13/01/2011

A DIGNIDADE PERDIDA

DIZER NÃO

Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.
Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.
Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.
Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.
Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.
Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.
Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.
Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenando-nos em gado sob o comando de um pastor.
Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.
Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.
E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade. 
Virgílio Ferreira


  DEIXAR QUE CORRAM NATURALMENTE OS DIAPOSITIVOS
Beijinhos

2 comentários:

A. João Soares disse...

Amiga Fê,

O texto converge com as legendas da imagem formando uma lição muito oportuna. A humanidade tem regredido muito desde os tempos primitivos, no que toca às relações com os outros sejam família, vizinhos, colegas ou outros indiscriminados. Deixou de haver respeito por valores éticos e pelos direitos dos outros. Há crimes de homicídio, há profissionais pouco cumpridores como os militares que deixaram desaparecer armas de um quartel de tropas de elite, dois generais que se aumentaram os salários de forma a serem citados nos jornais, negócios de contracto directo, em que não faltam suspeitas de corrupção, políticos que enriquecem rapidamente sem haver explicação com rendimentos legítimos, despesas públicas desnecessárias e exorbitantes, etc.
Os animais que teimamos em denominar selvagens e irracionais, dão lições aos humanos, em vários aspectos. Ouvi hoje ao almoço esta frase: «A humanidade está tão enlouquecida, desprezando valores e princípios, que já precisa de seguir os exemplos de animais ditos selvagens e irracionais, mas que se mostram mais sociáveis e regrados do que os humanos. Deus deve estar arrependido de ter construído um mundo assim e deve estar a pensar em se demitir!!!». A frase é irónica mas dá muito que pensar. A Natureza não foi criada para os humanos se degradarem de tal forma. Inventam maravilhas tecnológicas para reduzir o esforço, para os substituir no trabalho, mas não aprendem a aproveitar o ócio de forma civilizada, positiva, construtiva.

Beijos
João
Saúde e Alimentação

Luis disse...

Minha Querida Amiga Fê,
Este seu post é um grito de raiva pelo que estamos a vegetar! A indignação é um direito de todos os espoliados por esta classe política que nos tem (des)governado até agora! A propósito disso vou transcrever um artigo que define bem o que eles nos têm feito:
"Diálogo entre Colbert e Mazarino

Excelente diálogo do tempo da outra senhora…. e de como se faziam as coisas já naquela altura!!!!!
ATAQUE À CLASSE MÉDIA
• Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o
contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me
explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está
endividado até ao pescoço…
• Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de
dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado… o Estado, esse, é diferente!!! Não
se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se…
Todos os Estados o fazem!
• Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de
dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos
imagináveis?
• Mazarino: Criam-se outros.
• Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
• Mazarino: Sim, é impossível.
• Colbert: E então os ricos?
• Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta
faz viver centenas de pobres.
• Colbert: Então como havemos de fazer?
• Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um
doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os
que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a
esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses,
quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes
tirámos. É um reservatório inesgotável."

in Le Diable Rouge, de Antoine Rault
Um beijinho muito amigo e solidário.