28/12/2010

Virtudes portuguesas segundo ex-embaixador britânico


É com muito prazer que publico este texto que me tem chegado pela mão de vários amigos. Nem tudo é mau cá pelo rectângulo.


Coisas que nunca deverão mudar em Portugal
Artigo do Embaixador da GB ao deixar Portugal: Expresso 18 Dez 2010

Portugueses: 2010 tem sido um ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O espírito do momento é de pessimismo, não de alegria. Mas o ânimo certo para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me, em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim, eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.
Embaixador da Grã Bretanha


1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade, para benefício de todos. 

2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc, tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.

3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.

4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.

5. O café e os cafés. Os lugares são simples, acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.

6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim de semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.

7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.

8. As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.

9. A curiosidade sobre, e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes, nos nomes. Portugal é um pais ligado, e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.

10. Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.

Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços. Feliz Natal.

Imagem do Google

2 comentários:

Luis disse...

Caríssimo Amigo João,
Concordo com as declarações deste embaixador que vem ao encontro de um outro também britânico que faz igualmente um elogio a Portugal e aos portugueses. Pena é que os nossos (des)governantes andem a estragar tudo isto!!!
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

O professor João César das Neves diz em artigo que transcrevi: «O mais irónico é que os nossos intelectuais costumam desprezar o povo e a cultura nacional, quando o único grande defeito do País está na mediocridade das elites».

Falta aos portugueses a sabedoria de reclamar de saber reclamar com visibilidade e oportunidade sem cair na alçada da polícia. O exemplo de dois iranianos faz pensar, quando atravessam a Europa de bicicleta com cartaz que exibem nas localidades a favor da PAZ.
Não consta que Portugal tenha sido atravessado por indivíduos a reclamar do aumento do IVA, dos transportes, do PÃO, da corrupção, dos bancos, etc. Esperam que outros lhes resolvam os problemas e esperam que lhes levem os resultados numa bandeja. Limitamo-nos a desabafar no café ou no banco do jardim entre amigos. Onde está a coragem e o dever de cidadania?
A regra ainda é o medo, a resignação, a sujeição.

Mas, segundo algumas opiniões, o descontentamento será mais notório, com sinais de indesejável gravidade, nos fins de Janeiro, quando as famílias se aperceberem claramente que os salários recebidos são inferiores ao habitual, tornando-se difícil fazer face ao aumento de preços dos transportes, do PÃO e de outros produtos essenciais para a alimentação do agregado familiar.

Oxalá, nessa altura não surja a anunciada «explosão social espontânea», descontrolada e com o perigo de muitos prejuízo para inocentes, sem serem lesados os reais inimigos públicos.

Um abraço
João
Do Miradouro