Há alguns dez anos atrás, numa tarde chuvosa e sombria de Primavera, que tardava a chegar, sentia-me extraordinariamente triste e solitária.
Eu tinha os meus motivos, o meu único filho tinha ido com a companheira viver para a Suíça e embora eu tentasse arduamente encontrar toda a minha força interior e fingir que tudo estava bem, a dor era quase insuportável, dilacerante.
Eu estava a precisar de uma pausa ou uma dramática mudança de cenário. Mas onde poderia eu ir??? O que poderia eu fazer??? A resposta para essa pergunta levou-me a embarcar numa viagem incrível.
Em 22 Junho 1999 o meu marido e eu decidimos partir. Comprámos uma auto-caravana e decidiu tentar visitar a Europa.
Viajamos por todo o norte de Espanha, que já nos era familiar e que mais uma vez muito apreciamos. Ficamos em San Vicente de la Barquera, situada na costa ocidental da Cantábrica, comemos muito peixinho fresco e muito “SALPICÓN DE RAPE Y MARISCOS”, um manjar divinal, regado com bons vinhos regionais…
Durante todo o percurso até França tomei completa consciência das enormes diferenças paisagísticas, culturais, linguísticas e comportamentais do povo Espanhol. Fomos muitas vezes julgados por Galegos…nada de estranho para quem vive aqui a dois passos de Tui, e lá vai quase diariamente fazer compras, sobretudo encher o depósito de gasolina.
Os nossos dias por lá foram, maioritariamente, passados nas praias e a visitar monumentos. O tempo melhorou substancialmente, como que para me encher o coração de alegria!!! Eu vivo pessimamente sem sol, ao ponto de entrar em depressão… lamentavelmente uma verdade que até me custa admitir!!!
Já em França, o mais caricato foi compreender o (accent du Midi), falado no sul da França, que essencialmente baralhou o meu marido… eu tinha já alguma experiência devido ao contacto com turistas locais que haviam visitado as Caves do vinho do Porto Ferreira, onde trabalhei muitos anos, mesmo assim não deixou de ser um choque. Mas foi muitíssimo divertido, muitas vezes mesmo hilariante!!!
Como estávamos tão perto, como poderíamos não visitar o nosso filho??? Impossível!!! Atravessamos túneis infinitos, vimos paisagens deslumbrantes, dormimos numa das noites apenas algumas horas, agora já na ânsia de chegar o mais brevemente possível, até que finalmente chegamos a Zurique.
Não há postais que façam plena justiça à beleza do país. A Suíça é absolutamente deslumbrante, limpíssima, organizadíssima e também caríssima…
Algumas horas depois de termos telefonando ao nosso filho, de Zurique, a cidade mais cosmopolita que eu já visitei, para Zumikon, onde ele estava a trabalhar na altura, encontram-nos finalmente. Nada mais doce para uma mãe!!! Não que o pai não estivesse feliz, claro que sim, mas só nós mães é que sabemos do que falo.
Durante dez dias, fomos as pessoas mais felizes do mundo. O nosso filho rejubilava de alegria com a nossa presença e nós nunca nos sentimos tão felizes na vida.
Visitamos várias cidades, vimos grandes lagos, as diferentes espécies de gansos, patos e cisnes que proliferam e procriam em cada lago e os campos verdes, abundantes de vacas.
Embora simples, esta foi uma jornada memorável. Quando finalmente retornamos estávamos “tesos”, mas fundamentalmente eu tinha uma nova compreensão sobre a singularidade de cada país que havia visitado, bem como do meu. Um maior respeito para com os outros ao meu redor no mundo e sobretudo, eu tinha finalmente aceitado a partida do meu filho.
Fernanda Ferreira
4 comentários:
Cara Fernanda,
Uma viagem interessante e bem descrita. Compreendo a última frase e tenho pena que seja justificada, por as pessoas com mais validade terem de emigrar para se sentirem realizadas. Já Eça de Queiroz, no capítulo LI, de Janeiro de 1872, de «Uma Campanha Alegre», se refere a este problema. E assim se perde o que o País tem de melhor!
Um abraço
João Soares
Obrigada caríssimo João.
Sabe seguramente o valor que têm as suas palavras e o conforto que proporcionam.
Abração,
Fernanda Ferreira
Da descrição que faz, Fernanda, cheia de naturalidade mesmo quando diz aquilo que muitos não seriam capazes de afirmar pela sua mania de mostrarem o que não são: "quando finalmente retornámos, estávamos tesos". O que importa para nós o dinheiro que se gasta numa viagem bonita como a que fez quando, finalmente, se vê um filho que está longe? Sinto na sua descrição tão cheia de entusiasmo que a viagem já teria, no seu coração, esse objectivo: chegar à Suiça.
Quem me dera poder ter a coragem de ir até ao Brasil, onde também tenho o meu 4.º filho, com a mulher e a filhinha de 4 anos. Mas não consigo. Viajei durante 20 anos umas 5, 6 vezes por ano, em trabalho, sem medo nenhum das viagens aéreas. O avião era o meu autocarro. Depois de 3 valentes sustos, passei a recear viagens aéreas e comecei a usar o automóvel. Na última, em 2008, sózinha, percorri 8.600kms, mas jurei a mim mesmo: BASTA!
Sei bem o que é ser mãe e estar longe. Oh! Se sei, minha amiga ....
Maria Letra
Amiga Fernanda,
bonita forma de se estrear como colaboradora, dando-nos a possibilidade de partilhar consigo o que foi para si uma viagem inesquecível.
Beijinhos,
Ana Martins
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