Transcorriam os anos 80, Mandinho teria talvez uns cinco anos, criança bonita, inteligente, muito viva, era o orgulho de sua mãe, mulher lutadora, incansável, trabalhando com amor no seu ofício de cabeleireira competente, para que seu pequeno menino tivesse conforto e fosse feliz. Com a proximidade do Natal, os preparativos para as Festas, a compra dos presentes e com carinho especial a escolha dos que seriam dados ao pequeno, entre eles um carrinho lindo, movido à bateria, que ele havia gostado e esperava ansioso.
Noite de Natal, a alegria do brinquedo esperado, uma festa... e no dia seguinte, feliz, estava com sua mãe na calçada em frente à casa “exibindo” seus tesouros, entre eles o carrinho reluzente, de fazer inveja... Num certo momento, olhos extasiados, brilho no olhar, boca entreaberta num sorriso, exclama: “Mãe, olha que bonito!” Voltando-se, a mãe vê, atônita, o objeto de admiração do filho: um caminhãozinho de plástico, absolutamente banal, amarrado a um barbante surrado, encardido pelo uso, que era puxado por um garotinho caminhando ao lado de sua mãe, uma jovem senhora de aspecto humilde, que olhava sem entender como o menino que possuía um carro tão lindo podia se extasiar com um caminhão de plástico, muito barato.
Mandinho correu para o outro garoto e perguntou se poderia brincar um pouquinho com o caminhão enquanto o mesmo brincaria com o seu carrinho. Feita a troca e por alguns momentos brincaram porém, o menino precisava seguir seu caminho e deveriam destrocar os brinquedos mas Mandinho não queria se separar daquele tesouro. Então, perguntou a mãe se poderia tornar a troca definitiva e ela, vendo o brilho nos olhos do filho, entendeu que o valor das coisas para ele tinha outra medida e disse-lhe que, se aquilo o faria feliz, que o fizesse. E lá se foi o menino pobre, com os olhos brilhantes de alegria com o carrinho “mais lindo do mundo” entre as mãos... e ficou o menino mais privilegiado com um brilho muito intenso nos olhos, segurando entre as mãos o tesouro de maior valor que poderia haver na Terra, um caminhão de plástico que ele guardou carinhosamente por muitos anos e que sempre considerou seu brinquedo favorito, aquele que ninguém podia segurar, aquele que era guardado e resguardado...
Coisas do coração.
Dulce Costa
7 comentários:
Querida amiga Dulce,
Nem sei como lhe agradecer!!!
O conto é fantástico e tem tudo a ver com a minha filosofia do que deve ser o Natal.
Parabéns!
Beijos mil para a minha amiga doce, Dulce.
PS.
Eis aqui o que acompanhou o e-mail.
"Ná, muito bom dia.
Atendendo seu pedido, aí vai um pequeno conto de Natal, escrito há alguns anos, mas nunca publicado. É uma história verdadeira, passada com uma boa amiga.
Espero que goste e, se gosta, pode publicar no Sempre Jovens.
Beijos e um bom dia.
Dulce
Gostei deste conto.
Quantas opções nós fazemos e amamos como as melhores da nossa vida.
Quem vê de fora pode até não entender nada.
Segredos nossos.
Beijos e obrigada, Ná.
Amigo Luís Coelho,
Obrigada pelo comentário, não sei se seria para a amiga Dulce.
Em todo o caso respondo-lhe eu... dizendo-lhe que todas as nossas opções, quando tomadas, parecem sempre as mais certas, mesmo que estranhas aos olhos dos outros.
Neste caso o que estes meninos fizeram foi darem-se uma prenda um ao outro e ambos ficaram felizes.
Abraço
Ná
Querida Dulce,
Em nome do Sempre Jovens eu é que lhe agradeço do coração.
É sempre uma honra publicar aqui um texto da sua autoria.
Beijinhos
Ná
Querida Amiga,
Esta história mostra a irracionalidade da obrigatoriedade de fazer o jogo do consumismo que enche a caixa dos comerciantes. Compram-se coisas sem ter a noção da sua utilidade real ou afectiva para o destinatário. Dar uma prenda para prazer de quem a recebe não é tarefa fácil. Normalmente ela dá prazer à vaidade de quem a oferece.
Beijos
João
Amiga Dulce linda a história e mostra o espírito Natalino que é de troca .
Mostra uma lição de vida onde
valores são únicos aos olhos de quem os deseja não importando se é caro ou barato.
Beijos
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