Nasceu em Turím, Itália, em 1909 e obteve o título de Medicina na especialidade de Neurocirurgia.
Por causa de sua ascendência judia, viu-se obrigada a deixar a Itália um pouco antes do começo da II Guerra Mundial. Emigrou para os Estados Unidos onde trabalhou no Laboratório Victor Hambueger do Instituto de Zoologia da Universidade de Washington de San Louis.
Em 1951 foi ao Brasil, para realizar experiências de culturas «in vitro» no Instituo de Biofísica da Universidade do Rio de Janeiro, onde, em Dezembro do mesmo ano, a pesquisadora conseguiu identificar o factor de crescimento das células nervosas (Nerve Growth Factor, conhecido como NGF). Esta descoberta valeu-lhe, em 1986, o Prémio Nobel para a Medicina, junto com Stanley Cohen.
- Como vai celebrar seus 100 anos?
- Ah, não sei se viverei até lá, e, além disso, não gosto de celebrações. No que eu estou interessada e gosto é do que faço em cada dia!
- E o que faz você?
- Trabalho para dar uma bolsa de estudos para as meninas africanas para que estudem e prosperem... elas e seus países. E continuo investigando, continuo pensando.
- Não vai aposentar-se?
- Jamais! Aposentar-se é destruir o cérebro! Muita gente aposenta-se e abandona-se...E isso mata seu cérebro. E adoece.
- E como está seu cérebro?
- Igual a quando tinha 20 anos! Não noto diferença em ilusões nem em capacidade. Amanhã vôo para um congresso médico.
- Mas terá algum limite genético ?
- Não. Meu cérebro vai ter um século... mas não conhece a senilidade... O corpo se enruga, não posso evitar, mas não o cérebro!
- Como você faz isso?
- Possuímos grande plasticidade neural: ainda quando morrem neurônios, os que restam se reorganizam para manter as mesmas funções, mas para isso é conveniente estimulá-los!
- Ajude-me a fazê-lo.
- Mantenha seu cérebro com ilusões, activo, faça com que ele trabalhe e ele nunca se degenerará.
- E viverei mais anos?
- Viverá melhor os anos que vive, é isso o interessante. A chave é: manter curiosidades, empenho, ter paixões... veja... não me refiro a paixões físicas especificamente... simplesmente tenha paixões.
- A sua foi a investigação cientifica...
- Sim e continua sendo.
- Descobriu como crescem e se renovam as células do sistema nervoso...
- Sim, em 1942: dei o nome de Nerve Growth Factor (NGF, factor do crescimento nervoso), e durante quase meio século houve dúvidas, até que foi reconhecida sua validade e em 1986, deram-me o prêmio por isso.
- Tornou-se neurocientista?
- Desde menina tive o empenho de estudar. Meu pai queria me casar bem, que fosse uma boa esposa, boa mãe... E eu não quis. Fui firme e confessei que queria estudar.
- Seu pai ficou magoado?
- Sim, mas eu não tive uma infância feliz: sentia-me feia, tonta e pouca coisa... Meus irmãos maiores eram muito brilhantes e eu me sentia tão inferior...
- Vejo que isso foi um estímulo...
- Meu estímulo foi também o exemplo do médico Albert Schweitzer, que estava em África para ajudar a combater a lepra. Desejava ajudar aos que sofrem, isso era meu grande sonho!
- E você tem feito... com sua ciência.
- E, hoje, ajudando as meninas da África para que estudem. Lutamos contra a enfermidade, a opressão da mulher nos países islâmicos por exemplo, além de outras coisas...
- A religião freia o desenvolvimento cognitivo?
- A religião marginaliza muitas vezes a mulher perante o homem, afastando-a do desenvolvimento cognitivo, mas algumas religiões estão tentando corrigir essa posição.
- Existem diferenças entre os cérebros do homem e da mulher?
- Só nas funções cerebrais relacionadas com as emoções, vinculadas ao sistema endócrino. Mas quanto às funções cognitivas, não tem diferença alguma.
- Por que existem ainda poucas cientistas?
- Não é assim! Muitos descobrimentos científicos atribuídos a homens, realmente foram feitos por suas irmãs, esposas e filhas.
- É verdade?
- A inteligência feminina não era admitida e era deixada na sombra. Hoje, felizmente, tem mais mulheres que homens na investigação cientifica: as herdeiras de Hipatia!
- A sábia Alexandrina do século IV...
- Já não vamos acabar assassinadas nas ruas pelos monges cristãos misóginos, como ela foi. Claro, o mundo tem melhorado algo...
- Por que tem uma alta porcentagem de judeus entre cientistas e intelectuais?
- A exclusão estimula entre os judeus os trabalhos intelectivos e intelectuais: podem proibir tudo, mas não que pensem! E é verdade que tem muitos judeus entre os prêmios Nobel...
- Como você explica a loucura nazista?
- Hitler e Mussolini souberam como falar ao povo, onde sempre prevalece o cérebro emocional por cima do neocortical, o intelectual. Conduziram emoções, não razões!
- Isto está acontecendo agora?
- Porque você acha que em muitas escolas nos Estados Unidos é ensinado o creacionismo e não o evolucionismo?
- A ideologia é emoção, é sem razão?
- A razão é filha da imperfeição. Nos invertebrados tudo está programado: são perfeitos. Nós não. E, ao sermos imperfeitos, temos recorrido à razão, aos valores éticos: discernir entre o bem e o mal é o mais alto grau da evolução darwiniana!
- Você nunca se casou ou teve filhos?
- Não. Entrei no campo do sistema nervoso e fiquei tão fascinada pela sua beleza que decidi dedicar todo meu tempo, minha vida!
- Lograremos um dia curar o Alzheimer, o Parkinson, a demência senil?
- Curar... O que vamos lograr será frear, atrasar, minimizar todas essas enfermidades.
- Qual é hoje seu grande sonho?
- Que um dia logremos utilizar ao máximo a capacidade cognitiva de nossos cérebros.
- Quando deixou de se sentir feia?
- Ainda estou consciente de minhas limitações!
- Que tem sido o melhor da sua vida?
- Ajudar aos demais.
- O que você faria hoje se tivesse 20 anos?
- Mas eu estou fazendo!!!!
A Dra. Rita Levi-Montalcini é, desde 2001, Senadora Vitalícia da República Italiana, nomeada directamente pelo Presidente Carlo Azeglio Ciampi.
Entrevista: recebida por e-mail
5 comentários:
Mensagem otimista.
Bom final de semana.
Beijinhos.
Cara Ana Maria,
O optimismo, desde que não seja exagerado, é uma virtude, porque ajuda a vencer as dificuldades da vida.
Mas, além de optimismo, este texto dá-nos uma lição que ajuda a vencer a degradação do nosso corpo, superando-a pela actividade cerebral.
Bom fim-de-semana
Beijos
João, serve de Link
Interessante quando ela diz que o mais importante não é o quanto se vive, mas, como se vive melhor esse quanto!
Humberto de Lima
Humberto de Lima,
A qualidade supera a quantidade, em tudo. É preciso viver bem, em harmonia com a Natureza, com o ambiente sócio-cultural. É imperioso que sejamos felizes AGORA. Se nunca conseguirmos dizer sou feliz, então nunca o seremos. O futuro é muito incerto e o passado já tem pouco poder de influência.
Este texto é muito interessante, uma boa lição para a vida.
Abraço
A. João Soares
Post muito interessante. Tenho boa ascendência, na minha família, os que morrem jovens estão na casa dos 85.
Um beijo e tenha uma ótima semana!
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