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Sim é verdade,
Pesam-me nos ombros
Os anos de vida,
Acolho no corpo
As maleitas da idade,
Ostento no rosto
A dor do meu estado,
Não tenho força
Sinto-me cansado.
Sim é verdade,
Estou enfermo
E debilitado!
Sim é verdade,
As noites são longas,
A espera iniludível,
A esperança sombras
E a angústia terrível.
O presente é amargo,
O passado saudade
E neste corpo pesado
Sou pó sem idade!
E, sim é verdade
Que tu andas por aí,
O amor por quem chamo
Não está mais aqui,
Neste fim de vida
A tua ausência estreita
A mais débil partilha
Que na dor me enfeita
E o Filho que amo
Por quem tudo fiz,
Esqueceu-se de mim...
Não sou feliz!
Ana Martins
7 comentários:
Poema verdadeiro.
Os idosos doam tudo que tem, quando mais precisam, esquecem deles.
Beijinhos!
Querida Ana Martins,
Parabéns por este poema muito real, com muita sensibilidade. Os filhos esquecem depressa o quanto os pais os acarinharam na sua meninice quando precisavam de apoio e afecto, e agora no fim da ida dos pais, não lhes retribuem aquilo que deles receberam e deixam-nos acabar os últimos dias sem carinho, sem afecto, sem solidariedade humana.
Ao ler estas suas palavras recordei-me de um livro que li há muito tempo e nem recordo se era de Virgílio Ferreira que era um monólogo de um velho isolado num lar em que esperava a visita de uma filha que nunca aparecia. Era um diário de desgosto, de dor.
Todos esperamos viver muito mas nem pensamos no quanto vamos sofrer com o desprezo da família, do Governo e da sociedade em geral. E agora fala-se em eutanásia que provavelmente irá «matar» precocemente qualquer velho que adoeça: a família beneficia com uma herança recebida mais cedo, e o Estado deixa de pagar pensão e de ter custos com a saúde. Não tenhamos dúvida de que isto irá acontecer, com mais frequência do que seria desejável.
Por mim, seria de a aplicar já a Almeida Santos, o impulsionador da ideia.
Beijos
João Soares
Os animais em high society. bfds
Querida Ana Martins,
Poema triste que deixou meu coração a soluçar. Será que os meus filhos, que tanto me amam agora, me vão deixar sentada numa cadeira, de cabeça baixa, sem forças para olhar o dia lá fora, só, num quarto vazio, onde o silêncio se ouve!
Oh Ana, porque tens tanto talento? Apesar de triste o teu poema é inacreditavelmente belo, fantasticamente real, amargamente verdadeiro.
As minhas lágrimas
Mara
E um beijo
Mara
Meus queridos colegas e amigos João e Mara,
Escrevi este poema a pensar nos muitos idosos que há por este mundo fora, e se sentem sós e abandonados.
Infelizmente este retrato existe, e talvez com muito mais frequencia que aquilo que imaginamos.
Claro que nao podemos generalizar, e quanto a si minha linda e querida amiga Mara, sinto que isso jamais acontecerá, a frieza dos filhos, penso que se verá ainda antes da velhice, e a Mara diz que se sente muito amada, o amor não acaba porque se adoece ou envelhece, o amor simplesmente morre quando se perdem os valores. E nós sabemos quais os valores que regem os nossos filhos, é algo que se sente!
Beijinhos,
Ana Martins
Querida amiga Ana Martins,
Obrigada pelas palavras reconfortantes que me enviaste. Na verdade, muitas vezes penso como serão os meus dias quando começar a descer os últimos degraus da minha existência. Ser auto-suficiente e não andar de bengalinha é o que mais desejo que me aconteça. E, ainda, que o processo do envelhimento que nos ataca sem piedade, parasse, e nos deixasse viver como estamos agora.
Eu falo a pensar em mim que, por acaso, já não sendo jovem ainda me sinto razoavelmente bem para a minha idade, a qual me faz muita confusão porque ainda ontem tinha 20 anos.
Beijos à grande poetisa do nosso Minho.
Mara
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