27/04/2011
O ALIBI...
Ao ver as reportagens do Congresso do PS, a pergunta que mais frequentemente me ocorreu foi como é que os Portugueses, na angustiante situação que vivemos, olhariam para aquele espectáculo.
Um espectáculo que exibia uma incómoda exuberância de meios ao mesmo tempo que revelava uma montagem atenta ao mais ínfimo pormenor (com música, abraços e lágrimas). Mas de onde, na verdade, não brotava uma só ideia, uma só preocupação com o País, uma só proposta para o futuro...
Onde, pelo contrário, era bem visível a obsessão com o poder e a preocupação em bajular o líder no seu bunker, seguindo um guião e repetindo "ad nauseam" um só argumento, com uma disciplina de fazer inveja ao PCP!...
Ter-se-á atingido aqui o lúgubre apogeu do "socialismo moderno", esse híbrido socrático que ficará na história por ter esvaziado o Partido Socialista de quase todos os seus valores patrimoniais e diferenciadores, reduzidos agora a um mero videoclip.
Como na história ficará também a indigência intelectual e o perfil ético de tantos "senadores" do PS que subiram ao palco para - com completo conhecimento de causa sobre o gravíssimo estado do País - acenar cinicamente aos militantes e aos Portugueses, por puro e interessado calculismo político.
O Congresso assumiu a estratégia de Sócrates que é, há muito, clara: ignorar os factos e sacudir as responsabilidades. Inventando uma boa história, que seja simples, que hipnotize as pessoas e, sobretudo que as dispense de olhar para os últimos seis anos de governação, para os números do desemprego, do défice, da dívida ou da recessão. Ou de pensar nas incontornáveis consequências de tudo isto no nosso futuro.
Eis o marketing político no seu estado mais puro, e mais perverso.
Esta história começou a ser preparada logo em Janeiro, quando era por demais evidente o que se iria passar com o nosso endividamento e com as nossas finanças públicas. Sócrates lançou então o slogan "Defender Portugal", insinuando subliminarmente que os adversários do PS só podiam ser adversários de Portugal.
Montado o cenário, faltava apontar os vilões. Primeiro, o inimigo externo, e para isso diabolizou-se o FMI, qual dragão que paira ameaçadoramente sobre as nossas cabeças, e contra o qual o herói luta com denodo. Um pouco mais tarde, com o chumbo do PEC IV, estava encontrado o inimigo interno. Um inimigo que "tira o tapete" ao nosso herói, exactamente quando este "ia salvar Portugal". Ferido, o herói não sai de cena. Ei-lo que se reergue, determinado, para mais uma batalha.
Desce o pano, e agenda-se o segundo acto para dia 5 de Junho.
Há que reconhecer: tudo isto foi muito bem planeado, teatralizado e concretizado, de modo a que esta fábula funcione não só como um álibi para Sócrates mas, também, como uma "cassete" de campanha.
Montada a história, trata-se agora de repeti-la. É como se todos os dirigentes socialistas passassem a falar pelo teleponto do próprio Sócrates, como se todos tivessem esse teleponto dentro da própria cabeça - e isso, como vimos, funciona, pelo menos em mundos como o da "bolha" do Congresso de Matosinhos.
A força da história avalia-se pelo modo como deforma os factos e maquilha a realidade. Em Matosinhos, ela foi muito eficaz para esconder aquilo que na verdade mais perturba os socialistas: esta é a terceira vez que o FMI é chamado a intervir em Portugal, e, sendo verdade que veio sempre a pedido de governos liderados pelo PS, esta é a primeira vez em que vem devido a erros de governação do próprio PS.
Isto nunca tinha, de facto, acontecido: em 1977/78 o FMI veio por causa dos "excessos" revolucionários, e em 1983/84 para corrigir os deslizes do governo de direita, da Aliança Democrática. Em ambas as situações o PS apareceu, com a coragem de Mário Soares, a corrigir os erros de governações anteriores e a defender o interesse nacional. Desta vez é diferente: o FMI é chamado a Portugal justamente devido à acção de um governo do PS, dirigido pelo seu secretário-geral.
Para grandes males, grandes desculpas? É o que parece. Esta história inventada pelos conselheiros de Sócrates vai fazendo o seu caminho. Espalha-se com mais desenvoltura que um programa eleitoral, e consegue fazer com que muita gente, sem dar por isso, acredite no inacreditável: num dia o nosso primeiro-ministro estava "quase a conseguir salvar-nos", e no dia seguinte o chumbo do PEC IV abriu um buraco de 80 mil milhões de euros...
Não consigo conformar-me com este modo de "fazer política". Sofro, como milhares de socialistas, e certamente muitos mais portugueses, com este tipo de comportamento que joga no "vale tudo" para permanecer no poder. Ao arrepio de todos os valores, ignorando as mais elementares regras da ética, transformando a política num mero exercício de propaganda que se avalia por um único resultado: continuar no poder.
O Partido Socialista ficou reduzido ao álibi de Sócrates. Um secretário-geral que deu sem dúvida provas como candidato eficaz, mas que também já as deu como governante medíocre, conduzindo o País à bancarrota e à mais grave crise que o País já conheceu desde o 25 de Abril de 1974.
Foi com estes dados que o PS saiu do Congresso, à espera de um milagre eleitoral no próximo dia 5 de Junho. Mário Soares falava prudentemente, aqui no DN de anteontem, no risco de um duche gelado que entretanto o PS corre.
Mas mesmo que tal não aconteça, não haja ilusões: ganhe ou perca, no dia seguinte às eleições este PS do álibi vai estar como estava na véspera - com uma mão-cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Talvez, finalmente, a olhar para o abismo onde nos conduziu. E quanto a Portugal, o que será de nós?
MANUEL MARIA CARRILHO
O Convívio do PS, e não congresso como foi anunciado, decorreu como esperado. Teve no entanto alguns momentos de rara beleza política. Um deles foi o discurso efusivo de António Vitorino, que fez lembrar algumas alturas nas feiras por esse país fora em que as ciganas sobem para a banca e gritam "Agora é tudo a cinco euros que a cigana está maluca". "Vai Zé, força Zé que a peúga está a 2€ - 4 pares". Nunca lhe imaginei esta faceta quase feirante no discurso. Era "Zé" para aqui e para ali. Só faltaram as bifanas, o porco assado e os carrinhos de choque. "Ó Zé traz mais uma mini pá!"
Seguiram-se vários exemplos de oratória a fazer lembrar os discursos de Goebbels exaltando Hitler e as patéticas e alucinadas conferências de imprensa do Ministro da propaganda de Saddam Hussein - Muhammed Saeed al-Sahaf. Um optimista delirante que mesmo com as tropas americanas a bombardearem-lhe o escritório continuava a dizer que esta tudo calmo. Os buracos dos obuses nas paredes "eram da traça". Tudo não passava só de "fumaça" das televisões ocidentais.
Em Matosinhos só faltou Kadhafi aparecer e dizer que também está com o Zé para o que der e vier.
Prestou-se em Matosinhos uma vassalagem ao "chefe" para além de tudo o que podia imaginar-se. Um exercício ridículo de endeusamento de uma figurinha politicamente detestável, gasta e insípida.
A única pessoa com um bocadinho de senso foi a incansável Ana Gomes, que ousou dizer que o PS tinha "alguma" responsabilidade no estado em que o país se encontra. Que a rosa não era assim tão cor-de-rosa e que afinal "não cheira assim tão bem". Foi por isso que optaram por deixar a sua intervenção para as 23:40 de um sábado, altura em que a maioria das congressistas estava a descascar gambas e a beber imperiais na marisqueira local e as televisões entretidas com a bola.
Francisco Assis, Ferro Rodrigues e Manuel Alegre foram apresentados com pompa e como cartas fortes do partido na luta que se aproxima. Isto é mais ou menos como dizer que o Mantorras é uma mais-valia para o onze principal do Benfica na próxima época.
Desde congresso sobrou uma certeza. A de que os socialistas vivem num planeta distante. Que aterraram em Matosinhos para se reunirem em débeis fileiras depois de terem estado 6 anos e meio a viver em Marte enquanto desgovernavam um país. E que agora, mantendo os ideais que sempre defenderam (?), se preparam para continuar o "assalto". Pois desçam à terrinha e assumam de uma vez a esterqueira que criaram, não atirem foguetes enquanto os escombros da incompetência socialista ainda arrefecem.
Se o PS opta por ser José Sócrates, um fraco PS teremos. Por maior ou menor unidade maquilhada que queiram transmitir e realidades incómodas que persistam em omitir.
Expresso on line, 11.04.2011
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3 comentários:
O nosso querido secretário geral...
Ouve quem dissesse no congresso de Matosinhos a fazer lembrar a Coreia do Norte.
E o que vai ser de nós?...
Não tenho palavras, nem disposição... E o que os Jornais Espanhois falam de nós!
o meu abraço
Caros amigos Luís e Zé do Cão,
Temos o que a maior parte dos portugueses merecemos. Estamos a adorar o «querido líder» Joseph Kill Il.
Em democracia, mesmo que apenas formal e teórica como a nossa actual, o voto tem muita importância e, por isso, é preciso votar com muita consciência e sentido de responsabilidade. Não se deve votar numa lista sem se conhecerem todos os seus elementos, porque, ninguém com juízo nomeia seu representante um aldrabão em quem não tenha total confiança. Veja-se o que aconteceu aos clientes do advogado João Vale Azevedo. Veja-se o que acontece a Portugal com o partido que tem como deputados Ricardo Rodrigues, Lello e outros que, a pouco e pouco são desmascarados.
Não devemos votar no «menos mau», como muitos ingénuos sugerem. Se não é bom, sério honesto e competente, não merece o nosso voto. E, nesse caso, é preferível votar em branco, que significa «não ter confiança em qualquer das listas».
Um cidadão responsável não deve ser conivente, cúmplice com a destruição dos recursos morais e materiais do País.
Abraços
Do MiradouroJoão
Meus Bons Amigos,
Obrigado pelos vossos comentários que revelam estarem alerta para os malabarismos que se têm verificado com o aproximar das eleições.
Há que estar muito atento para não caírmos nas armadilhas que estão a ser preparadas...
Um abraço amigo e solidário.
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