31/07/2010

Internacionalização da Amazónia

Decidi trazer aqui hoje, mais um tema que gostaria muito ver debatido e esclarecido.

Do que consegui apurar e após a leitura de vários textos, há razões para apreensão.
O jornal, "No Rio de Janeiro", diz que «um coro de líderes internacionais está a declarar mais abertamente a Amazónia como parte de um património muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território».
O jornal cita o ex-vice-presidente americano, Al Gore, que em 1989 terá dito que «ao contrário do que os brasileiros acreditam, a Amazónia não é propriedade deles, pertence a todos nós».

Passo agora a transcrever, integralmente, e na sua versão original, o texto conforme o li.
Deixo a mesma pergunta! Afinal de que é a Floresta Amazónica???

"Durante debate ocorrido no mês de Novembro/2000, em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Segundo Cristovam, foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para a sua resposta:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo e risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado

Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou
de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.

Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."

(*) Cristóvam Buarque foi governador do Distrito Federal (PT) e reitor da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 90. É palestrante e humanista respeitado mundialmente.

15 comentários:

Carmo disse...

Olá Ná, é um prazer visitar este espaço, aqui encontro óptimas narrações e informações. Excelente textos de alerta.
Bom fim de semana
Beijinhos

Anónimo disse...

Eu ouso dizer que seria cômico se não fosse trágico, os estrangeiros principalmente Americanos, se preocuparem tanto com a Amazônia, sendo que não cuidaram de suas próprias florestas e ainda são os maiores poluentes do planeta, e agora se acham no direito disso e daquilo em território brasileiro. Aff...
Beijos na alma!

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Olá amiga Carmo!

Fico muito feliz em saber que assim pensa.
É preocupação constante deste excelente grupo de colaboradores (do qual tenho a imensa honra de fazer parte), trazer a lume temas diversificados e com conteúdo.
Se o conseguimos ou não, é a quem comenta que cabe avaliar.

Obrigada pela sua avaliação tão carinhosa e positiva.

Muitos beijinhos e que o fim de semana seja maravilhoso.

Na casa do Rau

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querida Meri!

Será que há petróleo na Amazónia?
Ou será que é água que eles procuram???
Seria mesmo hilariante se não fosse trágico...
Afinal de quem é a Amazónia??? A que país pertence???
Depois dizer que é da Humanidade é muito bonito se não houvessem interesses camuflados ou mesmo descarados de posse.

Beijinhos amiga.
Votos de bfs.

Na casa do Rau

Rogério G.V. Pereira disse...

Fernanda,
Minha Ná,
Espetas-me com este "tremendo" panfleto de defesa dos recursos naturais. Não sei se teremos quem aqui falará assim de nosso território marítimo, quando as nossas águas territoriais vierem a ser postas em causa pelo seu desaproveitamento pelos sucessivos governos... Contudo, coloco outra perspectiva: a reclamada internacionalização não é mais do que o acesso de interesses privados aos recursos da amazónia, isto é o mesmo que seguir outros mecanismos, como seja a privatização por entrega da exploração de determinado recurso natural ao capital privado (como sabes o capital não tem pátria nem mátria, é filho da p***). Receio bem, que as Águas de Portugal o deixem de ser...

Bom post (pois não é um poste feito por madeira exótica, da amazónia)

Beijos e parabéns

A. João Soares disse...

Querida Amiga Ná,

Obrigado por trazer aqui este texto. Já o conheci há muitos meses, talvez mais de um ano. Achei uma argumentação divinal, própria de um um homem muito inteligente.
Quanto mais alto é o degrau dos decisores mais perigoso fica o mundo, embora racionalmente poderia parecer o contrário. Os Estados federais acabam por ser mais avançados do que os que têm um governo central, de arrogantes e mal preparados. Sugiro uma visita ao post Os génios que nos governam, qie leva a pensar que a gestão dos grandes interesses mundiais está em más mãos,pior do que a dos estados.
A globalização tem trazido crises quase sucessivas. Considero a argumentação muito irónica, mas que leva à conclusão de que nada do que refere poderá ser internacionalizado e, portanto, a Amazónia também não o será. Mas, ATENÇÃO, a Amazónia deve ser controlada por inspectores internacionais para aconselhar e recomendar, evitando destruições perigosas. Nisso a ONU deve fazer algo, mas sem retirar a soberania do Brasil. Não é correcto retirar os técnicos ambientais brasileiros e colocar os funcionários das grandes multinacionais.
Quem não concorda com esta opinião é o Clube Bilderberg que está a preparar um governo mundial único e todo poderosos.

Beijos
João

Vanuza Pantaleão disse...

Cristóvam Buarque disse tudo!
Aliás, sempre o acompanhei nas suas atividades parlamentares e aplaudo, sem medo, tudo o que esse homem de enormes méritos vem pregando por anos a fio.
Eu já havia lido esse pronunciamento irretocável dele.
Na verdade, na verdade, a Amazônia já está "internacionalizada", pois até o sangue dos nossos indígenas já foi patenteado pelos americanos e a nossa biodiversidade também. Eles nunca nos respeitaram e a coisa ficou evidenciada também pelo tal do "Projeto Jari" que foi até tema para o Djavan fazer uma música de protesto.
Nós vivemos num único planeta e tudo que nele há é patrimônio de todos, assim penso eu, mas há que se respeitar a soberania dos povos que habitam cada nação.
Qualquer dia, amiga, eu vou procurar o discurso do Cristóvam chamado por ele de "Insignificâncias", uma peça de humanismo ímpar.
Parabéns mesmo!!!Bjssss

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo Rogério!

Meu Amigão!
Estou a fazer tudo para merecer os teus selos :))))
Quero ver-te publicar sobre o nosso território marítimo, que é cada vez mais diminuto.

Beijinhos

Na casa do Rau

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo João!

Ainda não fui ler o seu post, mas irei seguramente!

A Globalização não pode ser desculpa para a Usurpação!!!
Convém, como diz, supervisionar o que se faz com um Património Mundial, o único pedacinho de pulmão que ainda existe no Mundo.
Contudo, ninguém, nenhum país, tem o direito de usar deste "argumento", e tomar posse do que não lhe pertence.
O seu a seu dono.

Também adorei a forma sarcástica e quase caustica do texto.

Beijinhos

Na casa do Rau

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amiga Vanuza!

Obrigada pela tua achega!
Quando publiquei sobre este tema esperava uma maior adesão dos amigos/as brasileiros/as. Infelizmente isso não aconteceu...
Sei que este assunto já tem sido alvo de várias intervenções por parte de Cristóvam Buarque, bem como de outros membros da sociedade e cultura brasileiras, mas não me parece que tenha sido suficientemente difundida a posição do governo quanto a esta questão.

Daí a pergunta; de quem é afinal a Amazónia?

Diz-me tu!

Beijos

John Medeiros disse...

Olá Fernanda,

O meu nome é John Medeiros e eu nasci na ilha de São Miguel, Açores. Por favor perdoe-me porque eu falo Inglês melhor do que Português. Eu tornei-me um cidadão naturalizado de EUA em 1976 e eu também vivi no estado de São Paulo, Brasil.

Neste mundo, aí existe pessoas com uma consciência boa que são honestos mas aí estão ainda indivíduos que vivem em ganância. Ainda existe cidadãos Americanos que querem dizer a verdade e ensinar o povo Americano. Veja este URL de vídeo de conexão onde explica e diz a verdade porque Americanos que fazem perguntas aprenderão por que a sua nação esta em guerra hoje em Afeganistão?,

URL: http://www.stonybrook.edu/workingclass/publications/why_afghanistan.shtml

É um facto e uma vergonha para uma República Democrática, que o Governo encoberto dos EUA em dia hoje mesmo assassina os próprios cidadãos sem a Regra de Lei e processo devido. Sem vigilância e responsabilidade, abusos são encobridos.

Nós temos que respeitar direitos soberanos dos povos que habitam cada Nação mas também nós devemos respeitar os direitos da Humanidade. Como um Humanista, eu desejo Paz e Justiça para todos neste mundo e nós temos que conservar os recursos naturais e florestas em nosso mundo.

João Medeiros

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Olá John Medeiros!

Bem vindo a esta casa que é de todos, especialmente dos que têm a coragem de abertamente denunciar e dizer de sua justiça.
Obrigada!

John, your Portuguese is absolutely perfect, please stop worrying about its accuracy. Honestly! Take my word as I know what I'm saying!

Amigo, nasceu num dos mais belos recantos do Mundo... pena que ainda não conheça os Açores, espero ter a felicidade de ainda vir a visitar.

Quanto ao que me diz, meu caro amigo, não podíamos estar mais de acordo.
Não estou contra o povo americano, estou sim contra quem o (des)governa, e o leva a cometer crimes contra a Humanidade.
Estou contra essa ideia errada, enraizada na mente da maioria dos norte americanos, de que eles governam o Mundo e ditam as suas leias no Mundo e para o Mundo.
Tudo por pura ganância, por desprezo total pelo respeito dos Direitos de Soberania que assistem a cada país.

Agradeço-lhe imenso o link enviado.
Vi e estou 100% de acordo. Não sei ainda bem como, mas hei-de conseguir dar-lhe o destaque que merece.

Amigo, volte sempre!
Não sabe o bem que faz saber que há quem se preocupe, de facto, com o que se passa e faz, no capítulo dos abusos camuflados ou não...da prepotência, da arrogância e total desrespeito pela Liberdade e verdadeira Democracia.
A Amazónia é um bem precioso que tem de ser protegido para o bem da Humanidade, mas NÃO É AMERICANA, NEM DE MAIS NINGUÉM... É BRASILEIRA!

Beijinhos

Michelle Lynn disse...

Olá Fernanda!

Obrigada por me trazer até aqui... gostei muito desse espaço e principalmente do que se discuti por aqui!

Quanto a internacionalização da Amazônia sou completamente contra, não só por ser brasileira, mas por ter certeza de que quem deseja mais são os estadunidenses e que o principal motivo para tal ato, não é para preservar aquilo que eles acreditam serem do mundo, mas para conseguirem tomar toda a riquesa que há nessas terras: reservas de petróleo, pedras preciosas, fauna e flora e muito mais...

Vou lhe enviar o email que contem as informações que eu citei mais explicadas. Inclusive, se vc puder passá-lo adiante, ficaria grata!

Um grande abraço,
Michelle

PS. O texto de Cristóvam Buarque é muito bom!!

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amiga Michelle!

Obrigada pelo seu e-mail, pela sua dedicação e pela forma frontal como defende a sua pátria e os seus direitos enquanto cidadã brasileira e do Mundo.

O seu e-mail acabou de ser publicado.
Obrigada pelo alerta.
Beijos

Na casa do Rau

A. João Soares disse...

A T E N Ç Ã O

O REPETIDO DESAPARECIMENTO DE IMAGENS NOS POSTS DESTA COLABORADORA DEVE-SE, PROVAVELMENTE, A UM «LAPSO» DELA.
Pedimos paciência aos amigos visitantes.

Cumprimentos
João