O acto de gostar - à semelhança do acto de acreditar e ter fé - é algo instintivo em nós, para o qual, e em regra, não sentimos necessidade de encontrar uma explicação. Gosta-se porque se gosta … e pronto - isso basta - nos!
Contudo, se nos dermos ao trabalho de tentar encontrar essa explicação certamente que a encontraremos; será apenas uma questão de olharmos para o interior de nós próprios, e ela estará lá. Esta foi a conclusão a que cheguei quando há alguns dias atrás me foi colocado o desafio de explicar a razão porque gosto de música. E como achei o desafio estimulante, resolvi aceitá-lo.
Que eu sempre gostei de música é para mim uma verdade absoluta. Racionalizar sobre as razões que estão subjacentes a esse gostar, passando-as ao papel, é algo que nunca me tinha ocorrido. O que então escrevi sobre o assunto volto a escrevê-lo agora, aqui.
A razão que me leva a gostar (muito) de música é, no fundo, não uma mas várias, todas elas intimamente ligadas: Ouvir um trecho de música de que verdadeiramente gostemos é alimento e deleite para o espírito, carícia para os sentidos; o abrir de uma porta para um mundo onde, durante algum tempo, tudo se nos afigura possível.
Aí entrados, podemos talhar um universo à nossa medida, moldá-lo aos nossos projectos e desejos; tudo está ao nosso alcance, mesmo aquilo que de antemão sabemos ser impossível; o futuro está à nossa frente, será aquilo que nós quisermos e sonharmos – tudo depende de nós!
A música tem este condão, esta magia de nos induzir a sonhar; de nos conseguir fazer abstrair da realidade quando, por vezes, nos sentimos menos bem com a vida, ou esta não está de bem connosco.
Os menos dados a devaneios, com os pés bem assentes na terra, dirão, porventura, que isto não será mais que uma tentativa de fuga à realidade, uma forma de alienação mesmo, e certamente que terão alguma quota de razão nesta afirmação. Todavia, o sonhar faz parte da vida; sem isso, ela seria certamente mais pobre, triste e vazia.
E se a música nos ajuda a projectar, ou fantasiar, aquilo que gostaríamos que fosse o nosso futuro, ela, de igual modo, contém em si o atributo de sentido oposto - o de nos conseguir fazer regressar ao passado. Se pegássemos em todas as nossas músicas favoritas e as dispuséssemos ao longo da estrada que tem sido a nossa vida, conseguiríamos facilmente assinalar o nosso percurso ao longo da mesma. Mas, muito mais do que simples marcos quilométricos, elas não serviriam apenas para assinalar distâncias; a elas nós somos capazes de associar experiências vividas, emoções sentidas, pessoas, sentimentos.
Penso que a maioria de nós seria capaz de fazer uma retrospectiva das suas vidas através das músicas ouvidas ao longo do tempo, recorrendo àquelas a que atribuímos maior significado ou relevância – especialmente as que associamos a momentos felizes.
Uma outra, e última, razão porque gosto de música tem a ver com o efeito relaxante que ela nos pode proporcionar. Ela acalma-nos; descontrai-nos; e quando bem instalados é como se o espírito se libertasse, vagueando, enquanto nós perdemos um pouco a noção do tempo e do espaço em que nos situamos, num estado de doce preguiça.
Ouvir a música de que gostamos é uma forma de cuidar do espírito e do corpo – é, no fundo, uma atitude sábia. Os entendidos na matéria recomendam que as crianças, mesmo as muito pequenas, devem ser expostas à audição de música porque ela as ajuda nas várias formas do seu desenvolvimento. Não estarão certamente errados já que nós, durante os primeiros tempos de vida, nos habituámos ao ternurento canto maternal que procurava sossegar-nos dos medos ou mal-estar que sentíamos e não conseguíamos exprimir; ou quando, em tantas ocasiões, nos tentava embalar para o soninho que, teimoso, tardava em chegar.
Vitor Chuva
13-06-2009
Mais um texto do amigo Vitor, espero que gostem...eu adorei!!!
Fernanda Ferreira
Contudo, se nos dermos ao trabalho de tentar encontrar essa explicação certamente que a encontraremos; será apenas uma questão de olharmos para o interior de nós próprios, e ela estará lá. Esta foi a conclusão a que cheguei quando há alguns dias atrás me foi colocado o desafio de explicar a razão porque gosto de música. E como achei o desafio estimulante, resolvi aceitá-lo.
Que eu sempre gostei de música é para mim uma verdade absoluta. Racionalizar sobre as razões que estão subjacentes a esse gostar, passando-as ao papel, é algo que nunca me tinha ocorrido. O que então escrevi sobre o assunto volto a escrevê-lo agora, aqui.
A razão que me leva a gostar (muito) de música é, no fundo, não uma mas várias, todas elas intimamente ligadas: Ouvir um trecho de música de que verdadeiramente gostemos é alimento e deleite para o espírito, carícia para os sentidos; o abrir de uma porta para um mundo onde, durante algum tempo, tudo se nos afigura possível.
Aí entrados, podemos talhar um universo à nossa medida, moldá-lo aos nossos projectos e desejos; tudo está ao nosso alcance, mesmo aquilo que de antemão sabemos ser impossível; o futuro está à nossa frente, será aquilo que nós quisermos e sonharmos – tudo depende de nós!
A música tem este condão, esta magia de nos induzir a sonhar; de nos conseguir fazer abstrair da realidade quando, por vezes, nos sentimos menos bem com a vida, ou esta não está de bem connosco.
Os menos dados a devaneios, com os pés bem assentes na terra, dirão, porventura, que isto não será mais que uma tentativa de fuga à realidade, uma forma de alienação mesmo, e certamente que terão alguma quota de razão nesta afirmação. Todavia, o sonhar faz parte da vida; sem isso, ela seria certamente mais pobre, triste e vazia.
E se a música nos ajuda a projectar, ou fantasiar, aquilo que gostaríamos que fosse o nosso futuro, ela, de igual modo, contém em si o atributo de sentido oposto - o de nos conseguir fazer regressar ao passado. Se pegássemos em todas as nossas músicas favoritas e as dispuséssemos ao longo da estrada que tem sido a nossa vida, conseguiríamos facilmente assinalar o nosso percurso ao longo da mesma. Mas, muito mais do que simples marcos quilométricos, elas não serviriam apenas para assinalar distâncias; a elas nós somos capazes de associar experiências vividas, emoções sentidas, pessoas, sentimentos.
Penso que a maioria de nós seria capaz de fazer uma retrospectiva das suas vidas através das músicas ouvidas ao longo do tempo, recorrendo àquelas a que atribuímos maior significado ou relevância – especialmente as que associamos a momentos felizes.
Uma outra, e última, razão porque gosto de música tem a ver com o efeito relaxante que ela nos pode proporcionar. Ela acalma-nos; descontrai-nos; e quando bem instalados é como se o espírito se libertasse, vagueando, enquanto nós perdemos um pouco a noção do tempo e do espaço em que nos situamos, num estado de doce preguiça.
Ouvir a música de que gostamos é uma forma de cuidar do espírito e do corpo – é, no fundo, uma atitude sábia. Os entendidos na matéria recomendam que as crianças, mesmo as muito pequenas, devem ser expostas à audição de música porque ela as ajuda nas várias formas do seu desenvolvimento. Não estarão certamente errados já que nós, durante os primeiros tempos de vida, nos habituámos ao ternurento canto maternal que procurava sossegar-nos dos medos ou mal-estar que sentíamos e não conseguíamos exprimir; ou quando, em tantas ocasiões, nos tentava embalar para o soninho que, teimoso, tardava em chegar.
Vitor Chuva
13-06-2009
Mais um texto do amigo Vitor, espero que gostem...eu adorei!!!
Fernanda Ferreira
7 comentários:
É bom ouvir opiniões fundamentadas sobre temas interessantes. Sobre isto, o autor diz que as crianças devem ouvir música desde tenra idade. A minha amiga e colega de um blog colectivo Alexandra Caracol, tem estudado este problema com várias obras publicadas e uma filha muito jovem que é exímia em violino, flauta e piano, e com base em dados irrefutáveis, defende que a preparação das crianças começa durante a gestação, não apenas na música mas também nos primeiros passos da educação nos seus variados aspectos.
A sua bibliografia já é numerosa.
Abraços para Victor Chuva, e para as Amigas Alexandra Caracol e Fernanda Ferreira
João
Amigos,
Parabéns ao Autor e a quem trouxe ao Blogue este texto tão interssante e tão verdadeiro.
Na realidade de início gosta-se por se gostar mas com o tempo e com o aprofundar desse gosto torna-se numa necessidade e por vezes até numa obececação! Dá efectivamente uma acalmia em momentos stressantes. A propósito quando andava pelas Áfricas após operações gostava de me sentar e ouvir música clássica para me retemperar dos momentos vividos nessas mesmas operações. Alheava-me do tempo e espaço e ficava como que num limbo e assim retemperava o espírito e o corpo.
De certa forma era uma psicoterapia que me permitiu não ficar afectado com o stress de guerra.
Revivi esses momentos agora ao ler estas suas linhas!
Abraços amigos aos dois e um bom domingo.
Olá amigo João.
Obrigada pela lembrança.
Na verdade a Débora actualmente dedica-se ao violino, embora nas horas vagas se divirta com o piano e a flauta.
Quando se decidiu pelo violino (aos 6 anos) resolvi deixar de lhe dar aulas de piano, coisa que fazia desde os dois anos e meio.
Acredito que as crianças devem ser educadas a gostar de música desde tenra idade, mas também devem ter tempo para brincar e fazer outras tarefas diariamente.
A música é deveras importante para o desenvolvimento saudável de qualquer ser humano, mas nem toda a música é construtiva sendo, por isso, importante fazer boas escolhas.
Sucesso para todos é o que desejo.
Alexandra Caracol
Querida Alexandra,
Obrigado por aqui aparecer. Constituímos um grupo de amigos que não esquecemos e que relembramos mais activamente quando um facto se torna mais interessante para nos reencontrarmos.
Um beijinho para si e outro para a Débora.
João
Para todos aqueles que tiveram a gentileza de comentar o meu "ensaio", os meus sinceros agradecimentos.
Obrigado!
Vítor Chuva
Para mim, ouvir falar em músca até me faz chorar. E Porquê? Porque parei com as aulas de piano. Se não tivesse parado, tenho a certeza de seria hoje uma boa pianista.
Tenho muito ouvido para a música e, isso, infelizmente, também contribuiu para este meu desgosto porque quem toca de ouvido normamente estraga a capacidade que tem. No meu caso, a mão direita vai menos mal mas a esquerda é uma desgraça. Apesar de tudo isto, quando me sento a um piano, invento textos musicais ao meu modo que até parecem verdade. Se eu desse com a cabeça na parede e isso me levasse a sentar no banquinho do piano do colégio outra vez, eu dava, ai isso dava e com força.
Milai
Querida Milai,
Tu és mesmo um poço sem fundo, ainda não sabia dessa...eu não sei tocar uma nota, tenho um enorme desgosto, contudo, eu e a música somos inseparáveis, completamente. Não seria capaz de viver sem música.
Beijinhos,
Fernanda Ferreira
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