22/11/2009

GRITO DE DOR...HOMENAGEM A SUA MÃE!


Desculpem Meus Amigos

Peço desculpa a todos vós, mas gostaria muito que lessem este meu texto.

É um texto de Homenagem. Homenagem não, porque eu não sou muito dessas coisas, talvez um Agradecimento sentido. Mas Agradecimento não, porque o Amor não se Agradece! -Qualquer tipo de Amor. Bem, na verdade eu estou muito confuso, mas bem lá no fundo todos vocês vão entender o fim, o objecto deste email.

Tudo começou com o nascimento duma criança há 61 anos. Em Luanda.

Imaginem a alegria dos pais quando nasce uma criança. Na verdade, era já o segundo filho. Havia já uma filha de 1 ano e meio. A alegria era sem dúvida, um pouco maior. A Mãe tratava o filho bébé por queridinho, e fazia-o com tal Amor e de forma tão carinhosa, que a filhota, embora não soubesse pronunciar bem as palavras, tentava imitar a mamã dela e dizia:- Quitinho. E dizia com tanta graciosidade que o nome do bébé passou a ser Quitinho. Era os Amigos e família a visitar a casa, na Calçada de Santo António, e a tratar aquele bébé por quitinho.
Tudo corria bem, de tal modo que 2 anos depois nasce o terceiro filho.

Mas a vida é assim mesmo, prega-nos partidas.

Houve em Angola uma epidemia de poliomielite, vulgo paralisia Infantil. Em 1950 ainda não havia vacinas. Era a primeira criança de raça branca, a ter a doença em Angola.

Como devem calcular, foi o desespero dos pais. Os momentos de felicidade foram transformados em angústia. Eles consultaram todos os médicos conhecidos na altura, em Luanda. Claro que em princípio, como a doença não era conhecida, foi difícil fazer o diagnóstico. Todos diziam que em Angola não havia recursos.
Com uma dor enorme os pais tomaram a decisão de enviarem o bébé doente para Portugal. Como não eram ricos, o pai teve de ficar a trabalhar enquanto a Mãe trataria dos filhos. Três filhos.
Em Portugal, ficaram instalados na casa dos Avós maternos.

O bébé doente foi para o Hospital do Ultramar (hoje Egas Moniz).

A Mãe teve de se dividir entre o Hospital e a casa dos Avós onde ficaram os outros dois filhos.
Nunca os Abandonou. Foi uma luta de coragem. Por vezes andava quilómetros com o bébé ao colo. Não havia dinheiro para táxi. Muitas vezes ela desfalecia, mas sentava-se um pouco, respirava fundo e continuava. O filho tinha que ser tratado. Esse era o seu verdadeiro objectivo.
Foram 10 anos a percorrer o caminho de casa dos seus pais, onde ficavam os outros dois filhos e o Hospital onde ficava o outro filho, internado, sujeito a terapêuticas experimentais, por não haver conhecimento científico suficiente da doença.

A Mãe sempre teve esperança que o seu filho havia de ser curado.

Nunca se queixou. Nem da felicidade que perdeu por causa da separação do marido. E como se sabe, longe da vista, longe do coração. Toda a felicidade se perdeu por causa da doença daquele filho.
Os filhos foram sempre a sua grande preocupação.

Nunca se separou deles. Foi pai e foi Mãe!

Educou-os sozinha. Ensinou-lhes tudo o que ela sabia da vida (embora ela soubesse pouco, na realidade).
Dez anos passados, o médico do filho, no dia de mais uma intervenção cirúrgica, chamou a Mãe e disse-lhe aquilo que ele sempre soube: - Não havia cura para o filho e que não tinha coragem de continuar a fazê-lo sofrer e iludir por mais tempo. - Foi outro grande revés!
Não baixou os braços e pensou que os filhos precisavam do pai. E em 1962, aproveitou a ponte aérea “para Angola depressa e em força” e levou os filhos a conhecerem o pai.
A separação era já uma realidade. Mesmo assim os filhos continuaram os estudos, acabaram por casar, ter os seus amigos e sentirem sempre a sua retaguarda defendida pela Mãe.

Nunca deixou os filhos! – Nunca até ontem.

Meus queridos Amigos, desculpem este email um pouco confuso e até pingado por algumas lágrimas em cima do teclado. São lágrimas dolorosas, sentidas que só vocês me poderiam entender e eu sentir confiança para as escrever.

A todos vocês me desculpem...mas a minha Mãe morreu ontem!

João Carlos, 11/11/2009

8 comentários:

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Meu muito querido Luís,

Choro consigo neste momento a sua enorme dor pela perda da sua querida e extremosa mãe.

As minhas mais sinceras condolências.

Sinta-se abraçado com muita ternura, confortado neste abraço estreito cheio de solidariedade e amor.

Meu querido amigo, sei o que sente, somos muito sensíveis, mas lembre-se sempre dela com o mesmo amor de sempre, ela estará sempre na sua vida...sempre.

Abraço muito grande e muitos beijinhos, da sua amiga do peito.

Anónimo disse...

Estou sem palavras...
Deixo meu abraço sincero.
Bjo na alma e abençoado sejas!

A. João Soares disse...

Caro Amigo Luís,

Ao ler este «Grito de Dor», nesta madrugada, fiquei comovido, mas sem saber de que se tratava, por não saber quem é o João Carlos e se era o miúdo que teve dias difíceis e por quem a mão fez heroísmos extraordinários, ou se era o irmão e se tinhas publicado por se tratar de uma situação exemplar.
Mas agora, com o comentário da Ná, fiquei mais baralhado com a cifra. Pensava que foi a tua sogra que faleceu, mas agora fala-se da mãe. Pela primeira já te manifestei o meu pesar, mas se foram as duas a tua dor é também muito minha e aceita um forte abraço com muita solidariedade. É muito feliz quem teve uma mãe com tanto espírito de sacrifício. Também tive uma mãe muito especial, capaz dos últimos sacrifícios se necessário fosse. Sofreu muito com o acidente que tive fez, no passado dias 18, 54 anos.

Abraço muito amigo
João

Luis disse...

Meus Queridos Amigos,
Este texto é do meu cunhado que teve poliomielite em pequeno. Ele é muito fechado e só soube transmitir o seu sofrimento por esta forma que entendo muito bela ainda que muito triste. Mas acima de tudo entendi que as suas palavras eram um Hino de Amor a sua Mãe neste momento difícil porque estamos a passar.Tive dúvidas em o postar mas achei-o finalmente merecedor do Vosso conhecimento.
Obrigado pela Vossa Solidariedade, sei que são "Amigos do Peito" e disso nunca tive qualquer dúvida.
Um Abração do Coração muito apertado.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo Luís,

não posso dizer que esteja aliviada, afinal a sua sogra faleceu, que esteja em paz.
Mas tudo indicava pela leitura que teria sido a sua mãe e ...ONTEM... o que me deixou profundamente abalada.

Está tudo claro e há que enfrentar a situação o melhor possível, é a vida.

Beijos

Unknown disse...

Caro Luís,
ontem li este texto mas não me senti em condições para comentar, peço-lhe que me perdoe por isso.

Os meus sentidos pêsames, extensivos a toda a família e que essa GRANDE SENHORA DESCANSE EM PAZ!

Beijinhos,
Ana Martins

Kyria disse...

Caro João,
sei sim o tamanho e intensidade da sua dor, que é muito maior do que imaginamos poder suportar. A minha mãe partiu no dia 29/10 e com ela levou metade de cada um de nós.
Sinta-se abraçado e acarinhado.
Bjs

Celle disse...

Meu caro Luis!
Quase sempre sou a ultima a comentar as postagens! São 21.45horas, no Brasil.
Todos os domingos e feriados, nós reunimos a familia, filhos, genros, netos e amigos, na fazenda aqui bem pertinho da cidade.
Há pouco chegamos em casa,e por vício abri o computador e li esta carta maravilhosa do filho descrevendo o sacrificio de sua saudosa mãe para trata-lo de uma paralizia infantil,deixando o marido e se mudando de país.
É a vida da senhora sua sogra!!!
Hoje, ela colhe os louros desse grande amor...
Belo gesto o dele,o filho, demonstrando-lhe sua gratidão... As mãe agem seguindo o intinto materno e, a sua sensibilidade meu amigo, nos permitiu conhecer, admirar esta lição de vida!
Obrigada por publicá-la!
Beijinhos emocionados!!!
Celle