26/05/2010

Figura de urso


Queridos amigos e leitores assíduos,
Esta é mesmo a história do dia. Recebida na hora certa e com o teor que eu própria teria escolhido se tivesse tido tempo e arte para escrever tão bem.
Leiam bem e tirem as ilações que quiserem, eu tirei as minhas... garanto-vos!!!

O urso Gingão gostava de dar nas vistas. Mas, por mais que se esforçasse, não conseguia chamar a atenção dos outros bichos. O que é que adiantava aos afazeres de cada qual um urso com um enorme laçarote à volta do pescoço? Nem lhe ligavam.
E o urso Gingão lá ia tirar o laçarote. No dia seguinte, aparecia a fazer o pino. Atravessava a floresta, de cabeça para baixo, ouvido atento a qualquer comentário. Nenhum! Os bichos tinham mais que fazer.
Então, o urso Gingão pegava num violino e ia tocar para uma clareira. Tocava, tocava (pouco bem, aliás!), mas espectadores nem um.
De aí a dias, montado numa bicicleta, pedalava com ganas de corredor:
- Cá vou eu! Cá vou eu!
Fugiam os lagartos, com medo de ficarem sem rabo. Fugiam as doninhas, os coelhos, os texugos, as lebres, as perdizes... Fugiam todos.
E ele que gostava tanto de dar nas vistas! Desanimado, foi procurar outras paragens. Por atalhos e desvios, chegou diante de um palácio. Porque não tentar ali mesmo a sua sorte? Sem cerimónia, como se estivesse na floresta, entrou no palacete iluminado.
Era um baile de máscaras. O urso fez sensação. Tocou violino. Muitas palmas. Fez o pino. Mais palmas. Deu cambalhotas e perdeu o tino. Mais e mais palmas. No mais animado da festa, a dona da casa anunciou:
- Meus queridos convidados, chegou o momento de tirarem as máscaras. Quero ver os vossos rostos amigos.
Os piratas desfizeram-se das palas, as bruxas dos narizes, os sultões dos bigodes. Só o urso ficou, no meio da sala, um pouco comprometido.
- Quer que eu puxe o fecho de correr? - perguntou uma senhora, muito amável.
Muitas outras mãos acorreram. E procuravam, fazendo cócegas, os botões, o fecho, os colchetes...
- Mas é um urso de verdade! - exclamou, aterrorizado, um senhor vestido de general.
As luzes quase desfaleceram de susto. Tudo fugiu, numa grande gritaria.
Só ficou na sala o urso. Afinal, tinham-no tomado por aquilo que ele não era.
Cabisbaixo, voltou à floresta, saboreando pensamentos novos.
Parece que o urso Gingão ainda toca violino, mas porque gosta. Já não quer dar nas vistas. Perdeu a presunção num baile de máscaras.

Por António Torrado | Cristina Malaquias, 26 de Maio de 2009


Na casa do Rau

11 comentários:

Tite disse...

Já vi que está na moda voltar às fábulas para ensinar... boas maneiras.

Beijosssss

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Fernanda Ferreira escreveu:

Caros amigos,

Felizmente que tenho recebido todas as vossas histórias já há algum
tempo, não posso agora precisar.

Não sei o que fiz para as receber, mas devo ter feito algo
maravilhoso. Abençoada a hora em que o fiz.

Gostaria de saber como posso ter acesso às histórias e contos
anteriores, se é que há alguma forma, passo a explicar porquê.

Tenho lido e divulgado todas as histórias que me têm enviado, com os
devidos créditos, mencionando a sua origem e autor, nos Blogues a que
pertenço / colaboro ou ainda possuo.

Para além disso, faço parte de um Clube de Leitura, que tem como
projecto levar as pessoas que perderam o hábito salutar da leitura a
ser estimulado, por forma a que se sintam de novo atraídas a fazê-lo.

Trabalhamos no Centro Cultural de Campos, Vila Nova de Cerveira, em
regime de total voluntariado, às segundas feiras às 17;30, com pessoas
de várias idades, mas todos com mais de 50 anos e basicamente com
parcos conhecimentos, tornando-se para tal a leitura destes contos
muito aliciante por simples e ter sempre uma lição , uma moral a tirar.

Explicadas as razões, aproveito para agradecer e felicitá-los pelo v/
projecto.

Melhores cumprimentos

Fernanda Ferreira


Cara Fernanda,

Muito obrigada pelas palavras simpáticas. De facto, é por pessoas como a Fernanda que vale a pena continuar este projecto.

Os e-mails para os quais enviamos histórias semanalmente chegam-nos de diferentes formas: as próprias pessoas pedem, pessoas que enviam e-mails de outros amigos ou das nossas pesquisas na Internet. O seu endereço chegou até nós de uma destas 3 formas. No entanto, não receie, pois este projecto já vai no 4º ano e NUNCA estivemos associados a qualquer tipo de spam. A natureza e os objectivos deste projecto estão explícitos no texto que segue sempre após a história.
Desejamos que continue a desfrutar da leitura das histórias semana após semana.

Ainda bem que as partilha com outras pessoas, fazendo despertar nelas também alguns sorrisos e reflexões certamente.
Muitos parabéns pelo trabalho fantástico que está a desenvolver!

Ana

Recebido por e-mail agora mesmo.
Beijos

Luis disse...

Querida Amiga NÁ,
Esta ideia de postar contos é giríssima! Quanto ao coitado do Urso acontece haver um em cada esquina... e por vezes de nada se apercebem! Este ainda acabou por saber que a fazia!!!
Beijinhos amigos.

A. João Soares disse...

Querida Ná,

Cada um é como é. Quem fez figura de urso não foi ele, mas os figurantes do baile de máscaras. Uma grande parte das pessoas anda sempre a fazer figura de urso ou de outra qualquer coisa, ou com um carro caro que ainda não está pago, ou com a cor do cabelo (senhoras), ou com roupas novas só porque estão na moda, etc.
A vida de muita gente é um palco, com comédias variáveis conforme as circunstâncias. Como é bom sermos sempre iguais a nós mesmos, com defeitos e virtudes, fiéis aos nossos sentimentos e pensamentos mais nobres, sem procurarmos aplausos ou votos!

Beijos
João
Site da Mentira

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Olá Tité!

Não sabia que era moda, nas se for tanto melhor!
Alguém vai lendo e tirando as suas conclusões, talvez até lições.

Beijinhos

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido amigo Luís,

Infelizmente há muita gente a fazer figura de urso (pobre do bicho)!
Eles estão em todo o lado a viver de aparências, em exibições ridículas, um sem fim de actos tristes.

Lembrei-me da Sophia de Mello Breyner
quando diz "Porque os outros se mascaram mas tu não...."

Beijinhos

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querido amigo João,

O pobre do urso só entra na história por causa do ditado.
Podia ser outro animal qualquer. Nem sei porque razão decidiram achar que o urso é que faz figuras ridículas!!!

A moral é mesmo essa,anda para aí muita gente a fazer-se passar por quem não é...
Essa das senhoras pintarem o cabelo mexeu comigo :)))))
mas como tendo cabelo, muitos "homens" também o pintam, já estou mais sossegada :))))

Beijinhos

Unknown disse...

Querida Ná,
este texto é apenas uma história mas aplica-se muito bem a muita gente na vida real.

As pessoas valem por aquilo que são e não pelo que aparentam ser ou ter!

Gostei muito!

Beijinhos,
Ana Martins

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querida Ana,

Todas estas histórias terão uma lição clara a dar.
Essa é a sua principal função.

Como muito bem dizes, as só valem pelo que são.

Beijinhos

Maria Beatriz Ferreira disse...

Ná, querida !

Este foi o conto que mais agradou as minhas netas e não só.
Até a Daniela amou a imagem e ria, ria muito.

Adoramos estes contos que publicas.

Beijinhos
Beatriz

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Olá Beatriz,

Fico muito feliz por saber que os contos são lidos pela família e até as pequeninas já o fazem.

Publicarei sim.

Beijinhos