10/03/2009

Recordando "Segue Cantando", de João Soares

Por falar em "continuarmos a cantar" ...

Minha irmã tinha um canário amarelo, de interessante poupa na cabecinha, que cantava muito bem. Pus-lhe o nome de "poupinha". Era a alegria da casa e, embora eu seja contra a existência de animais fechados em gaiolas, sempre me deliciei com a ternura daquele animalzinho tão pequenino e com um chilrear tão harmonioso, cheio de musicalidade.
Um dia, minha irmã decide comprar outro canário, também amarelinho, mas sem poupa. Deus meu! Como cantava bem! Melhor ainda do que o primeiro. Parecia não se incomodar com o facto de estar fechado numa gaiola. Era feliz e manifestava a sua alegria sempre que nos aproximávamos dele.
Quando eu ia passar alguns dias a casa da minha irmã, ele fazia-me companhia. A sua gaiola estava dependurada na janela da sala onde eu dormia e, logo pela manhã, apenas o alvorecer acontecia, ele iniciava as suas actuações, em jeito de soprano lá do sítio. Da minha parte, a única coisa que podia fazer por ele, era ouvi-lo atenta e deliciadamente. E, para mim, ele chamava-se "soprano".
Estes dois canários tinham de estar separados. Havia ali uma rivalidade qualquer. Parecia mesmo haver uma ciumeira escondida no "poupinha". Lentamente, começámos a notar que ele já não cantava como fazia antes da chegada do seu companheiro da gaiola ao lado. E, pouco a pouco, acabou mesmo por deixar de cantar. Quem fazia a festa toda era o "soprano" que, indiferente ao "poupinha", cantava ... cantava.
O tempo passou e, um belo dia, o canário soprano apareceu morto, na gaiola. Fiquei tristíssima quando recebi essa notícia, aqui em Londres. Foi uma morte misteriosa, quiçá por ataque cardíaco, de tanto esforço feito a cantar... Sim, porque ele cantava mesmo forte. Às vezes eu tinha de dizer-lhe: - Cala-te um minuto, Pavarotti! E não é que ele calava-se mesmo?
No dia seguinte à sua morte e para surpresa de todos, em casa de minha irmã, o "poupinha" começou a lançar para o ar uns acordes melodiosos, em jeito de ... "deixa ver se sai música" ....
Meus amigos, não é que o "poupinha" recuperou o seu canto melodioso e surpreendente? Escusado será dizer que foi festa em casa de minha irmã e eu, em 31 deste mês, irei levar-lhe uma prendinha para ele aguçar o bico: o dente dum choco.
Moral desta história verdadeira: - Não páres de cantar. Não importa que haja quem cante melhor do que tu. O que importa é que TU cantes.
Maria Letra
10.03.2009

10 comentários:

Unknown disse...

Amiga Maria Letra,
os animais são seres vivos e como tal sentem o afecto e atenção das pessoas. Nesta história verdadeira estão totalmente visiveis os ciúmes do "Poupinha".
Quando eu era criança, o meu pai também comprou um canário que cantava maravilhosamente. Colocou-lhe um rádio pequenino ao pé da gaiola e todos os dias o canário ouvia música baixinho.
Quando o meu pai foi para a Guiné, e como na altura havia algumas dificuldades financeiras, a minha mãe disse ao meu pai que levasse o rádio, para que se pudesse distrair um pouco.
O meu pai assim o fez e o canário a partir desse dia deixou de comer e morreu.

Beijinhos,
Ana Martins

o que me vier à real gana disse...

Boa noite!

E viva o canto..., a música no seu todo rítmico, melódico, harmónico. Viva que a escuta; vivam os seus produtores e reprodutores!

A. João Soares disse...

Minhas amigasa,
Também penso que os animais têm reacções semelhantes às pessoas, em inteligência e em sentimentos. Falta-lhes a capacidade de construir ferramentas e as pessoas não conseguem decifrar toda a sua capacidade de comunicar. Na rivalidade dois dois canários é notória a forma como cada um agiu na ciumeira e na rivalidade. O que sobreviveu foi o mais humilde e não deu luta além do possível, enquanto o «soprano» quis ir mais além do que lhe era possível e foi vítima da sua arrogância e ambição, qual Ícaro.
Neste momento estamos a ver esse fenómeno na crise que nos foi imposta por muitos «sopranos» da finança e da política. Estão a começar a ter o destino que carrearam, e ainda a procissão vai no adro. Só que nisto de brincar com as pessoas é um pecado muito feio e irão ter um castigo adequado por mais que «malhem» em inocentes.
Abraço
João Soares

Adelaide disse...

Queridos Amigos,

Assunto: O Segredo

Que as plantas não sejam esquecidas, já que são seres vivos como os animais. Claro que todos nós somos conhecedores desta realidade.

Trata-se de alguém que tem na sua casa de grande estilo, na minha cidade, uma dependência dedicada exclusivamente às suas amadas plantas. Trata-as com o maior carinho dando-lhes os melhores e apropriados alimentos. Por isso são belas como dizem quem as já viu.

Todas as manhãs ao acordar se dirige a elas, cumprimenta-as dizendo: "Olá, bom dia minhas queridas, como estão? Aqui estou eu que vos ama de todo coração!
Isto parece mentira mas é verdade pois um leve movimento se nota no ar, produzido pela alegria, a felicidade que sentem pelo amor que lhes é dado pela sua dona.

A autora de semelhante ideia nem imagina que este seu segredo, que ela pensa ser só seu, já quase correu mundo.

As indiscretas e descuidadas empregadas foram as transmissoras do seu segredo. Claro que os comentários de todas as espécies não faltaram!

Um abraço de quem também gosta de falar com as plantas e com os animais.

Mara

A. João Soares disse...

Cara Mara,
Nas plantas e nos animais residem dois factores da nossa felicidade, da apreciação das belezas da Natureza. Além do prazer da vista, há a lição sobre a força do amor da atenção que se dedica aos outros(mesmo que não sejam humanos). A história dos dois canários dá que pensar nas relações entre os seres humanos. Como o mundo seria muito mais harmoniosos se procurássemos compreender a Natureza.
Abraço
João Soares

Adelaide disse...

Querida Mizita,

Venho comentar o teu belo, delicioso conto dos dois canários. Achei uma história amorosa. Eu também tive um canário que cantava muito bem. A maior parte das vezes a porta da gaiola estava aberta e ele entrava e saía conforme lhe apetecia. Só à noite parece que percebia que eram horas de dormir e ficava sossegadinho, agachadinho no seu canto preferido piscando os olhos com sono. Um dia reparei que ele escondia a perninha direita e fiquei a pensar qual seria a razão. Decidi pegar nele, fiz-lhe festas na cabeça para o acalmar e fui ver o que estava acontecendo com ele. Era a perna da anilha, que estava completamente inflamada. Levei-o ao veterinário que teve de o operar para lhe poder tirar a anilha. Pobrezinho veio para casa sem perna. Fazia esforços para se manter de pé e, aos poucos lá se foi habituando. Passou a ser o canário de uma perna só. Levou o seu tempo para voltar a cantar mas tudo voltou à normalidade. Meses passaram até que um dia, de manhã, cheguei junto da gaiola porque não o via no poleiro. Que tristeza, estava caído, ainda quantinho, olhos meio fechados meio abertos! Levemente lhe fiz uma massagem no coração, o aconcheguei, mas nada, não sobreviveu. Fiquei triste, chorei mesmo e pensei: respiração boca a boca tê-lo-ia salvo? Mas como se ele tinhe bico em vez de boca. Distracção do Criador?

Acabaram-se os canários cá em casa.

Mara

Adelaide disse...

Caro Amigo JoãO,

Não resisto à tentação de lhe dizer que estou para aqui a rir a bandeiras despregadas porque não tinha visto ainda as histórias dos canários. Não é que eu também tinha uma história para contar! Agora, ao que achei muita piada foi que o João, cuidadoso como é, aproveitou mas foi para entrar com a sua deixa política, muito bem encaixada. Querido amigo, será que estamos a fugir um pouco ao verdadeiro tema do blog?

Ria-se comigo por favor.

Mara

A. João Soares disse...

Cara Amiga Mara,
Não falei de política, apenas apresentei um exemplo de canários, aplicado à vida quotidiana.
Mas, conte-me qual é o «verdadeiro tema do blog»?
Se é didáctico, é aceitável um exemplo prático da aplicação da história. Se é para observar a vida real, com optimismo e preocupação para a melhorar, também o comentário está correcto. Se é para seniores do CVS, também é um motivo para alertarem os netinhos!!!
E, minha amiga, já que tem curiosidade em saber porque gosto da última parte da noite, encontre a resposta nas horas a que respondo a comentários e em que coloco posts. Cada um tem a sua hora de maior produtividade, sendo a minha muito matutina.
Um abraço
João Soares

Adelaide disse...

Querido amigo João,

Arrependi-me de ter sido indiscreta no que se refere à 4 horas. Mas, agora fiquei contente porque o João não se zangou. E, também contente porque não sou só eu que vai para o PC às primeiras horas da manhã. A minha cabeça está mais clara, mais descansada, e, por vezes, é nessas horas madrugadoras que a inspiração me assalta.

Quanto ao tema, também acho que todos têm a sua importância. Sejam eles didáticos, históricos, reais, políticos. Já agora, por falar em política, ando há tempos com vontade de saber a sua opinião sobre o tão falado Obama. Será que ele vem como um "Messias" para modificar muito do que está mal, e pronto a arranjar soluções para irradicar a pobreza do mundo? Estarei errada se disser que tenho essa fé? Obrigada.

Abraço
Milai

A. João Soares disse...

Cara Mara,
Ter fé no Obama, é um problema religioso que fica com cada um. No entanto, recordo-a de que ele foi eleito presidente dos EUA e não tem a missão de acabar coma fome no mundo. Nem creio que isso possa ser um «interesse nacional» dos EUA.
Não se q~esqueça que nesse grande País, a estratégia e a política são bem organizadas, embora possam ter alguns pequenos desvios ocasionais. Não é como cá que se anda a beijar a mão do Chávez, do Eduardo dois Santos do Hadhafi, etc. conforme o lado de onde sopram os ventos.
O Obama não é um ditador, nem pode sê-lo e as suas decisões precisam de aprovação de outros órgãos de soberania.
Enfim, muito se poderá dizer sobre a América, mas nem tudo é publicado com verdade porque cada autor vê as coisas à sua maneira, até há quem queira ver nele um messias como a Mara!!!
Um abraço
João Soares