Hábito porventura inspirado no bem conhecido “La promenade des Anglais”, o “apanhar ar e esticar as pernas” junto ao mar (a que alguns apelidam de “passeio dos tristes”) tornou-se desde há muito uma instituição nacional.
Por razões de proximidade, e porque o lugar é agradável e atractivo, “Leça da Palmeira”é o meu lugar de eleição nos meses de Inverno. Fim de semana de sol a culminar uma sequência de dias feios e desagradáveis que nos prenderam em casa é dia certo de romaria. A ideia de que um passeiozinho faz bem é consensual, e não só aplicável aos humanos; alguns cães com sorte, extensão da família, também tiram proveito da ocasião, com tanto ao mais entusiasmo que os próprios donos - por vezes “excessivo”- daqui resultando algumas cenas características e divertidas destes ajuntamentos.
Acreditando, na sua boa fé, que têm direito a pôr em prática aquilo que a mãe natureza os programou para fazer, proporcionam, por vezes, situações hilariantes , a que só não acha graça a pessoa que se encontra no outro extremo da trela, particularmente quando a mesma é uma senhora …, e a presenciar o acontecimento junta-se, às vezes, uma pequena multidão. De um lado, os cãezinhos a tentar aproveitar a oportunidade, e fazer a vontade ao corpo; do outro os “embaraçados” donos, que a todo o custo os tentam afastar, e impedir a consumação do acto.
Os bichos fazem finca-pé, bem tentam, coitados, mas lá acabam, de patas retesadas, a serem arrastados pelo chão, certamente incapazes de compreender como pode existir tamanha “crueldade”… especialmente de quem eles certamente menos esperavam!
E, para além dos cães e cãezinhos, de alguns meninos aos pontapés na bola, e de outras minorias que se fazem deslocar em bicicleta ou skate, perturbando por vezes o passeio que se queria tranquilo, a grande maioria passeia-se paulatinamente, de um para o outro lado, olhando os outros, que, por sua vez, também os olham.
Ocasionalmente, lá se encontra alguém conhecido; para-se então à conversa, a marcha é retomada, e lá se vai cumprindo o programa estabelecido para aquela tarde, até que chegue a hora do regresso a casa.
Mas, de entre este grupo de pessoas amantes do ar livre, há uma minoria, muito especial, que encontra na ida à beira-mar uma outra forma de prazer que não passa pelo exercício. Ficam eles dentro do carrinho, virado para o sol, assento reclinado, quase na horizontal, a gozar o doce prazer da preguiça - dolce fare niente –.
Se aconteceu o almoço ter sido bem comido e ainda melhor bebido, dentro daquele quentinho então não há vontade que resista ao apelo do corpo ; os sentidos adormecem; o cérebro desliga - é uma imensa paz de espírito , certamente não muito longe do estado de nirvana.
Mas o sol não parou; está cada vez mais baixo, e também menos quente ; é tempo de voltar para casa. Com um pouco de sorte, pode ser que não fiquem presos numa dessas filas que, às vezes, têm o condão de arruinar a memória de um dia bem passado!
01-08-2009
Vitor Chuva
Por razões de proximidade, e porque o lugar é agradável e atractivo, “Leça da Palmeira”é o meu lugar de eleição nos meses de Inverno. Fim de semana de sol a culminar uma sequência de dias feios e desagradáveis que nos prenderam em casa é dia certo de romaria. A ideia de que um passeiozinho faz bem é consensual, e não só aplicável aos humanos; alguns cães com sorte, extensão da família, também tiram proveito da ocasião, com tanto ao mais entusiasmo que os próprios donos - por vezes “excessivo”- daqui resultando algumas cenas características e divertidas destes ajuntamentos.
Acreditando, na sua boa fé, que têm direito a pôr em prática aquilo que a mãe natureza os programou para fazer, proporcionam, por vezes, situações hilariantes , a que só não acha graça a pessoa que se encontra no outro extremo da trela, particularmente quando a mesma é uma senhora …, e a presenciar o acontecimento junta-se, às vezes, uma pequena multidão. De um lado, os cãezinhos a tentar aproveitar a oportunidade, e fazer a vontade ao corpo; do outro os “embaraçados” donos, que a todo o custo os tentam afastar, e impedir a consumação do acto.
Os bichos fazem finca-pé, bem tentam, coitados, mas lá acabam, de patas retesadas, a serem arrastados pelo chão, certamente incapazes de compreender como pode existir tamanha “crueldade”… especialmente de quem eles certamente menos esperavam!
E, para além dos cães e cãezinhos, de alguns meninos aos pontapés na bola, e de outras minorias que se fazem deslocar em bicicleta ou skate, perturbando por vezes o passeio que se queria tranquilo, a grande maioria passeia-se paulatinamente, de um para o outro lado, olhando os outros, que, por sua vez, também os olham.
Ocasionalmente, lá se encontra alguém conhecido; para-se então à conversa, a marcha é retomada, e lá se vai cumprindo o programa estabelecido para aquela tarde, até que chegue a hora do regresso a casa.
Mas, de entre este grupo de pessoas amantes do ar livre, há uma minoria, muito especial, que encontra na ida à beira-mar uma outra forma de prazer que não passa pelo exercício. Ficam eles dentro do carrinho, virado para o sol, assento reclinado, quase na horizontal, a gozar o doce prazer da preguiça - dolce fare niente –.
Se aconteceu o almoço ter sido bem comido e ainda melhor bebido, dentro daquele quentinho então não há vontade que resista ao apelo do corpo ; os sentidos adormecem; o cérebro desliga - é uma imensa paz de espírito , certamente não muito longe do estado de nirvana.
Mas o sol não parou; está cada vez mais baixo, e também menos quente ; é tempo de voltar para casa. Com um pouco de sorte, pode ser que não fiquem presos numa dessas filas que, às vezes, têm o condão de arruinar a memória de um dia bem passado!
01-08-2009
Vitor Chuva
6 comentários:
Olá amigo Victor Chuva!
Gostei muito deste texto em que descreve, com a qualidade dum mestre na arte de escrever, uma tarde que revivi, com grande saudade, nesse mesmo local, há já alguns anos.
Eu morava, nessa altura, em Leça da Palmeira, portanto, eram frequentes as minhas caminhadas ao longo da marginal as quais, por vezes, culminavam num belo lanche ajantarado no Bar da Boa Nova, onde serviam uma deliciosa açorda de marisco.
Obrigada, Victor Chuva. Adorei.
Maria Letra
Caro Vítor Chuva,
Seja bem vindo a esta equipa de gente boa que, na sua diversidade, tem algo de comum traduzido numa vontade única de ter prazer na escrita e na leitura e de contribuir, com o seu entusiasmo e a crítica, para um futuro melhor num mundo com melhores condições de habitabilidade.
Como já conhece o blogue e alguns dos seus colaboradores, sabe que se vai sentir bem. Oxalá isso seja assim e se sinta integrado com o maior prazer neste grupo.
Abraço
João
Amigo Vitor!
Bem vindo na nova qualidade de colega, sei que já te sentes em casa e que todas nós ganhamos um excelente colaborador.
Parabéns pelo texto, és um admirável narrador nato.
Beijinho
Ná
Olá victor,
Como já foi dito pelos amigos colegas deste blog, o qual está a ganhar grande qualidade e nivel devido, também, à grande qualidade de quem nele colabora, este seu texto tem uma grande qualidade e que eu muito aprecio. Tudo o que descreveu foi com tal maestria que eu senti-me presente e os meus olhos viram todas as cenas tão reais conforme iam passando. Foi como se tivesse feito a mesma caminhada e presenciado todas as cenas.
Esta é uma craterística muito valiosa de todo e qualquer escritor.
Parabéns
Milai
Olá a todos!
Obrigado pela companhia que me fizeram nesta passeata à beira-mar! Para quem não tenha ultimamente passado por lá, informo que aquele espaço sofreu melhorias significativas; está mais atraente e convidativo, e certamente nada ficará a dever à "Promenade des Anglais"
Um abraço.
Vitor Chuva
Olá João Soares!
Como mais vale tarde do que nunca, agradeço-lhe agora as boas-vindas que me dirigiu. É com muito gosto que aqui estou, e a todos agradeço os comentários simpáticos que me têm dirigido.
Um abraço!
Vitor
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