03/10/2013

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A austeridade da integração no mercado de trabalho

Segue um texto, recebido por correio eletrónico, de um pai cujo filho, com Epilepsia (crises tipo ausência), está desempregado, apesar da formação que possui. O desabafo expõe as fragilidades do sistema e os dramas vividos na primeira pessoa.

O meu filho, tem 28 anos, é Mestre em Gestão de Recursos Humanos (2011) e Licenciado em Economia (2009), pela Universidade Técnica de Lisboa-ISEG. É também associado da Associação Portuguesa de Epilepsia (EPI), que está a tentar ajudá-lo através do Gabinete Pró-Emprego. Encontra-se também inscrito no IEFP, desde 2009, ano em que acabou a licenciatura.
A vida do meu filho tem sido uma decepção enorme. Envio de muitos currículos e entrevistas sem êxito, e quando existe entrevista a resposta é invariavelmente sempre a mesma: “as provas foram boas, mas não foi o escolhido”. Na verdade, nunca lhe dizem o porquê “da não selecção”, se não esteve à altura do exigido, se outros candidatos eram mais apelativos, ou se a epilepsia foi determinante para não o seleccionarem, apesar de saber que não é nenhum factor de bloqueio, de aplicação prática das suas competências humanas e profissionais.
Por seriedade, não pode esconder que tem epilepsia. Está controlada apesar das vulnerabilidades decorrentes.
Repare que, para tantos jovens de hoje, existe cada vez mais um adiamento prolongado na integração e participação na vida activa. Estudaram, desenvolveram aptidões intelectuais e cívicas em instituições de ensino consensualmente credíveis. Por isso, sentem que o desemprego a que estão obrigados é uma provação e isso desvirtua-os como pessoas.
Na verdade, a imagem criada de uma juventude sem responsabilidades, sem laços de compromisso e sem solidariedade, é intolerável, levando a que os jovens vivam cada vez mais um adiamento angustiante e restrito, no acesso ao mercado de trabalho.
(...) todos somos feitos de histórias. Histórias boas, difíceis, engraçadas, tristes, diferentes histórias. No entanto, a história do meu filho já não depende só da sua vontade, das suas competências académicas, das qualidades pessoais, ou da determinação que é necessário ter para enfrentar sozinho estes complicados tempos, e se a vida está complicada para os jovens, imagine para quem tem alguma incapacidade por pequena que ela seja.


NOTA: Há poucos meses, partiu para o Luxemburgo um amigo licenciado em Gestão, paraplégico que se movimenta em cadeira de rodas e, em pouco tempo, conseguiu emprego numa empresa que é subsidiada pelo Estado pelo facto de dar emprego a um deficiente. E por cá?

Imagem de arquivo

3 comentários:

MARILENE disse...

Entristece-me ler o justo lamento desse pai. A epilepsia não impede seu filho de ter uma vida profissional de sucesso. Sua competência haveria que ser colocada em primeiro plano. Infelizmente, não admitem, nas empresas, a razão da não escolha, fugindo de uma briga judicial. Bjs.

A. João Soares disse...

Amiga Marilene,

A sociedade actual está desumana, demasiado materialistra e monetarista.Este caso nem é um pedido de esmola mas apenas de oportunidade para poder ganhar a vida honestamente com a aplicação das suas capacidades.
Devemos tratar os outros da mesma forma como desejamos ser tratados.

Beijos
João

A. João Soares disse...

Do e-mail que agora recebi da mãe deste cidadão a precisar de ajuda, transcerevo o seguinte:

«Amigo João, não têm conta os emails que o meu marido já enviou a tudo o que é organismos estatais e privados. Conta-se pelos dedos de uma mão as respostas, e sempre lamentando mas nada fazendo.(...)

Amigo, tem sido muito difícil, ver o meu filho a definhar dia após dia. Ele que é um rapaz tão doce e aplicado..

Claro que tem sempre o nosso apoio mas isso já não chega.

Obrigado uma vez mais por estar ao meu lado.»

Provavelmente se fosse um Jotinha do PSD já estaria como assessor de um ministério, ou até Secretário de Estado ou talvez ministro...

Teve mais sorte por ter ido para o Luxemburgo, o amigo Paulo Soeiro, que apesar de não poder dispensar a utilização da cadeira de rodas, já tem emprego numa empresa que, por isso, recebe subsídio do Estado.

Há Estados bem governados, por pessoas que não procuram enriquecer por qualquer forma à custa dos contribuintes e não desprezam estes.
Que diferença daquilo que tem acontecido por cá nas últimas quatro décadas!!!