13/06/2010

Quem ajuda o pardalito?

Por António Torrado Cristina Malaquias, 13 de Junho de 2009


Era um passarinho caído do ninho. Mais precisamente um pardal, um pardalito tontelas, de asas molhadas de medo.
Os irmãos tinham-no empurrado, sem querer, e ali estava ele, a pisar pela primeira vez o chão áspero que lhe feria o macio das patas. Dava saltinhos, a ensaiar o voo, mas ainda estava longe de saber voar. Que ia ser dele?
Viu uma formiga, a correr de um lado para o outro, e pediu-lhe, num fiozinho de choro:
- Ajuda-me.
Ela nem lhe respondeu, atarefada que andava, lá na vida dela.
Viu um besouro, a voar em círculos, e pediu-lhe:
- Ajuda-me.
Mas o besouro, talvez por culpa do motor barulhento que o sustinha no ar, nem lhe ligou.
Viu uma andorinha nem que uma seta, a rasar o chão, e pediu-lhe:
- Ajuda-me.
Mas já a andorinha ia muito longe, a apagar-se no céu.
Que ia ser dele?
Havia de vir um gato e dar-lhe uma sapatada.
Havia de vir uma cobra e dar-lhe uma picada.
Havia de vir um cão e dar-lhe uma dentada.
Mas veio uma menina que andava a colher amoras para dentro do chapéu de lona, e levou-o com ela.
O pardalito nem se atrevera a pedir-lhe ajuda. Ela é que o achara e ameigara nas mãos em concha, como se fosse em ninho.
Levou-o para casa. Deu-lhe pãozinho. Deu-lhe miminhos.
Eu conheço essa menina. E também o pardalito, agora um pardal pardalão que não se cansa de voar.
Mas por onde quer que ande, no seu agitado voo de pardal aventureiro, de uma coisa se não esquece. Todos os dias, à mesma hora, bate com o bico na vidraça da janela. A menina abre-a e dá-lhe as migalhas da merenda. Depois, o atrevido salta-lhe para o ombro e pica-lhe, num desafio de ternura, a polpa da orelha. A menina encolhe-se num riso e ele foge a gorjear de alegria.

Mais um conto dos que recebo diariamente e este tocou-me particularmente, talvez porque também já tenha feito o mesmo muitas vezes.
O último caso foi com um melro...
o José apressou-se a ir comprar uma gaiola enorme para o proteger dos meus gatos enquanto não ficava bom, mas... quando chegou com a gaiola, apesar de todos os esforços feitos, o melrinho de bico amarelo já tinha partido.


Beijinhos a todos.
Fernanda Ferreira (Ná)

8 comentários:

chica disse...

Lindo conto e isso sempre nos comove!beijos,lindo domingo,chica

Anónimo disse...

Ah, isso acontece tanto aqui onde moro!!! (moro num sítio) Os pardaizinhos caem dos ninhos e a gente cuida deles até voraem. É muito bonito!!
Beijos.

Pedro Ferreira disse...

Lindo o conto!
Tão ao teu género, tão teu, podia ter sido escrito por ti.

Parabéns
Pedro

Irene Moreira disse...

Lindo conto!
Como conheço histórias reais sobre os passarinhos que caem do ninho antes de estarem preparados e os meninos ou até adultos os recolhem e cuidam até que possam voar e seguir a vida por si mesmos.

Beijos e uma boa semana

A. João Soares disse...

Querida Amiga Ná,

Qualquer ser vivo deve merecer o nosso respeito. E não devemos negar o apoio que nos for possível a quem dele necessita.
Porém, há países ditos modernos e civilizados em que se mantêm tradições de esquartejar animais vivos como demonstração de força e superioridade, como há dias vi em vídeo uma cerimónia de passagem a adulto num porto da Dinamarca, em que a água já estava toda cor de sangue.
Feliz pardalito e quem o recebeu e ajudou a sobreviver. Fazer bem dá como retorno a felicidade.

Beijos
João
Do Miradouro

J.Ferreira disse...

Nós temos histórias sem fim com passarinhos e a do melro não foi a última.
Infelizmente nem todas têm um final feliz como esta do conto.

Beijo
J.Ferreira

Luis disse...

Minha Querida Amiga NÁ,
Gostei do conto até porque me fez lembrar um caso que connosco aconteceu no Alentejo. Há uns anos atrás também caiu um pardalito do ninho e também ele foi apanhado e tratado com muito carinho. Ainda veio para Lisboa mas depois, infelizmente, ao fim de algum tempo acabou por morrer. Como calculam todos nós ficámos tristíssimos com a sua morte pois já o considerávamos salvo.
É assim a vida...
Um beijinho amigo.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Queridos amigos e amigas,

Fico muito feliz que gostem dos contos que vou publicando, mesmo não sendo a autora, o que me entristece, pelo menos com eles muito me identifico.

Beijinhos e abraços a todos.