16/07/2011

A cidade dos resmungos

Incredible Dali Windmills

Salvadore Dali


Era uma vez um lugar chamado Cidade dos Resmungos, onde todos resmungavam, resmungavam, resmungavam.
No verão, resmungavam que estava muito quente. No inverno, que estava muito frio. Quando chovia, as crianças choramingavam porque não podiam sair. Quando fazia sol, reclamavam que não tinham o que fazer. Os vizinhos queixavam-se uns dos outros, os pais queixavam-se dos filhos, os irmãos das irmãs.
Todos tinham um problema, e todos reclamavam que alguém deveria fazer alguma coisa.
Um dia chegou à cidade um mascate carregando um enorme cesto às costas. Ao perceber toda aquela inquietação e choradeira, pôs o cesto no chão e gritou:
- Ó cidadãos deste belo lugar! Os campos estão abarrotados de trigo, os pomares carregados de frutas. As cordilheiras estão cobertas de florestas espessas, e os vales banhados por rios profundos. Jamais vi um lugar abençoado por tantas conveniências e tamanha abundância. Por que tanta insatisfação? Aproximem-se, e eu lhes mostrarei o caminho para a felicidade.
Ora, a camisa do mascate estava rasgada e puída. Havia remendos nas calças e buracos nos sapatos. As pessoas riram que alguém como ele pudesse mostrar-lhes como ser feliz. Mas enquanto riam, ele puxou uma corda comprida do cesto e a esticou entre os dois postes na praça da cidade. Então segurando o cesto diante de si, gritou:
- Povo desta cidade! Aqueles que estiverem insatisfeitos escrevam seus problemas num pedaço de papel e ponham dentro deste cesto. Trocarei seus problemas por felicidade!
A multidão se aglomerou ao seu redor. Ninguém hesitou diante da chance de se livrar dos problemas. Todo homem, mulher e criança da vila rabiscou sua queixa num pedaço de papel e jogou no cesto.
Eles observaram o mascate pegar cada problema e pendurá-lo na corda. Quando ele terminou, havia problemas tremulando em cada polegada da corda, de um extremo a outro. Então ele disse:
-Agora cada um de vocês deve retirar desta linha mágica o menor problema que puder encontrar.
Todos correram para examinar os problemas. Procuraram, manusearam os pedaços de papel e ponderaram, cada qual tentando escolher o menor problema. Depois de algum tempo a corda estava vazia. Eis que cada um segurava o mesmíssimo problema que havia colocado no cesto. Cada pessoa havia escolhido os seu próprio problema, julgando ser ele o menor da corda.
Daí por diante, o povo daquela cidade deixou de resmungar o tempo todo. E sempre que alguém sentia o desejo de resmungar ou reclamar, pensava no mascate e na sua corda mágica.



Extraído de O Livro das virtudes II – O Compasso Moral, William J. Bennett


4 comentários:

A. João Soares disse...

Amiga Fê,

Há lições geniais. Realmente, para quê resmungar se o meu problema é nada perante os grandes problemas dos outros?

E continuo na minha: a choramingar nada se resolve, o que é preciso é procurar soluções. Nada beneficia andar a olhar para trás, é preciso observar o agora e planear para o amanhã.

Não adianta chorar sobre o leite derramado.

Beijos
João

Unknown disse...

Uma história interessante.
Certamente cada um poderá transportá-la para a sua própria vida.

Celle disse...

Fê, precisamos aprender a não desanimar!Aprender a começar e a recomeçar!Se errou erga-se e recomece, se caiu levante, se não consegue dominar-se,firma sua vontade e recomece.Não desanime, jamais!Talvez chegue ao fim do caminho todo machucado mas, satisfeito por ter chegado. O importante é agir, é fazer acontecer e não resmungar!
beijinhos, amiga!
celle

Eva Gonçalves disse...

:)) Esta história é mesmo paradigmática da nossa vida contemporânea. Só se ouvem as pessoas a se queixarem... independentemente do que se queixam... belíssima escolha. :) beijo