Trago hoje aqui, um dos muitos simples contos que leio, porque todos eles têm uma lição a dar, sempre!
Este, bem como outros contos deste género, e não só, espero ter a oportunidade de ver serem lidos, por muitas pessoas, que já perderam ou nunca tiveram o salutar hábito da leitura.
O recém criado Clube de Leitura de Campos, Vila Nova de Cerveira, onde habito e do qual faço parte, funciona no Centro Cultural de Campos e está aberto a todos os que queiram retomar o edificante e salutar hábito de ler...ler e voltar a sentir esse gosto quase extinto.
Assim, neste momento, há sessões de leitura de quinze em quinze dias, às segundas feiras, pelas 17:00, seguidas de um chá e uns biscoitos, tudo providenciado pelo Centro Cultural.
Por sermos ainda poucos... para já, e todos pessoas com hábitos arreigados de leitura, começamos por Camilo Castelo Branco e os Doze Casamentos Felizes.
Mas a intenção deste grupo é trazer até si, repito, sobretudo todos os que não lêem ou perderam esse gosto. Estamos a trabalhar nesse sentido e teremos brevemente sessões semanais, assim espero.
Digam lá se não é uma iniciativa louvável.
O Campo de Girassóis
O campo de girassóis estendia-se pela planície; ali cresciam girassóis grandes, pequenos e muito pequenos, plantas de todos os tamanhos. Logo de manhã, levantavam as cabeças e punham-se a olhar para o Sol; e, durante todo o dia, as cabecinhas pasmadas dos girassóis seguiam o movimento do Sol desde que nascia até que se escondia. Quando deixavam de o ver, as cabeças dos girassóis caíam como se não pudessem com tanta tristeza. Todos os dias era aquele bailado de flores seguindo o Sol.
Um girassol, dos tais muito pequeninos, crescia devagar, escondido, encoberto pelos outros. Esse não olhava o Sol; como era muito pequeno, quando os grandes levantavam a cabeça para ver o Sol, ele não via nada: tudo ficava tapado pelas cabeças grandes dos girassóis grandes; portanto, como ele não via o Sol, não havia razão para virar a cabeça como os outros faziam; ficava a olhar para o chão, a ver as formigas e as ervas rasteiras. Por cima dele era um tecto de flores amarelas por onde não passava um único raio de sol. À noite, quando os outros baixavam a cabeça, o girassol muito pequeno podia então ver o céu. O brilho das estrelas deixava-o encantado e dizia: «Tantos sóis! Tantos sóis!» E ficava toda a noite a seguir as estrelas como os outros seguiam o Sol.
Certa manhã, as nuvens cobriram o céu e os girassóis grandes deixaram de ver o Sol; todos se queixaram e as pesadas cabeças inclinaram-se para o chão, privadas do chamamento dos raios do Sol. Como olhavam para baixo, viram o girassol muito pequeno que nem sabia o que era o Sol e não entendia as queixas dos girassóis grandes.
Mas à noite, as estrelas também não apareceram e o girassol muito pequeno sentiu-se triste. Agora já entendia os queixumes dos girassóis grandes, daqueles que olhavam e seguiam o caminho do Sol. Na manhã seguinte, o céu estava ainda encoberto e os raios do Sol não vinham chamar os girassóis para a dança habitual e as grandes cabeças amarelas sentiam-se perdidas sem saberem para onde se virar. Então o girassol muito pequeno falou aos grandes daqueles muitos sóis que ele seguia de noite; e os grandes falaram do Sol quente que seguiam de dia.
— Nunca o vi — dizia o girassol muito pequeno. — Nem sei como é! As vossas cabeças tapam o céu e de dia só posso olhar o chão, as ervas e os animais que se movem a nossos pés.
Os grandes girassóis sentiram-se envergonhados; na sua adoração pelo Sol, não deixavam que um irmão mais pequeno conhecesse aquele que comandava os seus movimentos!
— Vamos deixar-te espaço para que vejas o Sol — prometeram eles. — Mas de noite queremos também olhar esses teus sóis pequeninos.
Quando as nuvens se desfizeram e as estrelas voltaram a brilhar, todos viram o céu estrelado. Na manhã seguinte, os girassóis grandes afastaram-se um pouco; então o girassol muito pequeno viu o Sol e o movimento da sua cabeça deslumbrada acompanhou-o todo o dia.
— Que dizes tu do nosso Sol? — quiseram saber os girassóis grandes. — Não te parece que é lindo?
— Sim, é lindo — respondeu o girassol muito pequeno, ainda estonteado pela luz do Sol. — Mas os meus sóis pequeninos também são lindos! Vou olhar o Sol de dia e as estrelas de noite.
É por isso que no tal campo de girassóis há um girassol muito pequeno que olha para o céu de dia, para ver o Sol, e de noite, para admirar as estrelas.
Natércia Rocha
Castelos de areia
Venda Nova, Bertrand Editora, 1995
Ná
Este, bem como outros contos deste género, e não só, espero ter a oportunidade de ver serem lidos, por muitas pessoas, que já perderam ou nunca tiveram o salutar hábito da leitura.
O recém criado Clube de Leitura de Campos, Vila Nova de Cerveira, onde habito e do qual faço parte, funciona no Centro Cultural de Campos e está aberto a todos os que queiram retomar o edificante e salutar hábito de ler...ler e voltar a sentir esse gosto quase extinto.
Assim, neste momento, há sessões de leitura de quinze em quinze dias, às segundas feiras, pelas 17:00, seguidas de um chá e uns biscoitos, tudo providenciado pelo Centro Cultural.
Por sermos ainda poucos... para já, e todos pessoas com hábitos arreigados de leitura, começamos por Camilo Castelo Branco e os Doze Casamentos Felizes.
Mas a intenção deste grupo é trazer até si, repito, sobretudo todos os que não lêem ou perderam esse gosto. Estamos a trabalhar nesse sentido e teremos brevemente sessões semanais, assim espero.
Digam lá se não é uma iniciativa louvável.
O Campo de Girassóis
O campo de girassóis estendia-se pela planície; ali cresciam girassóis grandes, pequenos e muito pequenos, plantas de todos os tamanhos. Logo de manhã, levantavam as cabeças e punham-se a olhar para o Sol; e, durante todo o dia, as cabecinhas pasmadas dos girassóis seguiam o movimento do Sol desde que nascia até que se escondia. Quando deixavam de o ver, as cabeças dos girassóis caíam como se não pudessem com tanta tristeza. Todos os dias era aquele bailado de flores seguindo o Sol.
Um girassol, dos tais muito pequeninos, crescia devagar, escondido, encoberto pelos outros. Esse não olhava o Sol; como era muito pequeno, quando os grandes levantavam a cabeça para ver o Sol, ele não via nada: tudo ficava tapado pelas cabeças grandes dos girassóis grandes; portanto, como ele não via o Sol, não havia razão para virar a cabeça como os outros faziam; ficava a olhar para o chão, a ver as formigas e as ervas rasteiras. Por cima dele era um tecto de flores amarelas por onde não passava um único raio de sol. À noite, quando os outros baixavam a cabeça, o girassol muito pequeno podia então ver o céu. O brilho das estrelas deixava-o encantado e dizia: «Tantos sóis! Tantos sóis!» E ficava toda a noite a seguir as estrelas como os outros seguiam o Sol.
Certa manhã, as nuvens cobriram o céu e os girassóis grandes deixaram de ver o Sol; todos se queixaram e as pesadas cabeças inclinaram-se para o chão, privadas do chamamento dos raios do Sol. Como olhavam para baixo, viram o girassol muito pequeno que nem sabia o que era o Sol e não entendia as queixas dos girassóis grandes.
Mas à noite, as estrelas também não apareceram e o girassol muito pequeno sentiu-se triste. Agora já entendia os queixumes dos girassóis grandes, daqueles que olhavam e seguiam o caminho do Sol. Na manhã seguinte, o céu estava ainda encoberto e os raios do Sol não vinham chamar os girassóis para a dança habitual e as grandes cabeças amarelas sentiam-se perdidas sem saberem para onde se virar. Então o girassol muito pequeno falou aos grandes daqueles muitos sóis que ele seguia de noite; e os grandes falaram do Sol quente que seguiam de dia.
— Nunca o vi — dizia o girassol muito pequeno. — Nem sei como é! As vossas cabeças tapam o céu e de dia só posso olhar o chão, as ervas e os animais que se movem a nossos pés.
Os grandes girassóis sentiram-se envergonhados; na sua adoração pelo Sol, não deixavam que um irmão mais pequeno conhecesse aquele que comandava os seus movimentos!
— Vamos deixar-te espaço para que vejas o Sol — prometeram eles. — Mas de noite queremos também olhar esses teus sóis pequeninos.
Quando as nuvens se desfizeram e as estrelas voltaram a brilhar, todos viram o céu estrelado. Na manhã seguinte, os girassóis grandes afastaram-se um pouco; então o girassol muito pequeno viu o Sol e o movimento da sua cabeça deslumbrada acompanhou-o todo o dia.
— Que dizes tu do nosso Sol? — quiseram saber os girassóis grandes. — Não te parece que é lindo?
— Sim, é lindo — respondeu o girassol muito pequeno, ainda estonteado pela luz do Sol. — Mas os meus sóis pequeninos também são lindos! Vou olhar o Sol de dia e as estrelas de noite.
É por isso que no tal campo de girassóis há um girassol muito pequeno que olha para o céu de dia, para ver o Sol, e de noite, para admirar as estrelas.
Natércia Rocha
Castelos de areia
Venda Nova, Bertrand Editora, 1995
Ná
9 comentários:
Olá!
Sou o primeiro?!!!
Bem parece que falas demais de Cerveira e das acções em que te envolves.
Não por mim, eu acho louvável!
Elevar o gosto pela leitura é sempre uma acção que merece todo o meu apoio.
O conto é lindo e dá-nos uma grande lição.
Nem todos os grandes, os poderosos, os fortes, conseguem ver as mais belas coisas, as infinitas e insignificantes coisas maravilhosas que tornam a nossa vida bela e lhe dá todo o sentido.
Beijo
José Ferreira
Linda história...
bj
Querida Ná!
Que bela ideia! Acho que tem tudo para ser um sucesso, mais estando lá tu envolvida.
A maioria das pessoas lê revistas cor de rosa e vê a TV.
Ler um livro, nos dias que correm, é algo reservado a um pequeno grupo de pessoas.
Gostava de estar perto de ti para integrar esse grupo. Muito mesmo.
Beijinhos
Beatriz
Querida Ná,
«Quem não lê, chapéu». Era o slogan da Europa -América, há algumas décadas para suscitar o gosto pela leitura. Mais do que leitura, é o contacto com o mundo, com as boas obras, as ideias luminosas, que nos fazem aprender até morrer.
Com a leitura verificamos que há muitos motivos para a reflexão que podem ser expostos de variadas formas, algumas muito engenhosas, como esta do girassol. Os grandes não deixam que os pequenos apreciem o sol, a sua luz, o seu calor, as comodidades que ele nos proporciona.
Já o Samora Machel soube expressar esse fenómeno num cartaz didáctico ao seu povo moçambicano:
uuuuuu
b
...b
......b
.........b
OOOOOO
Vou ver se consigo decifrar para os menos conhecedores desta linguagem!!!
uuus(pequenos) b(descem) ÓÓÓs (grandes).
E ai dos pequenos se não obedecerem aos grandes!!! O Poder está nas mãos dos grandes dos milhões de prémio a somar aos milhões de salários!!!
Beijos
João
Do Miradouro
Querida NÁ,
Como sabe cá por baixo , no Alentejo há lindos campos de girassois, pelo que me deliciei com a história e igualmente com a imagem junta. Não há dúvida que ler é um belo exercício para o cerebro e ajuda a aumentar os nossos conhecimentos. A propósito Vila Nova de Cerveira continua à frente, agora com essa Biblioteca e o grupo de leitura de que faz parte. São estes exemplos que deveriam ser seguidos!
Beijinhos amigos.
QUERO AQUI DEIXAR O MEU CARINHO E AGRADECER PELA SUA VISITA. AMIGOS MORAM NO CORAÇÃO.
SEI QUE ANDO AUSENTE. MAS É UM FUNÇÃO DO MEU TRABALHO. NÃO ESTÁ FÁCIL. PROCURO RESPONDER PELO BLOG. MAS HOJE VIM DEIXAR O MEU CARINHO E DIZER QUE SUA PRESNÇA É MUITO IMPORTANTE. JUNTO CONTRIBUINDO, REALIZAMOS E TROCAMOS EXPERIÊNCIAS. MUITO OBRIGADA PELO SEU CARINHO. ASSIM QUE PUDER EU VOLTAREI. MEUS BLOGS AGRADECEM A SUA VISITA. AMIGOS SÃO CONQUISTAS..SÃO PERFUMEM QUE SE EXALAM NO AR E QUE SÃO LEVADOS PELO VENTO AOS MAIS BELOS JARDIM VIRTUAL..
CARINHOSAMENTE,
SANDRA
Meus queridos amigos, José e cunhada Beatriz.
Estou de saída para a minha manhã de aulas, por isso vou agradecer a todos num só comentário.
Todos concordamos que ler é fundamental por várias razões, até para afastar o temível "alemão".
Em Cerveira, há uma excelente Biblioteca num edifício lindo de morrer, o Solar dos Castros.
Este movimento, ao qual pertenço com muita honra, é aqui mesmo, bem perto de casa, numa das 15 freguesias de Cerveira, Campos, no seu Centro Cultural.
Vamos tirar as pessoas dos sofás e levá-las a ler histórias edificantes em vez de futilidades.
Trazer o gosto pela leitura de volta.
O grupo lê em voz alta, cada pessoa um extracto e tenta sintetizar ou expandir, como quiser.
São estabelecidas comparações, diferenças.
Situa-se a época, fala-se da parte social e até política da época.
O que possam imaginar.
Na última sessão, quando demos conta, já tinham passado duas horas.
Estou, como se sente, muito empolgada e animada com o projecto.
Beijinhos a todos.
Ná
Ná
Que iniciativa brilhante e como gostaria de poder estar perto de vocês para partcipar dessas reuniões.
E que lição nos dá o Campo dos girassóis.
Beijos
Olá,
Campo de girassol é por demais lindo!!!
Desejo a vcs aí uma contemplação linda do que há de melhor nessa cena...
Deus os abençoe!
Abraços amigos
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