08/08/2009

Distribuição com exploração imoral

Por ter sido repetido tantas vezes, ninguém ignora que os produtos agrícolas e piscícolas são vendidos aos consumidores a preços que são por vezes mais de dez vezes superiores aos de saída da mão do produtor. Isso deve-se a cadeias de sucessivos distribuidores em que cada um insere uma margem de lucro excessivamente alta e traduz-se na exploração do trabalhador na produção e do consumidor que paga preços exorbitantes elevados e injustos.

Estes inconvenientes poderiam combater-se por diversas formas, sendo uma delas a de os produtores se organizarem (ao exemplo das cooperativas vitivinícolas) e criarem um esquema próprio de colocação dos produtos mais próximos dos consumidores, fazendo assim concorrência aos exploradores da distribuição que obtêm riqueza pessoal à custa de quem produz e de quem consome, sem aumentarem qualidade ao produto. Para esta solução, seria necessário apoio das autarquias, tal como acontece em Sever do Vouga com o mirtilo.

Chega agora dos Açores a notícia de que «Carlos César acusa vendedores de ficarem com o lucro dos pescadores» em que salienta a necessidade de "um maior sentido de justiça" na remuneração dos homens do mar, e critica as "graves distorções" verificadas na venda do pescado, que acabam por retirar grande parte do lucro "a quem trabalha".

Afirma que "temos assistido a situações em que o preço da primeira venda do pescado acaba por ser quatro ou cinco vezes menor do que aquele que representa a sua venda ao consumidor" e frisa que "alguém fica indevidamente, ou de forma exagerada, com essa remuneração acessória nos bolsos, em detrimento daqueles que trabalham na actividade da pesca".

Apesar da forma negativa como este político tem sido criticado no referente ao Estatuto dos Açores, temos que sublinhar esta atitude corajoso e muito pouco frequente no resto do País com que enfrenta os poderosos da economia que, sem oferecerem benefício aos produtos que exploram, obtêm injustificados lucros.

Portugal beneficiaria se todos os autarcas e demais autoridades seguissem este exemplo do chefe do Governo açoriano e tomassem medidas práticas em defesa de quem trabalha na produção. É pena que os pomares tenham muita fruta não aproveitada e os portugueses estejam a consumir estrangeira. O mesmo se passa com a batata e outros produtos.

Portugal tem direito a políticos que defendam a sua população e não apenas os seus próprios interesses. Temos que acabar com a mentalidade do «Super-gajo modelo nacional».

9 comentários:

Maria Letr@ disse...

Amigo João Soares,
Sempre fui a favor do cooperativismo, em virtude do contacto pessoal que tive com quem dedica a sua vida a muitos sacrifícios, de vária ordem, afim de obterem o(s) produto(s) que, depois, vendem a verdadeiros exploradores deles e abusadores da bolsa do último consumidor. Assisti, em pessoa, a casos que me criaram uma verdadeira revolta contra esse sistema que permite que o produto ande de mão em mão até chegar ao último cliente a um preço insuportável para muitos. A apresentação do produto ao público seria mais rápida e evitaria, portanto, que se deteriorasse antes de ser vendida.
Sou toda a favor da solução apontada.
Boa semana!
Maria Letra

A. João Soares disse...

Cara Mizita,

Realmente,parece não haver muitas alternativas. Mas os mais interessados, os trabalhadores que criam os produtos não dispõem do saber necessário nem dos meios para agir em sua própria defesa. Precisam do apoio de autoridades credíveis e idóneas. Mas quando quiserem começar a organizar-se aparecerão as sabotagens dos poderosos que dessa forma serão lesados nos seus vícios de enriquecimento rápido.
O mundo é vil e não é fácil navegar no mar proceloso. É preciso decisão, coragem e recursos de vária ordem para não ter de desistir.
Abraço
João

Maria Letr@ disse...

Amigo João Soares,
Estou perfeitamente de acordo consigo. Não deixo de pensar nos inúmeros produtores mal informados, muitos dos quais pessoas excelentes mas que nem sequer sabem escrever o seu nome e que seguem um líder tendencioso, por ignorância, como se fossem um rebanho obediente que nem precisa de cão porque não tresmalham. A classe trabalhadora, na maioria vítima de todo este cenário onde abunda a desinformação e o desprezo pela criação de condições que tragam dignidade à sua vida, merece todo o meu respeito pelo que sofrem. Toda a ignorância que grassa no seu meio é resultante da má política dos sucessivos governos que "vão fazendo umas coisas", paralelamente a outras que favorecem, em percentagem muito mais elevada do que o que fazem pelos trabalhadores, os senhores da riqueza ... sabe Deus muitas vezes, conseguida de que maneira.
Bem, acabei por desviar um pouco o assunto que deu origem a este comentário.
Amigo João, continuemos na luta.
Um abraço.
Maria Letra

joão disse...

Acontece que a grande Distribuição (Sonae, Jerónimo Martins, etc.) tem um poder de influência tremendo, por exemplo, junto da Banca. Compra os produtos vindos de fora a preços significativamente inferiores e paga aos fornecedores após um prazo de 3 meses (creio), pelo que o dinheiro que recebe para comprar rende juros por esse espaço de tempo. Não sei explicar convenientemente o processo - já me explicaram, mas esqueci.
Só sei que é muitíssimo difícil competir com a grande Distribuição.
Se alguém tiver elementos sobre o processo, informe-me, por favor.
Maria João

Maria Letr@ disse...

Amigo João Soares,
Não me parece que haja muito mais a explicar por este meio, porque se trata de operações muitíssimo complexas, envolvendo várias situações de negociação, como muito bem saberá. Depois parece-me haver aqui uma grande guerra de quantidades e condições de pagamento, nas encomendas. E daí, segundo soube, haver a diferença que há nos preços dos diversos supermercados. Naturalmente que, quanto maior for a quantidade encomendada, melhor será o preço para o comprador, o que não significa que o público venha a beneficiar com isso. Pode é haver aquela diferença duns míseros cêntimos, que o supermercado acaba por, eventualmente, recuperar, dada a preferência que espera ter do público, sempre na busca de quem tem um preço inferior, nem que seja pequeno. Mas de grão a grão ....
Disse o que sabia, seguramente muito inferior ao que sabe o amigo.
Maria Letra

A. João Soares disse...

Amiga Mizita,

Obrigado pelos seus comentários. Os ensinamentos didácticos que contêm dõ muito úteis aos leitores ligados a estes problemas.
Está aqui o essencial, o importante é reduzir a quantidade de elos da cadeia de distribuição. Por exemplo, os hipermercados gostam de ter garantida a chegada de quantidades fixas em períodos certos. Para isso os pequenos produtores devem organizar-se em cooperativas, que depois farão as negociações adequadas. Será erro vender a pequenos intermediários que depois vendem a outros até que um contrata com as grandes superfícies.

Abraço
João

A. João Soares disse...

Amiga Maria João,

Seja bem vinda a este nosso espaço. Espero que em breve nos brinde com um post a materializar a sua qualidade de membro deste grupoo muito unido.
As grandes superfícies têm técnicas muito apuradas para dar cada passo da sua actividade. É preciso contar com isso, e agir de forma a poder trabalhar com elas.
É isso que me leva a sugerir a modernização do trabalho dos pequenos produtores, quer agrícolas quer piscículas, pois não lhes basta produzir, têm que saber vender, dar destino ao produto do seu trabalho.
Têm que aprender depressa porque cada dia que passa torna mais difícil a sua vida.

Abraço
João

Adelaide disse...

Lá venho eu, com o coração oprimido, dizer umas pequenas coisinhas. Estes assuntos põem-me os cabelos em pé, por isso fujo deles como o diabo da cruz. Sim, já sei que não devia !!!

O João já sabe que a minha vontade, ou eu não fosse a Maria da Fonte, era partir a fuça a toda essa malta que apanhou o jeito de meter ao bolso deixando a penar aqueles a quem roubam e no fim o pobre do consumidor.

Mas este é um País de medrosos e dorminhocos que pensam que outros há que resolverão as situções. E a procissão vai passando !

Ser intermediário é um bom emprego para ganhar dinheiro e trabalhar pouco.

Acho muito difícil remendar este País. Faço esforços para ser positiva mas nem sempre é fácil.

Mara

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Caro amigo João,

Já foi tudo dito...
Texto excelente, como sempre, que alerta ainda assim os mais incautos, apesar de todos sabermos já quem enriquece à custa de quem.

Grande Milai, gostei mesmo. A nossa Maria da Fonte quando sai, sai com garra.

Beijinhos a todos e as boas vindas à nossa nova colega Maria João.