09/11/2009

Pedras da Calçada









As pedras desta calçada
reluzem como se a chuva
não parasse de as molhar.
Estão tão gastas que parecem polidas
limadas, agachadas.
São os passos passados e pesados dos homens e mulheres
que calçados passam por cima
das pedras desta calçada.
Voltei para trás
tirei os sapatos e
com os pés desnudados
acariciei as pedras polidas e limadas
com passos curtos e leves
numa carícia por mim desejada.
Senti o pulsar de cada pedra,
Os meus pés ajeitaram-se às formas
e dei-lhe um toque de magia
quase imperceptível de cada pedra
reluzente ou baça grande ou pequena
arredondada ou mais disforme.
Passei e voltei a passar
tantas vezes que me perdi na dança.
E me envolvi no gemido
que depressa se transforma em canto.
Os meus pés descalços, ávidos
deslizaram nas pedras da calçada,
o meu corpo sedento, rebolou caminho abaixo
e a minha alma herdou a nudez de cada pedra
e o silêncio da calçada.

Poema de Maria José C. Areal do seu livro Sabor a Sal e a Mel

Pintura de Kip Decker

8 comentários:

Luis disse...

Querida NÁ,
Ainda sensibilizado com o post da "banca" detive-me neste poema que me deu a Paz que necessitava.
Belo e tranquilo, foi bom lê-lo. Obrigado pois e um grande beijinho.

Anónimo disse...

Olá, Ná!

Até os poetas sabem como é bom andaer descalço rs.. Delícia!

Bjo na alma!

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido amigo Luís,

Ainda bem que se sentiu assim, calmo e mais sereno.
Sei que o post do José deixa as pessoas de bem com sentimentos de grande revolta, como nós nos sentimos, especialmente na altura.

Beijinho

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Olá amiga Reyel,

É verdade... e se sabem.
Também gosto!

Beijos

Unknown disse...

Amiga Ná,
MARAVILHOSO!!!!

Beijinhos,
Ana Martins

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querida Ana,

Se tu o dizes...amiga é verdade!!!
Beijos

A. João Soares disse...

Apreciei o poema, mas quando penso ou olho ou piso as pedras da calçada sinto uma associação de ideias que causa dor, embora pareça nada ter de extraordinário. As inocentes e sofredoras pedras do chão, que a Severa disse beijar depois de serem pisadas pelo apaixonado, ao compradas à relva dos estádios de futebol que é pisada pelos futebolistas apenas concentrados nos golos da vitória ou ao povo de um País que os políticos sacrificam, a quem sacam impostos, tudo para seu benefício pessoal, para satisfação da sua ambição, vaidade, visibilidade e enriquecimento fácil e rápido.
Não são palavras exageradas, pois as notícias dos últimos tempos apontam inúmeros exemplos disso.
E para compreender melhor este fenómeno sugiro um passeio através dos 1842 posts do blogue Do Miradouro que dentro de pouco mais de uma semana festeja o terceiro aniversário do seu primeiro post.

Abraços
João

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido amigo João,

Não foi por acaso que escolhi este poema, alguém que nos é muito querido a ambos e não só, escrecveu e publicou um poema sobre
o mesmo tema, creio até que com o mesmo título, onde esse aspecto que agora menciona novamente foi explorado nos comentários.

Nada acontece por acaso...

Amigo, acabei de lhe pedir a data exacta do acontecimente, faço questão absoluta que o Sempre Jovens se associei a esse acontecimento.

Beijinhos