08/09/2010

Valores éticos e personalidade

Transcrição seguida de NOTA:

Jornal de Notícias. 08-09-2010. Por Luís Portela

A experiência terrena de alguns milénios centrou a atenção dos seres humanos no exterior. Provavelmente pela necessidade de sobrevivência, a que se terá seguido a necessidade de segurança, de relacionamento harmonioso com os reinos mineral, vegetal e animal e, sobretudo, com os outros homens.

A humanidade, focada no exterior, conseguiu um domínio esmagador de tudo à sua volta, procurando condições de vida material cada vez mais favoráveis. Ressalta, porém, alguma insatisfação da generalidade dos seres humanos.

Insatisfação provavelmente proveniente do egoísmo humano, que foi desprezando os valores universais e ferindo, em seu proveito, os diferentes reinos da Natureza, de forma evidentemente desarmoniosa. Mas, insatisfação também resultante do exagero da atenção que os seres humanos têm dedicado ao exterior, esquecendo-se de focarem a atenção no seu interior.

Parece que só uma profunda análise interior, na busca de uma maior compreensão de quem somos e de quais os nossos reais objectivos na experiência terrena, nos permitirá sentir a dor e a alegria dos outros, compreender o nosso papel no Todo Universal, desenvolver a sensibilidade, a tolerância, a compaixão e a sabedoria que nos possibilite um superior grau de realização. Impõe-se, então, um maior trabalho interior de auto-análise, de abertura de consciência, de compreensão mais profunda de quem somos.

O facto de biliões de seres humanos continuarem a sofrer de pobreza, fome, opressão, humilhação e brutalidade parece tornar imperiosa a substituição do objectivo central da experiência humana da sobrevivência para o crescimento espiritual. E o crescimento espiritual consiste em criar uma compreensão mais profunda do nosso eu, percebendo como pelo nosso pensamento podemos introduzir melhorias em nós próprios e como essas melhorias podem ter impacto no mundo.

NOTA: O desprezo pelos valores éticos e pelo crescimento espiritual, tem levado a graves agressões ao ambiente, ao esgotamento dos recursos naturais à poluição, às catástrofes e à fome que aflige quase meio mundo naturais.

Este assunto tem sido aqui abordado por várias vezes. Os seguintes links apresentam temas convergentes com o deste artigo:

- O Steve Jobs da publicidade fartou-se do capitalismo?
- Dispensar excessos, consumismo e ostentação

8 comentários:

orvalho do ceu disse...

Olá,
O autoconhecimento gera o crescimento espiritual e noutros níveis também...
Integrados, poderemos, perfeitamente, dar nossa contribuição para a qualidade de vida do nosso Planeta e dos vivientes... que gritam por mais VIDA.
Abraços fraternos com votos de paz interior.

Saozita disse...

Caro amigo João. Os valores éticos e morais, tendem a desaparecer ou não seremrespeitados, numa sociedade regida pelas leis de mercado e onde imperam os cifrões!

O homem é o maior predador do planeta, o mais ganancioso e invejoso.

Para se alterarem estas tendências, seria também necessário acabar com a pobreza, que gera a guerra, a miséria que tráz a fome.

Boa semana.
Bj

Sãozita

Celle disse...

Importante texto, João, e o complemento com um resumo da visão de Michel Quoist -Poucos homens merecem o nome de homem.
O homem bem construido o é em três planos: o físico, o sensível e o espiritual.Os planos reagem uns sõbre os outros, mas sua hierarquia deve ser respeitada, sendo o físico o ultimo, o menos nobre, e o espiritual está acima de todos. Se a ordem dos valores não for conservada o homem se desagrega. Alguns homens andam de cabeça para baixo, e isto não é normal.O físico tomou o comando. Outros caminham de rastros é a sensibilidade dominando. A afeição se torna paixão. A sensibilidade domina e paralisa o espirito. "O homem precisa estar de pé", com seu espirito inteiramente livre, comandando a sua sensibilidade e o corpo. Se o corpo precisa de alimento também é preciso fortalecer o espírito e os sentidos com conhecimentos e estudos. O homem não pode manter-se de pé; seu corpo muito pesado, sua sensibilidade, muito sedutora, ele precisa de força espiritual que o atraia para cima, para o alto e o sustente e o tranforme interiormente. Quando o homem se mantiver de pé, altruista, olhará ao seu redor e verá a realidade que o cerca. Enquanto só,o homem não é auto suficiente, se ligando a todos os outros homens, por estímulo, amor, exemplo e fidelidade, aumentará sua sensibilidade, sua força e sua espiritualidade o levarão a agir não só preocupado em ter mas, primeiramente em ser. Assim acredito, está faltando Deus nas nossas vidas!

A. João Soares disse...

Amiga Orvalho do Céu,

É preciso conhecermos o nosso funcionamento físico e psíquico, mantermos a máquina a funcionar bem melhorando aquilo que exige aperfeiçoamento. Temos aqui publicado, pela mão de vários autores, belas lições de ética, de bem viver, que devem ser interiorizadas e postas em prática em cada momento da vida. Todo o momento é importante e não deve ser desperdiçado, a serenidade, a ponderação devem estar presentes nas pequenas e nas grandes decisões. Agir por capricho de momento ou por exaltação não é benéfico nem sinal de
equilíbrio psíquico.
Desejo que nunca nos falte a luz do farol que nos indica o melhor caminho.
Felicidades para si e os seus.

Beijos
João
Do Miradouro

A. João Soares disse...

Amiga Sãozita,

O que diz é certo, mas não podemos fugir à responsabilidade que nos cabe, a cada um, de contribuir para que o mundo melhore. A humanidade é constituída por todos os seres humanos e nenhum está dispensado de contribuir para um mundo mais pacífico e em que o respeito por todos seja uma realidade. Devemos assumir a responsabilidade de acatar os bons princípios que nos devem nortear. Não pode haver um momento de capricho, exaltação imponderada que destrua aquilo que fizemos antes. O bom marinheiro não é o que faz lindas manobras num lago sem ondas mas o que no alto mar atravessa a procela e consegue levar o barco ao destino.
Uma aventura irracional é como um suicídio. E um acto incorrecto pode destruir o destino de uma viagem.
Sobre a injustiça social, o fosso entre os mais ricos e os mais pobres é fruto de uma doença social em que domina a ganância irracional.
Em posts recentes e nos comentários neles inseridos, no Do Miradouro, apontei o dedo aos empresários que, para obterem mais riqueza querem aumentar a pobreza, por todos os meios, o que é sinal da sua ignorância, estupidez e falta de senso, porque deviam ver que, para fazer mais negócio, precisarão de mais clientes com poder de compra e não de pobres que nada podem consumir. As grandes empresas deviam ter a consciência de que é do seu interesse eliminar a pobreza, distribuir melhor os rendimentos dando poder de compra aos mais pobres.

Um abraço
João
Do Miradouro

A. João Soares disse...

Amiga Celle,

Gosto imenso deste seu texto. É pena que esteja num espaço pouco visível, o do comentário, pois o seu lugar deve ser num post bem às claras para as pessoas lerem e meditarem. Gostava de a ver seguir esta sugestão, com um título expressivo para ser fácil de encontrar numa busca por uma lição para a vida, positiva, com valor.

E nem tenho mais palavras a acrescentar ao seu belo comentário, que vem de uma alma grande e generosa.

Beijos
João
Do Miradouro

Unknown disse...

Boa noite João,
nunca é demais trazer aqui este tema. Os valores éticos e morais estão a perder-se cada vez mais, porque as pessoas na sua ganância pelo dinheiro e poder, ficam cegas e passam por cima de tudo e de todos.
Hoje as pessoas estão insensíveis e depressa esquecem o que de bem se fez, mesmo que seja por elas. Não têm o menor problema em magoar os outros, desde que os seus objectivos sejam cumpridos.
Ás vezes quando olho o mundo, sinto uma enorme tristeza, o meu marido costuma dizer, "quanto mais conheço os outros, mais gosto de mim". Eu acho que ele está coberto de razão.

Beijinhos,
Ana Martins

A. João Soares disse...

Amiga Ana,

É como diz. Concordo com o desabafo do deu marido, mas coloco um alerta.
Embora gostar de nós seja o ponto de partida para gostar dos outros e do ambiente, exige um auto-exame diário para evitar o egocentrismo, a arrogância, a vaidade, a intolerância, o incumprimento de compromissos, a frustração de expectativas criadas nos outros, a incoerência entre o que se diz e o que se faz.
Como a Ana diz, nunca é de mais repetir estes conceitos, a fim de se contribuir para uma humanidade mais harmoniosa, pacífica, solidária.
É imperioso, parar para pensar, para fazer uma autocrítica, olhar para os outros sem medos nem preconceitos, apenas com curiosidade de compreender e vontade de dialogar.

Beijos
João
Do Miradouro