20/11/2008

FILHOS

Imagem da net



Aos meus queridos amigos e leitores trago aqui este tema por achar verdadeiramente importante, e muito adequado aos tempos que hoje vivemos. Recebido por e-mail em pps.

Para quem é pai/mãe e para aqueles que o serão...
Texto de Affonso Romano de Sant'Anna.

Há um período em que os pais vão ficar órfãos dos seus próprios filhos.
É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estagnados.

Crescem sem pedir licença à vida.
Crescem com uma estridência alegre, e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias de igual maneira.
Crescem de repente.

Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu?
Que é que aconteceu à pazinha de brincar na areia, às festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme de infantário?

A criança está crescendo num ritual de obediência e desobediência civil...
E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça!
Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e cabelos longos, soltos.

Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração:
Incómodas mochilas da moda nos ombros.

Ali estamos nós, com os cabelos esbranquiçados.
Eles são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas das notícias e da ditadura das horas.

E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros.
Principalmente com os erros que esperamos que não se repitam.

Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos.
Não mais os pegamos nas portas das discotecas e das festas.
Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judo.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante das suas próprias vidas.

Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidencias entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, posteres, agendas coloridas e discos ensurdecedores.

Não os levámos o suficiente ao playcenter, ao shopping, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes comprámos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, pascoas, piscinas e amiguinhos.
Sim, havia a disputa pela janela, os pedidos de chicletes e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.

Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente morriam de saudades daquelas "pestes".

Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito.
( nessa hora se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar ) para que eles acertem nas escolhas em busca da felicidade, e que a conquistem do modo mais completo possível.

O jeito é esperar.
A qualquer momento podem dar-nos netos.
O neto é a hora do carinho ocioso e estafado não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer connosco.

Por isso os avós são tão desmesurados,a distribuírem tão incontrolável carinho.
Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afecto.
Por isso é necessário fazer alguma coisa mais antes que eles cresçam.

Aprendemos a ser filhos depois que fomos pais...
" Só aprendemos a ser pais depois que somos avós...

4 comentários:

Mariazita disse...

Minha querida amiga Ana Martins.
Este texto, belíssimo, tem todos os condimentos para ser do meu inteiro agrado.
Cito apenas dois:
- É da autoria de Luís Fernando Veríssimo, de quem sou "fã de carteirinha" - como dizem os brasileiros.
- O assunto versado - filhos (e pais e avós...)- é um tema, para mim, apaixonante.
Muito se tem dito e escrito sobre este tema, mas o assunto é inesgotável.
Parabéns pela escolha! Nota 10!!!
Um dia feliz.
Beijinhos
Mariazita

A. João Soares disse...

Querida Amiga Ana Martins,
Este é um tema muito interessante para a estratégia editorial deste blog.
A importância dos avós na educação dos netos, coisa que está a ser pouco aproveitada e muitas vezes rejeitada.
Pais e avós têm no entanto que respeitas a individualidade das crianças e, sem lhes querer atrofiar a própria personalidade em desenvolvimento, devem transmitir o saber e a experiência da vida por forma a facilitar o percurso do crescimento sem as dores das quedas graves.
Estou convicto de que os visitantes mais assíduos irão apreciar esta escolha da amiga a e colega Ana Martins. Os meus parabéns.
João

Anónimo disse...

Eu, egoísta como sou, morro de medo do dia em que ficarei orfã das minhas filhas.
Bem que na idade em que estão (uma com 12 e uma com 10) eu já começo a sentir isso tomando forma.
Mas gosto de pensar que a vida é um retorno para casa.
Gostei muito daqui do seu cantinho
Bjinhos

Táxi Pluvioso disse...

Quem tem filhos tem... boas possibilidades de ser abandonado numa estação de serviço ou numa urgência de hospital.