20/02/2009

SIM É VERDADE!

Imagem da net


Sim é verdade,
Pesam-me nos ombros
Os anos de vida,
Acolho no corpo
As maleitas da idade,
Ostento no rosto
A dor do meu estado,
Não tenho força
Sinto-me cansado.
Sim é verdade,
Estou enfermo
E debilitado!

Sim é verdade,
As noites são longas,
A espera iniludível,
A esperança sombras
E a angústia terrível.
O presente é amargo,
O passado saudade
E neste corpo pesado
Sou pó sem idade!

E, sim é verdade
Que tu andas por aí,
O amor por quem chamo
Não está mais aqui,
Neste fim de vida
A tua ausência estreita
A mais débil partilha
Que na dor me enfeita
E o Filho que amo
Por quem tudo fiz,
Esqueceu-se de mim...
Não sou feliz!

Ana Martins

7 comentários:

Ana Maria disse...

Poema verdadeiro.
Os idosos doam tudo que tem, quando mais precisam, esquecem deles.
Beijinhos!

A. João Soares disse...

Querida Ana Martins,
Parabéns por este poema muito real, com muita sensibilidade. Os filhos esquecem depressa o quanto os pais os acarinharam na sua meninice quando precisavam de apoio e afecto, e agora no fim da ida dos pais, não lhes retribuem aquilo que deles receberam e deixam-nos acabar os últimos dias sem carinho, sem afecto, sem solidariedade humana.
Ao ler estas suas palavras recordei-me de um livro que li há muito tempo e nem recordo se era de Virgílio Ferreira que era um monólogo de um velho isolado num lar em que esperava a visita de uma filha que nunca aparecia. Era um diário de desgosto, de dor.
Todos esperamos viver muito mas nem pensamos no quanto vamos sofrer com o desprezo da família, do Governo e da sociedade em geral. E agora fala-se em eutanásia que provavelmente irá «matar» precocemente qualquer velho que adoeça: a família beneficia com uma herança recebida mais cedo, e o Estado deixa de pagar pensão e de ter custos com a saúde. Não tenhamos dúvida de que isto irá acontecer, com mais frequência do que seria desejável.
Por mim, seria de a aplicar já a Almeida Santos, o impulsionador da ideia.
Beijos
João Soares

Táxi Pluvioso disse...

Os animais em high society. bfds

Adelaide disse...

Querida Ana Martins,
Poema triste que deixou meu coração a soluçar. Será que os meus filhos, que tanto me amam agora, me vão deixar sentada numa cadeira, de cabeça baixa, sem forças para olhar o dia lá fora, só, num quarto vazio, onde o silêncio se ouve!

Oh Ana, porque tens tanto talento? Apesar de triste o teu poema é inacreditavelmente belo, fantasticamente real, amargamente verdadeiro.

As minhas lágrimas
Mara

Adelaide disse...

E um beijo

Mara

Unknown disse...

Meus queridos colegas e amigos João e Mara,
Escrevi este poema a pensar nos muitos idosos que há por este mundo fora, e se sentem sós e abandonados.
Infelizmente este retrato existe, e talvez com muito mais frequencia que aquilo que imaginamos.
Claro que nao podemos generalizar, e quanto a si minha linda e querida amiga Mara, sinto que isso jamais acontecerá, a frieza dos filhos, penso que se verá ainda antes da velhice, e a Mara diz que se sente muito amada, o amor não acaba porque se adoece ou envelhece, o amor simplesmente morre quando se perdem os valores. E nós sabemos quais os valores que regem os nossos filhos, é algo que se sente!

Beijinhos,
Ana Martins

Adelaide disse...

Querida amiga Ana Martins,


Obrigada pelas palavras reconfortantes que me enviaste. Na verdade, muitas vezes penso como serão os meus dias quando começar a descer os últimos degraus da minha existência. Ser auto-suficiente e não andar de bengalinha é o que mais desejo que me aconteça. E, ainda, que o processo do envelhimento que nos ataca sem piedade, parasse, e nos deixasse viver como estamos agora.
Eu falo a pensar em mim que, por acaso, já não sendo jovem ainda me sinto razoavelmente bem para a minha idade, a qual me faz muita confusão porque ainda ontem tinha 20 anos.

Beijos à grande poetisa do nosso Minho.

Mara