31/07/2010

A crise vem do tempo do Eça

Em 1867, «O Distrito de Évora» publicou as seguintes palavras de Eça de Queiroz:

«ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao caso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?»

NOTA: Não creio que Eça de Queiroz fosse um mago adivinho, mas lamento imenso que os portugueses não tenham melhorado, modernizando-se, nestes últimos 143 anos, que não sejam capazes de produzir representantes mais preparados para as suas responsabilidades e que não sejam capazes de punir severamente os políticos cujos comportamentos correspondam à vacuidade da primeira parte e, principalmente, aos vícios e manhas da segunda parte do texto. As realidades estão espelhadas no texto publicado em «Os génios que nos governam». O ser humano, embora beneficiando de tecnologias e ferramentas cada vez mais modernas, está pasmado num pântano mais em regressão do que em estagnação. Venha um filósofo, um líder, que dê o sinal de partida para reformar a civilização actual, por forma a merecer a alta tecnologia de que dispõe.

Imagem da Net.

4 comentários:

Unknown disse...

Boa Noite
Caminhamos ao avesso e quem nasce torto tarde ou nunca se endireita.
Depois existem os políticos espertos
que valendo-se do discurso enganam que se farta e mentem constantemente.
O staf que devia visionar os desmandos e as vigarices apoia-os e incentiva-os.
Não temos qualquer saída, porque assim o sistema acaba por apodrecer.

A. João Soares disse...

Caro Luís Coelho,

Agradeço o seu comentário, mas discordo do pessimismo da última frase. Ela vem ao encontro do sentir dos portugueses, «Não penso mas existo», a qual origina esta apatia que vem de há séculos. A ideia da NOTA é o oposto a tal pessimismo.
Não há staf que controle os desmandos dos líderes interesseiros e viciados, tem que ser o povo, que em democracia é o detentor da soberania, que deve agir prlo voto (votar em branco se os candidatos não são merecedores de aprovação) e manifestando-se de forma visível e determinada contra incompetências e desonestidades de quem está nos lugares de poder. Escolham-se pessoas isentas de pecado, sempre que possível ou tanto quanto possível. Os que alguma vez mentiram ou foram desleais aos interesses nacionais devem deixar de ter o voto de pessoas conscientes.
O tal staf é constituído por coniventes, por candidatos a benesses, ao enriquecimento ilícito, ao tacho nos bancos ou nas grandes empresas em troca de favores que resultam sempre em prejuízo dos cidadãos anónimos.

A culpa é do povo que tem permitido ser explorado pelos deslumbrados que ambicionam a maior fortuna por qualquer meio.

Um abraço
João
Do Miradouro

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo João,

Devia ter começado por aqui, mas batemos na mesma tecla! Depois a ordem dos factores é arbitrária!
Não é mesmo??? Um texto completa o outro, e fica tudo dito.

O mais relevante aqui, é que parece que sempre fomos mesmo assim...
O texto podia ter sido escrito hoje que estaria perfeitamente actual.

Deve ter a ver com o "Gene" português...
Tipo, deixa andar que algo há-de mudar um dia... sem eu ter que mexer uma palha.
Eu só me queixo... os outros que se manifestem, que lutem, que façam o que eu preciso... mas eu estarei aqui queitinho e caladinho, senão posso perder o tacho...
Haja pachorra!

Beijinhos

A. João Soares disse...

Querida Amiga Ná,

Realmente, um povo assim não merece a democracia, mas apenas uma ditadura que trate as pessoas como ovelhas, como são.
Nada cai no nosso prato sem um esforço, um pagamento. A sociedade é constituída por todos os seus elementos e portanto cada um deve cumprir a sua parte.

Sem o esforço de todos não sairemos desta crise e continuaremos a ser explorados por uns atrevidos ambiciosos deslumbrados.

Beijos
João
Do Miradouro