12/03/2009

Os "Trutas"

Uma grande construção.
Planos, Ordens, Acção.
Máquinas, Computadores,
Engenheiros, Directores,
Organigramas, Projectos,
Papeladas, Objectos.
Chefes, Administradores,
"Supervisors", Consultores.
Conselheiros e Gerentes,
Acessores e Presidentes.
Calculadoras, Gânancias,
Somam grandes importâncias.
Cada cabeça, um saber,
Todas juntas, um querer:
Trabalhar p'ra que este "todo"
Não se afunde no seu lodo.
E, neste "rico" cenário,
Também está o operário.
Mas esse ... pobre coitado ...,
Conta só pelo seu corpo,
De tanta dor, quase morto.
E ... se a crise vem, à cautela,
Pagam todos por tabela!
Para manter benefícios,
Não se poupam sacrifícios.
Os "trutas" não querem ver
Os seus lucros a descer.
Então ... há que despedir!
Antes tombar, que caír.
Alerta, portanto, amigo!
Os "quadros" não estão contigo.
Para salvar sua pele,
Fazem o feio papel
De estar do lado dos "trutas"
E começam as escutas,
P'ra ver quem 'stá a traír
O sistema e despedir,
Com justa causa, montada,
Quem, às tantas, não fez nada.

Que mundo de preversão,
Sem amor, sem compaixão.

Abril de 1984
Maria Letra

5 comentários:

A. João Soares disse...

Cara Maria Letra,
Há 15 anos era assim, mas hoje está mais grave. O doente não melhorou e, quando se não melhora, fica-se pior.
O retrato continua válido. Os trutas engordaram, em todos os sectores e o trabalhador está cada vez mais desprotegido.
Abraço
João Soares

Unknown disse...

Querida amiga,
e piores dias adivinham-se!!!!!!!

Beijinhos,
Ana Martins

Maria Letr@ disse...

Temos, os três, a mesma opinião: as coisas tendem a agravar-se. É também para lançar alertas que andamos para aqui a escrever umas coisitas ... não fossemos nós vítimas de todo este quadro de incompetências e, sobretudo, de D. Quixotes armados duma série de basófias.
Hesitei em pôr aqui este meu poema porque, às tantas, ainda levo com alguém a chamar-me comunista. Mas estou pouco preocupada com isso. Não sou isso, nem outra coisa qualquer que não seja "myself", isenta de partidarismos mas saturada duma série de coisas que tresandam a uma mistura de:
a)ambição desmedida e perigosa
b)egoísmo, que leva a fins sem
respeitar os meios usados
c)desonestidade
d)sede de protagonismo
e)preversão

Sofro ao constatar que já há muita gente de braços caídos, vencidos numa batalha cada vez mais difícil.
Um grande abraço.
Maria Letra
13-03-2009

A. João Soares disse...

Cara Maria Letra,
Realmente, é preciso apontar o dedo às causas da crise que nos vitima: Estão muito generalizadas e não podemos deixar de lutar contra elas.
a) ambição desmedida e perigosa
b) egoísmo, que leva a fins sem respeitar os meios usados
c) desonestidade
d) sede de protagonismo
e) perversão dos valores orientadores


Comungo do seu retrato ideológico mas, não sendo comunista, já não tenho receio de que me coloquem tal apelido. Ambas as ideologias sociais e económicas que estiveram em confronto no século passado já implodiram. O comunismo mostrou o pouco que valia com a queda do muro de Berlim e os acontecimentos que se lhe seguiram no leste europeu O capitalismo entrou em fase de autodestruição com os cinco vícios que indicou e atrás transcrevi e agora, com esta crise financeira, colapsou.
Neste momento é indispensável que surjam ideias com novas soluções, porque as já experimentadas mostraram nada valer na realidade.
O capitalismo selvagem, sem ter autocontrolos éticos que evitem os abusos verificados, não mais será possível. Tem de haver uma «revolução» de valores e fazer ressuscitar a moralidade, a honra o respeito pela coisa pública, pelos outros, colocando as pessoas acima do dinheiro. Acabar com o consumismo, com o faz-de-conta, com a ostentação de riqueza, com a avaliação das pessoas pelo que têm e passar a respeitá-las pelo que são, pela sua seriedade, pelo que sabem, pelo carácter, pela sua racionalidade, pelo humanismo.
E para essa «revolução» ética ninguém deve esperar que sejam os outros a agir porque ela depende de todos, de cada um.
Só irão reagir os que agora criaram a crise e querem continuar a mamar da exploração dos incautos. Mas esses têm de ser inibidos de continuar os seus crimes contra a humanidade.
Um abraço
João Soares

Adelaide disse...

Querida Mizita,

Neste teu poema cada frase é uma verdade. Estamos todos cansados deste mundo real em que vivemos, do nosso dia dia que nos amargura pela inceteza do mundo que os jovens irão encontrar quando atingirem a sua completa maturidade, Fartamo-nos de bater o pé e chegamos à conclusão que nada muda, não aparecem soluções para endireitar os carris da vida de todos e de cada um. E o que vemos e ouvimos! Jovens que matam jovens, a quem roubaram o direito de viver que, sendo vivida com sabedoria é tão bela!

Beijinhos da tua amiga
Milai