Desembarcar com o comboio ainda em movimento era prática corrente para uma larga maioria de estudantes; ganhava-se tempo na passagem pelo porteiro … e também dava para mostrar as habilidades de que cada um era capaz!
Naquele dia, numa das mãos segurando a pasta com os livros, na outra um cesto de verga, achei que estava na altura de saltar. O chão, a grande velocidade, fugiu-me debaixo dos pés; acabei esparramado sobre a plataforma, que nem uma raia; pasta para um lado, cesto para outro. Deste último escorria um líquido espesso , e logo ali percebi que tinha acabado de ficar sem almoço.
Mas, o pior de tudo aquilo foi aquela multidão, com os olhos cravados em mim … a gozar o espectáculo! Tão depressa quanto pude tratei de pôr-me de pé, e à pressa saí da estação; aparentemente não estava magoado … excepto no meu amor- próprio, o qual ficou profundamente machucado!
Vitor Chuva
21-07-2009
Fernanda Ferreira
4 comentários:
Victor Chuva,
Não será preciso dizer-lhe que este texto tem um comovente humor e fez-me rir, porque o episódio está narrado duma forma tão simples e inocente, quanto encantadora, capaz de nos levar à vivência duma situação que imaginamos como nossa. Como recordo esses tempos. Hoje já não se faz isso, simplesmente porque as portas estão fechadas - e muito bem - até às paragens respectivas. Um dia, tinha eu, talvez, os meus 18 anos, fiz o mesmo. Saí-me dessa sem queda, mas só por uma questão de sorte, porque o salto não foi nada elegante. Bem pelo contrário, foi desajustado à minha condição de jovem menina ... Como sempre fui arrojada, tentei, mas não gostei da experiência e nunca mais a repeti, porque fiquei com as pernas a tremer.
Bom fim de semana.
E obrigada à Ná pela postagem.
Maria Letra
Olá Vitor!
Acho que todos nós, mesmo algumas senhoras, fizeram a mesma figura, ou muito semelhante, alguma vez.
Eu fiz... tal como tu, conforme cai assim me levantei, se me doía alguma coisa também não me lembro, o que todos queremos é sair "do filme" o mais depressa possível.
Parabéns, mais uma vez, pelas histórias, aparentemente banais, mas que nos marcam a todos e que tu tão perfeitamente descreves.
Obrigada.
Beijinho
Ná
Trata-se de uma situação normal na vida e frequente nos jovens mas, neste caso, com a ilustração de ser narrada com mestria de quem sabe manusear a palavra de forma simples, clara, sugestiva e gramaticalmente correcta. Quem escreve bem não precisa de procurar acontecimentos exóticos, pois sabe dar beleza a coisas triviais e vulgares tornando-as matéria-prima de boas obras.
Recordo um texto do Eça a propósito da importância da notícia «A Luisinha Carneiro torceu um pé».
Abraços
João
Olá a todos!
A irreverência é saudável, desejável, muito própria da juventude, e o reinado desta, olhando o calendário, é tão curto quando comparado com todos os restantes anos que se lhe seguem e em que temos todo o tempo para sermos bem comportados, sérios, sisudos,respeitaveis, para além de outras qualidades que sempre de nós se esperam quando atingida a idade dita adulta!
Que pena aqueles anos passarem tão depressa!
Obrigado pelos simpáticos comentários.
Um abraço
Vitor Chuva.
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