Gostaria de comunicar que tenho estado a trabalhar no sentido de publicar vários textos sobre o Vinho, conforme já iniciado e prometido.
Contudo, e essencialmente porque este é um assunto que pode ocupar várias páginas, decidi começar por fazer uma leve introdução ao Vinho do Porto, só depois entrar no tema de forma mais detalhada, tentando passar a todos os meus conhecimentos, que não sendo parcos também não são os de uma especialista na matéria.
Como já aqui referi, o meu propósito é simples; levar os leitores a sentir pelo menos algum entusiasmo por um assunto que a mim me fascina, se o conseguir ficarei muito feliz.
O Vinho denominado do Porto, tem origem na região demarcada do Alto Douro, região esta situada no nordeste de Portugal com início a cerca de 150 Kms a montante da foz do Douro em Mesão Frio e estendendo-se por mais cerca de outros tantos 150 kms rio acima até à fronteira espanhola, Vila nova de Foz Coa e Freixo de Espada à Cinta.
Actualmente, a mais antiga região demarcada do Mundo em 1756 pelo célebre Marquês do Pombal, compreende uma área total de 110 mil ha., contudo somente 26 000 ha estão autorizados a produzir o afamado néctar, todo o resto produz vinhos de altíssima qualidade, além de azeite, amêndoa entre outros produtos.
A região Duriense está protegida por uma barreira natural, o Marão (1415 metros), o que faz com que a mesma tenha um microclima muito especial, do tipo Atlântico-Mediterrânico, facto que provoca fortes amplitudes térmicas na região, dizendo-se inclusive que a mesma tem nove meses de Inverno e três de Inferno, uma vez que os Invernos são rigorosíssimos e os Verões escaldantes. A outra característica única na região é a composição do seu solo, basicamente xistoso, cujas vantagens são inúmeras.
Sendo uma região montanhosa, o cultivo da vinha é feito em terraços nos socalcos, obra árdua feita toda à mão pelos Durienses. A vinha é plantada baixinha para beneficiar do calor que o xisto lhe proporciona durante a noite, e sempre de forma a beneficiar ao máximo da melhor exposição solar.
As castas predominantes são as Malvasia Fina e Rei para os brancos, e as Touriga Nacional e Francesa para os Tintos, no entanto devo acrescentar que para os tintos, os vinhos do Porto por excelência, se usam muito mais castas e que as diferenças mais notórias entre os vinhos das várias casas têm a ver com esses casamentos.
A vindima tem lugar geralmente em fins de Agosto ou início Setembro, conforme os anos. Após o desengace, as uvas são esmagadas e fermentadas. Actualmente o Douro está equipado com máquinas sofisticadas e cubas de fermentação onde é controlada a temperatura ideal durante a fermentação em conformidade com o tipo de vinho que se pretende obter.
O Vinho do Porto é um vinho adamado, quer dizer que nem todo o açúcar natural da uva durante o processo fermentativo desdobra e se transforma em álcool. A fermentação terminaria por si só quando todo o açúcar tivesse passado a álcool ou fossem atingidos dezasseis graus de álcool por volume, isto porque as leveduras naturais que se encontram na película das uvas e que são parte fundamental do processo de fermentação morrem quando este grau é conseguido. Portanto, antes que isto aconteça, é preciso adicionar aguardente vínica com cerca de 77º, numa proporção média de um litro de aguardente para cada quatro de vinho, para que a fermentação pare e assim se obtenham os tipos; doce, meio doce ou seco, neste último caso permitindo que a fermentação seja totalmente concluída.
Antigamente todos os vinhos provenientes das Quintas com benefício e consequentemente denominados por finos ou generosos, chegavam até ao entreposto de Gaia via Barcos Rabelos, depois passarem a ser transportados por camiões cisternas. Actualmente muitas das Quintas têm com as suas próprias Caves equipadas com sistemas de refrigeração, onde o vinho é mantido à temperatura ideal, baixa e constante, e aí é também amadurecido.
Os vinhos do Porto são todos sujeitos a um período de dois a três anos de estágio em cascos de carvalho, à excepção dos brancos, para que não lhe seja dado tanino da madeira, esses estão muito pouco tempo em processo de sedimentação e passam para cubas de cimento vitrificadas ou para cisternas de aço inoxidável e engarrafados com dois a três anos de idade.
Os tintos são sempre, todos eles, primeiramente deixados a sedimentar em grandes balseiros (o maior que eu conheço pessoalmente tem 110.000 litros de capacidade) e o maior que está no circuito dito turístico na Ferreira tem 72.875litros. Durante esses dois a três anos os vinhos são trasfegados de forma a sair do contacto com as borras naturais do mesmo, também para oxidarem um pouco e podem ser engarrafados com o mínimo de três anos.
Em caso de ano Vintage (ano excepcional) 5% do total da vindima pode ser engarrafado imediatamente findo o segundo ano, em garrafas pretas opacas (para evitar o contacto com a luz), com gargalo mais longo e rolha bem mais comprida, aliás as garrafas são distintas no seu formato, e levadas para a Garrafeira onde estarão pelo menos seis a oito anos antes e serem comercializados.
Todos os restantes vinhos são analisados frequentemente, o teor em álcool rectificado, e sujeitos ao chamado “blending”. Esta é a forma encontrada para que, todos os anos os diferentes tipos que cada casa comercializa sejam sempre iguais, independentemente da qualidade da vindima em si. Se forem engarrafadas com dois a três anos de idade, são denominados de Ruby Ports devida à cor que apresentam. Quando o estágio é de pelo menos quatro anos, passam a chamar-se de Tawny Ports pelo tom já mais âmbar que apresentam. Seguem-se os Old Tawny, ou denominações semelhantes, quase sempre acompanhadas da idade do vinho no rótulo. Disse a idade, tipo 10 anos ou 20 anos, não o ano da vindima, só no Vintage e outras variantes do Vintage é que são legíveis os anos da vindima. Neste último caso, a garrafa é lacrada e selada e o vinho envelhece na garrafa, isto se a mesma for guardado em condições ideias, deitado e conservada num sítio fresco. Quando aberta a garrafa (há uma série de rituais a seguir que depois explicarei) mas o principal fica já dito aqui, deve ser bebido preferencialmente todo no mesmo dia, uma vez que perde qualidade em contacto com o ar, o que não me parece nada difícil!!!
Nos outros casos, as garrafas são geralmente verde escuro, e não estão lacradas. O seu processo de envelhecimento parou quando passou para a garrafa, pode ser guardado muitos anos sem perigo, mas não melhorará. Uma vez aberta a garrafa pode ser guardada sem risco algum de perca de qualidade, uma vez que esteve anos em cascos de carvalho e consequentemente o ar não o prejudica.
Os vinhos do Porto brancos são tidos como aperitivos e devem ser servidos frescos, e os tintos são os digestivos por excelência e devem ser servidos “chambré”, aliás como todos os tintos "Un bon vin rouge se boit chambré".
http://www.youtube.com/watch?v=HHPkmW-HkUg
Fernanda Ferreira
4 comentários:
Como já sabias que estes artigos até são de interesse para mim, vivendo em Londres, nem preciso de dizer mais nada, além dum "muito obrigada".
Beijinhos, Ná e obrigada ainda por me enviares coisas por e:mail de "rir a bandeiras despregadas". És uma querida, porque até sabes mandar só o que é bom, porque às vezes recebo coisas que nem vale a pena ler ....
Um abraço.
Maria Letra
Oh! Amiga, Estou triste como a noite sem luar, se vais embora, também vou!!!
A Mara desapareceu, e agora tu, as minhas amigas especiais ( que me desculpem os restantes membros do Blog), mas eu não consigo esconder a afinidade com estas GRANDES SENHORAS... eu sou transparente...sempre fui e acho que não é defeito mas sim qualidade.
Amiga, diz-me que ao menos me vens visitar...
Kisses and cuddles,
Ná (Fernanda)
Olá Fernanda,
Adorei.
Aguardo com ansiedade a continuação.
Bem haja.
Bj
Assis
Amiga Anabela Assis,
Afinal ganhaste coragem e decidiste visitar-me aqui...A sério que gostaste??? Olha que eu escrevo mesmo mais!!!
Qualquer dia levo-te às "minhas" Caves, queres??? se é que não conheces, comigo tens tratamento VIP.
Beijão amiga,
Fernanda (NÁ)
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