19/02/2011
Crise e salários chorudos: onde pára o bom senso?
A nossa Comunicação Social começa a acordar ainda que tardiamente... Mas como diz o Povo mais vale tarde que nunca!
In Agência Financeira
Os salários milionários e prémios chorudos dos administradores das empresas públicas nacionais têm sido alvo de controvérsia nos últimos tempos. Quais são as obrigações morais de um gestor em tempo de crise? E deverão as empresas que dão prejuízo continuar a premiar quem as gere?
«É puro bom senso», diz o autor do livro «Responsabilidade Civil dos Administradores - Os Deveres Gerais e a Corporate Governance» que é apresentado esta sexta-feira, em Lisboa. Em entrevista à Agência Financeira, Filipe Barreiros explicou que «em termos morais, se uma empresa está a dar continuo prejuízo e se ainda vou receber um bónus por bom desempenho, alguma coisa está errada. Não vou estar a premiar quem me deu prejuízo». A Estradas de Portugal, a TAP e a Águas de Portugal são exemplos de companhias que registam perdas e pagam na mesma ordenados e prémios bem acima da média.
O caminho deve ser sim a «meritocracia», ou seja, «um gestor deve ser premiado pelos seus bons desempenhos e quem diz um administrador, diz um trabalhador, desde o senhor da limpeza até ao gestor. Se tem um bom desempenho por mérito deve ser recompensado. E não ao contrário. É como irmos ao restaurante e darmos ou não gorjeta ao empregado que nos atende. Se sou mal atendido, não dou».
O exemplo vem de cima
Já quando uma empresa tem um bom desempenho como é o caso da EDP, poderá haver justificação para o vencimento milionário do presidente executivo António Mexia, um dos gestores mais bem pagos da Europa?
«As políticas remuneratórias de uma empresa privada apresentam uma liberdade total de movimentos. Enquanto cidadão, obviamente que me pode escandalizar, face à conjuntura económica que o país atravessa, que existam gestores com ordenados multimilionários ou que existem pensões douradas assustadoras para o comum dos mortais. Mas analisando em que moldes o gestor foi contratado, os investimentos que fez e se poderão trazer benefícios a médio e longo prazo para a empresa» a perspectiva é outra.
«A transparência - incluindo no que toca às remunerações dos administradores - é muito importante para que eu, accionista, quando vou investir estar perfeitamente esclarecido de como é toda aquela organização. É sempre uma faca de dois gumes: essa transparência, essa informação divulgada quase à semelhança do que aconteceu com o WikiLeaks poderá gerar convulsões dentro da própria empresa, entre os trabalhadores? Depende sempre da forma como a informação é transmitida». E, no caso do presidente da EDP, «será reconhecido por todos os grandes investimentos que a empresa terá feito em múltiplas áreas e investimento estrangeiro».
Certo é que as empresas públicas têm maiores responsabilidades, deverão dar elas próprias o exemplo aos privados, porque «estão a gerir dinheiro de todos nós, de todos os contribuintes». «Se os deveres deveriam ser mais explicitados? Penso que sim. Deveria haver uma maior responsabilidade e responsabilização de quem está à frente? Penso notoriamente que sim. Se isso na prática acontece, esperemos que sim».
Fazendo notar que «há excelentes profissionais que estão em empresas privadas, mas também em públicas», Filipe Barreiros frisou ainda que «não devemos julgar os administradores como se fossem sempre os mauzões. Tem de se partir sempre do princípio de que muitas vezes é em épocas de crise que surgem oportunidades. É preciso arriscar. O projecto pode vir a verificar-se um falhanço total, mas também uma janela de oportunidade. E aí o gestor também tem de ter necessariamente, até para bem da economia, o seu poder e a sua liberdade de movimentos».
Veja também o que diz Filipe Barreiros sobre quem deve dar a cara nas falências e como seria se o Estado estivesse nas mãos de um gestor.
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5 comentários:
Caro Luís,
Acho que quando se referem salários milionários deve referir-se a quantos salários mínimos correspondem.
Não é fácil o problema ser moralizado porque o bando tem poder sobre os líderes partidários que não podem levantar contestações entre os amigalhaços do Ali Babá, porque este sabe que «quando se zangam as comadres sabem-se as verdades».
Por outro lado tais empresas constituem os «lares da terceira idade» para políticos reformados e creche para jovens sem capacidades para a competitividade na actividade privada!!!
Isto está tudo podre e, se vamos argumentar com moral, então deve aplicar-se um raticida para limpar de vez todos os predadores que sacam todo o dinheiro dos impostos até ao último cêntimo.
Seria bom que os governantes olhassem bem para o que está a acontecer no Magrebe e no Médio Oriente, porque se não tomam juízo serão corridos. Por outro lado, na sua louca ambição, são capazes de tirar outra conclusão: deixa cá roubar o máximo enquanto me for possível!!!
Um abraço
João
Do Miradouro
Caríssimo Amigo João,
Vamos lá ver se o MILHÃO irá à AVENIDA DA LIBERDADE e haverá uma RESTAURAÇÃO do Bom-Senso!!!
Um abraço amigo.
Não deveria a UE levar os seus deputados à Suecia verificar como estão instalados os deputados daquela nação (estes teem orgulho em servir a nação), para copiarem e aprenderem a lição.
abraço
Quanto aos salários milionários dos gestores sou contra, eles se recebem gratificações quando há lucros deviam, também pagar quando há prejuízos mas, aí, quem paga são os trabalhadores. Espero que este povo não se esqueça que o PS e o PSD foram contra a diminuição dos salários desses senhores mas a favor da diminuição dos salários dos funcionários públicos e dos subsídios aos desempregados, etc. Lembrem-se na hora de votar e façam justiça.
Caros Amigos,
Estamos num momento da história que vai ser de forte viragem, pelo que se vê em muitos países do Norte de África e do Médio Oriente, pontos muito importantes na geoestratégia global. Por isso os governantes e os deputados deviam, em vez de andar a mandar loas vazias de conteúdo, dedicar tempo a meditar na situação e preparar mudanças internas a fim de não virmos a ser engolidos pelos «ventos da história».
Recebi agora este texto. Leiam e reparem na data:
"...estamos num estado comparável sómente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito.
Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva poderá ...vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se, a par, a Grécia e Portugal". (Eça de Queirós, as Farpas, 1862)
A humanidade adormeceu. Só acorda pela mão dos técnicos que desenvolvem as tecnologias, mas o que tem a ver com o espírito humano continua adormecido.
Abraços
João
Só imagens
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