturba o primeiro-ministro.
É assim que ele os quer, como se fossem directores-gerais.
Só o problema da Universidade Independente e dos seus diplomas o incomodou realmente.
Mas tratava-se, politicamente, de uma questão menor.
Percebeu que as suas fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo. Mas nada de semelhante se repetirá.
O estilo de Sócrates consolida-se. Autoritário, Crispado, Despótico, Irritado, Enervado, Detestando ser contrariado.
Não admite perguntas que não estavam previstas ou antes combinadas.
Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber.
Tem os seus sermões preparados todos os dias.
Só ele faz política, ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de propaganda e de encenação.
O verdadeiro Sócrates está presente nos novos bilhetes de identidade, nas tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada de Mário Lino, na concentração das polícias sob seu mando e no processo que o Ministério da Educação abriu contra um funcionário que se exprimiu em privado.
O estilo de Sócrates está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e apreensão.
A austeridade administrativa e orçamental ameaça a tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser onerosa.
A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação.
As empresas conhecem as iras do Governo e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos fundos e às autorizações.
Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição à altura, Sócrates trata de si.
Rodeado de adjuntos dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos, Sócrates governa.
Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos dirigentes do Estado.
Nomeia e saneia a bel-prazer.
Há quem diga que o vamos ter durante mais uns anos.
É possível.
Mas não é boa notícia. É sinal da impotência da oposição. De incompetência da sociedade. De fraqueza das organizações. E da falta de carinho dos portugueses pela liberdade.
Por António Barreto
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4 comentários:
Querido amigo Luís,
Belíssimo texto. Nós sabemos que esse imbecil e a sua corja, mesmo os não conformados, os afastados e até os não resignados pouco ou nada podem fazer.
Sejamos realistas...o povo é quem mais ordena, o povo sabe que as coisas não estão bem, mas nós sabemos o que vai acontecer, o poleiro vai ser dividido entre o PS e o PSD, fica tudo mais ou menos na mesma...e pronto, eles ficam a rir-se e a banquetear-se com o que nos roubam. Ponto final.
Estes textos têm um interesse relativo, na minha humilde visão. Se pelo menos se apontassem soluções, algumas pessoas seriam elucidados e teriam uma ideia do que fazer.Eu nunca escreverei, nem transcreverei nenhum texto deste género... não critico que o faça, mas sinto que sem dar um parecer de pouco ou nada serve.
Peço desculpa pela franqueza e não me leve a mal, sabe bem quanto gosto de si.
Beijinhos
Ná
Amigo Luís,
Peço desculpa se vou magoá-lo, mas eu tenho de comentar sendo fiel ao que sinto depois de ter lido este texto, que não é comentado por si.
Independentemente do facto REAL de que os elementos do partido socialista, no governo, não têm revelado saberem governar a favor do povo, este texto parece-me inapropriado neste blogue, porque é da autoria dum político e não dum cidadão que reclama a si, através deste meio de comunicação com os outros, o seu direito de expressar a sua revolta. Era isso que eu preferia ter lido. É verdade que os portugueses estão "profundamente" sacrificados por uma série de acontecimentos que, ao invés de terem trazido melhorias à vida diária do cidadão, conforme prometido em discursos duma eloquência convincente, por Sócrates, estão a deixá-los num autêntico sofrimento que está a desencadear autênticos dramas familiares.
Fui sincera, uma vez mais. Espero não ter ferido nem sair ferida porque o Luís é, EM VERDADE, uma pessoa que dá ao blogue um contributo importantíssimo quando faz 'postagens' com o seu cunho pessoal. Um comentário diferente deste que acabo de fazer, iria revelar-se em perfeita contradição com o que escrevi no meu "E:mail aberto a todos".
Tal como a Ná e o meu filho Miguel, admiro-o muito e já lho disse antes, em e:mail pessoal. Estou a referir-me a "este" post, não a outros quaisquer que tenha escrito.
Um abraço.
Maria Letra
Queridas Amigas,
Antes de tudo as minhas desculpas pois compreendo bem que o artigo além de longo não tem nada de meu. Mas gostava de me explicar e assim sendo passo a dizer:
Antes de o colocar procurei fazer uma súmula do mesmo mas pensei que tal acto lhe pudesse tirar a força ou até deturpá-lo no seu conteudo.
Assim preferi colocá-lo e comentá-lo de seguida pois quando o coloquei julgava ter tempo para o fazer o que na altura acabou por não acontecer por motivos de afazeres pessoais.
Agora que me expliquei penso estarei mais desculpado!
Quanto ao teor deste post vem ao encontro de outros comentaristas politicos que têm alertado para a forma como o PM se tem manifestado à revelia de uma política que sirva o povo português. Toda a sua atitude vai no sentido de se servir e aos seus apaniguados com total desprezo por quem o elegeu levado pelas suas palavras que não passaram de loas tipo banha de cobra para inglês ver.
O alerta aqui dado por António Barreto vem no seguimento de outros feitos anteriormente aquando do afastamento de António Costa para a Câmara de Lisboa por este lhe estar a fazer sombra no PS.
Sócrates é na realidade perigoso pela sua ambição desmedida acrescida pela sua incapacidade de estudar os assuntos. Esta incapacidade deve-se ou a falta de conhecimentos para a sua resoluçao ou pior ainda se fôr pelo facto de não estar interessado em resolvê-los por isso não lhe vir a trazer benefícios pessoais.
Portugal está de facto numa encruzilhada que urge ver resolvida para bem de todos nós. Começa-se a sentir uma revolta no povo que pode vir a ser perigoso pelas consequências que daí podem advir.
Mais uma vez compreendo as vossas boas palavras que em nada me feriram pelas razões que lhes assistiram.
Um grande XI e muitos beijinhos
Compreendi, na íntegra, o que relatou. O "meu" comentário, como poderá perceber, não foi para o conteúdo da mensagem, mas sim para o facto de António Barreto não ser colaborador deste blogue e, portanto, um post em seu nome não bastará. Quanto ao Luís, eu pelo menos e acreditando que não só, queremos é que continue a escrever. Mas o meu comentário resume-se ao que disse e nada mais. Gosto de comentar sendo verdadeira.
Um beijinho, Luís.
Maria Letra
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