18/06/2010

A teia de aranha do Paraíso


Numa bela manhã, Buda passeava no Paraíso junto á margem do Lago dos Lótus. Por baixo deste, e das suas águas cristalinas, ficavam o Rio das Três Correntes e a Montanha das Agulhas, ambos sítios pouco aprazíveis das profundezas do Inferno. Espreitando, Buda entreviu, entre muitos rostos, um homem chamado Kandata, que tinha sido ladrão e assassino, mas uma única vez, tinha sido capaz, como Buda recordou na altura, dum acto louvável: poupar a vida a uma minúscula aranha.
Buda, decidiu então, dar-lhe uma oportunidade para que pudesse escapar ao Inferno. Pegando delicadamente na teia prateada duma aranha do Paraíso, encaminhou-a para as profundezas do lago, em direcção a Kandata. Este não perdeu tempo em agarrá-la e trepar com quanta força tinha, tentando livrar-se das torturas e das trevas. Mas a subida, não se previa tarefa fácil, nem para um ladrão ágil como Kandata, pois uma considerável distância separa o Inferno do Paraíso.
Assim, mesmo não querendo, Kandata viu-se forçado a parar para recuperar forças, e foi então, que olhando para baixo para se certificar que já estava bem longe, viu horrorizado que eram muitos os condenados que o seguiam. Isso é que não! - pensou Kandata. A teia era demasiado fina para suportar apenas o seu próprio peso, quanto mais o daquela coluna de formigas. Ia concerteza partir-se e o seu imenso esforço seria em vão. E Kandata pôs-se a gritar:
- "Ouçam lá seus pecadores! Esta teia de aranha é só minha. Quem é que vos disse que podiam subir? Saiam já!! Já!"
No mesmo instante, a teia de aranha, até aí aguentando-se perfeitamente, partiu com um ruído brusco, mesmo onde Kandata a segurava. Antes que pudesse gritar, já Kandata lançado no vazio, mergulhava de cabeça nas mais escuras trevas.



Nas margens do Lago dos Lótus, Buda observava o sucedido com o rosto ensombrecido de pena. Kandata tinha pensado apenas em salvar-se a si próprio, e a sua falta de compaixão tinha sido punida.
Nem sempre as histórias terminam bem, mesmo quando as teias são de aranhas do Paraíso.


Fonte: "Rashomon and Seventeen Other Stories", Ryunosuke Akutagawa
Publicada por lolipop do Blog BANZAI.

Domo arigato amiga Margarida.

Na Casa do Rau

11 comentários:

Sandra disse...

é Com muito carinho que venho oferecer meus selinhos.
Retribuindo o seu carinho em passar na INTERAÇÃO DE AMIGOS. Já tem uma linda carta de amor. Vou te esperar por lá.
http://sandrarandrade7.blogspot.com
Ainda aproveito para, oferecer dois selinhos estam aqui..Venha ser mais um seguidor. Fica o convite.

ESTÃO AQUI:
MEUS MIMOS OFERECE A VC.
SELO PRÊMIO DARDO.
http://sandraandrade7.blogspot.com/
PASSE EM MEUS MIMOS E LEVE ESTE CARINHO.
NO SINAL DE LIBERDADE TBÉM TEM UM TE ESPERANDO, http:sandraandradeendy.blogspotcom
vou te esperar com muito amor..Este cantinho é muito especial CARINHOSAMENTE,
SANDRA

Sandra disse...

Muitas vezes vivemos numa imensa teia de aranha. a vida é feita em alguns momentos dessa forma.
Sandra

A. João Soares disse...

MInha querida Ná,

Esta é uma linda lição que vem tonificar a campanha ética desenvolvida há quase três anos pelo Sempre Jovens.
Quem tudo quer tudo perde. Se viajamos sozinhos podemos e devemos distribuir os lugares disponíveis no nosso veículo. Se descobrimos a porta de saída do nosso cativeiro devemos indicá-la a todos os outros cativos. SE encontramos a simplicidade da vida a espiritualidade alheia aos teres e haveres devemos difundir a ideia aos que como nós fazem a caminhada da vida.
O egoísmo não nos fortalece, antes nos tira forças, nos faz mirrar as energias. Este blog, na sua missão evangelizadora, difunde o bom caminho, procura o alastramento do bem, para que a nossa reia seja benéfica a todos, sem distinção, sem discriminação, bastando que tenham boa vontade.

Parabéns pela colectânea de contos que aqui está a trazer, que são de uma riqueza de lições muito apreciável.

Beijos
João
Do Miradouro

Unknown disse...

Gostei da história e da lição que pretendeu dar-nos.
Está na linha do outro pensamento que diz:
- Ninguém se salva ou se perde sozinho -
O nosso comportamento levará alguns a seguirem os bons exemplos ou pelo contrário seguirem nos caminhos da devassidão e das injustiças.

Maria Beatriz Ferreira disse...

Querida Ná!

Este não é só um conto, um vulgar conto, vai muito mais além.
Esta é uma lição, toda ela virada para a sabedoria que deveria estar sempre presente em todos nós.
Um apelo ao altruísmo, um não ao salve-se quem puder que se instalou nesta sociedade actual podre e vã.

Parabéns à tua amiga Margarida e à tua constante procura por temas que elevam e engrandecem este espaço.

Muitos parabéns a ti e ao José pelo vosso dia!

Beijinhos
Beatriz

Luis disse...

Minha Querida Amiga NÁ,
Mais um lindo e profundo conto com uma moral da história a fazer-nos pensar. Tem graça que o João já utilizou o provérbio que tinha pensado para sua moral! E assim é pois não é com o mal dos outros que nós ganhamos!
Um beijinho amigo.

Unknown disse...

Querida amiga,
é nem sempre as histórias terminam bem, principalmente quando a sua finalidade é transmitir valores e sentimentos.
Kandata agiu sem compaixão e com puro egoísmo e foi penalizado por isso. No meio da aflição ele foi genuinamente ele, sem máscaras e sem rodeios.

Linda a história, permite-nos uma intensa reflexão.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Queridos amigos,

Estava à espera da autora do post, a Margarida, para fechar os comentários, gostava de vos apresentá-la, muito mesmo.
Passem pelo Blog dela, prometo-vos que vale a pena.

Obrigada por todos os comentários, as lições são fáceis de tirar.

Beijinhos

lolipop disse...

Fico muito honrada por terem escolhido no Banzai esta história de que gosto particularmente!
Pena só ter visto agora...e comentar no fim...desculpa Ná...
Domo Arigato Gozeimashita
love
Margarida

Fernanda Ferreira - Ná disse...

友人 Margarida!

Sweetie! Escolhi um dos muitos belos contos e estou à espera das fotos maravilhosas.
A honra é toda nossa, acredita!

Nunca é tarde ...nunca é demais, lembras-te???

Domo Arigato!
Mata ashita!

Celle disse...

Ná,esta história me fez lembrar as palavras de Aristóteles sobre o egoismo:"O egoísmo não é amor por nós próprios, mas uma desvairada paixão por nós próprios."
Beijos, Celle