28/09/2007

Boa aluna, Bom professor. Bom método de ensino

Da Amiga Adelaide, companheira do CVS - Clube Virtual de Seniores, este texto, recordação viva de tempos um pouco distantes, é uma descrição que representa um exemplo que merece ser seguido de como se estimula o mérito sem receio de traumatizar, quando o objectivo é a elevação das capacidades das crianças. Parabéns e obrigado, amiga Milai!!!

ACONTECEU COMIGO

"Nothing is so beautiful as spring
when weeds, in wheels, shoot long and lovely and lush,
Autor: Gerard Manley Hopkins - "SPRING" (poema)

- Devem ter já passado uns bons largos anos desta minha vida, de más e boas recordações (quem as não tem!!!), que as duas frases acima, que são o começo de um belo poema de Hopkins, me marcaram positivamente e para sempre. Trata-se de um momento inesquecível para mim, o qual, de quando em vez me visita no tumulto dos meus pensamentos misturados, em desalinho envergonhado. Foi numa tarde de aulas, num estabelecimento de ensino na cidade onde nasci, que tudo aconteceu. Era costume, nesse estabelecimento, bom por sinal, num certo dia da semana, fazer-se uma espécie de julgamento, em forma de círculo, onde estava presente um só juiz, um "arguido" e as testemunhas de "observação" acomodadas à volta da sala. Devo salientar que éramos só alunos e professor. Nessa tarde fui eu a "arguida". Havia uma cadeira, lá bem no meio, para onde eu tinha de me dirigir e tomar assento. Assim fiz, com os nervos saltitantes, o sangue mais apressado na sua correria louca dentro de mim, e as faces vermelhas que me queimavam. Eu tinha de comentar, na língua de Hopkins, para que todos ouvissem e me julgassem, o poema que acima menciono. Nesse dia, não sei como nem porquê, eu estava inspirada e decidida a fazer figura. As dezenas de olhos pregados em mim, ao invés de me assustarem, tiveram o efeito contrário e, aí vou eu... Que apreciava o poema de Hopkins, porque as suas palavras me faziam VER o que ele descrevia, como o rebentar dos botões da planta, a surgir para a vida, para a natureza, com um movimento que começa dentro do ramo verde para o exterior soalheiro, cheios de beleza e de frescura ainda húmida! A graça e a actividade próprias da estação. Com o calor do sol tudo entra em actividade e alegria. É a beleza de tudo que nasce e que é tenro e que é perfeito. Continuei, dentro deste estilo, com palavras minhas e ao meu jeito. Eis senão quando, ouço um comentário..."Parabéns, você compreendeu exactamente o desejo de Hopkins que era tornar o desabrochar, o mais real possível". Alguém bateu palmas e... mais palmas se seguiram. Era costume. Era a sentença mais desejada do arguido. Se ele merecia, palmas não lhe faltavam. E eu, nem queria acreditar, eu tinha merecido...
Coisas simples da vida que não esquecemos...
ADELAIDE

3 comentários:

Anónimo disse...

Pois eu cá bato palmas, e muitas, a este belo pedaço de prosa. Profundo e muito bem escrito, faz-nos também "ver" a menina estudante numa sala de aulas rodeada pelas colegas e diante do professor. E também viver as suas emoções.

Gisele Claudya disse...

Bem, sou de um tempo em que quase não era pedido que poemas fossem entendido e sim, decorados, infezlimente. E talvez seja por isso que o ensino público no Brasil é péssimo. Mas dou parabéns por ter conseguido dizer o que queria, mesmo de bochechas rosadas diante de uma turma eheheh
beijinhos

A. João Soares disse...

Sempre houve bons e maus professores. Tive a sorte de os ter bons que persistem na minha memória. Sabiam premiar o mérito o que puxava todos para a excelência, tornando melhores os bons e os menos bons.
No caso da Milai, pelos vistos aconteceu o mesmo e recorda casos muito interessante. O resultado foi brilhante, como mostram os trabalhos que nos mostra no seu blog Pensamentos e divagações. Desejo-lhe saúde e a manutenção do espírito sensível e aberto à vida.
Beijos
João