Contorcendo-se com dores, passou a porta do hospital e encontrou-se num largo “hall”. Olhando em volta, encarou com três portas, individualmente assinaladas: “cabeça”; “tronco”; “membros”. Não lhe restando quaisquer dúvidas quando ao caminho a seguir, avançou, dando entrada num espaço em tudo idêntico ao anterior, só as indicações diferiam: “membros superiores” ; “membros inferiores”. Mesmo para um leigo na matéria, como era o seu caso, não havia que errar, o problema dele situava-se claramente nos membros superiores, e prosseguiu o seu caminho. De facto, ele até estava maravilhado com tanta organização; tudo tão bem explicadinho - não havia que enganar - a este ritmo em breve estaria a ser tratado, pensou! Novo espaço, amplo e vazio , e mais três portas: “braço” ; “antebraço” ; “mão”. Por este altura, já estava ele mais que perfeitamente identificado como esta forma inovadora de encaminhamento dos pacientes; nova porta empurrada e nova sala com o mesmo número de portas: “carpo” ; “metacarpo” ; “dedo” , leu ele. Aqui chegado, terá certamente pensado: “estou quase lá; só falta mais um pouquinho”. E avançou para novo espaço, organizado à imagem dos anteriores, ou seja; com três portas , cada uma com a sua inscrição: ”falange” ; “ falanginha” ; “falangeta”. Finalmente cheguei! Empurrou, então, a porta sob a inscrição “falangeta”, avançou, e ficou surpreendido – afinal ainda havia mais portas, mas desta vez só duas, ao invés das três como até então! Olhando com muito cuidado, pôde então ler o que sobre as mesmas se encontrava escrito: “Filiados da União Nacional” ; “Não filiados da União Nacional”. Aqui não havia muito para decidir, já que ele não era membro da organização. Empurrou a porta … e encontrou-se na rua.
Só uma nota final: - O hospital desta “história”, é o de Santa Maria, em Lisboa, inaugurado durante a governação de Salazar.
Vitor Chuva
16-08-2009
Só uma nota final: - O hospital desta “história”, é o de Santa Maria, em Lisboa, inaugurado durante a governação de Salazar.
Vitor Chuva
16-08-2009
Vitor Chuva
6 comentários:
Olá amigo Vitor,
Mais uma história das tuas...
Mais uma vez, como sempre lindamente contada. Todos os pequenos detalhes, tal qual o verdadeiro narrador que és.
Intrigante contudo, como naquele tempo havia tanta organização, não te parece??? ou é plena ficção???!!! Vou mais pela última.
Beijinho
Ná
Olá Mizita!
Obrigado por ter acompanhado o pobre paciente no seu longo percurso ... até à rua!
História "cozinhada" aparentemente, pela oposição, também não poderia ter outro sefecho, não era?
Um abraço.
Vitor Chuva.
Olá Fernanda!
A história foi contada, numa aula, pelo professor de Física, que, certamente seria do contra... suponho eu!
E, mais uma vez, obrigado pelo elogio, sempre gostoso, vindo de ti!
Um beijinho.
Vitor Chuva
Claro, Vitor Chuva, tinha mesmo que terminar assim, esta histórinha. Resta a consolação de estar tudo muito bem organizadinho no caminho até à rua, já que mais nada lhe coube por direito.
Um bom domingo.
Maria Letra
16 de Agosto de 2009 0:51
Nota: Cancelei os meus 2 comentários anteriores, os quais substitui por este, não fosse haver má interpretação dos meus conhecimentos de gramática ... (lol). Mantive, no entanto, a minha afirmação feita no primeiro.
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