15/02/2009

Árvore genealógica em vias de extinção

O planeta terra está a desertificar-se, quer por factores naturais quer pela incúria dos homens, muitas espécies estão a extinguir-se, muitas árvores desaparecem. Agora, num texto com a qualidade que Luiz Fernando Veríssimo tem oferecido aos seus leitores, vemos que também a árvore genealógica está ameaçada.

Uma árvore genealógica complicada…

- Mãe, vou casar!!!
- Jura, meu filho?! Estou tão feliz! Quem é a moça?
- Não é moça. Vou casar com um moço.. O nome dele é Júlio...
- Você falou Júlio?... ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?
- Eu falei Júlio. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?
- Nada, não... Só minha visão é que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo...!
- Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...
- Problema? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso...
- Você vai ter uma nora. Só que uma nora... meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea.
- E quando eu vou conhecer o meu... a minha.... o Júlio?
- Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.
- Tá! Biscoito... Já gostei dele. Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui?
- Por quê?
- Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.
- Você acha que o papai não vai aceitar?
- Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas, isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade. E olha que espetáculo: as duas metades com pinto...
- Mãe, que besteira... hoje em dia... praticamente todos os meus amigos são gays.
- Só espero que tenha sobrado algum que não seja... p'ra poder apresentar p'ra tua irmã.
- A Bel já tá namorando.
- A Bel? Namorando?! Ela não me falou nada... Quem é?
- Uma tal de Veruska.
- Como?
- Veruska...
- Ah, bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.
- Mãe!!!
- Tá..., tá..., tudo bem...Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...
- Por que não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
- Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?
- Quando ele era hétero. A Veruska.
- Que Veruska?
- Namorada da Bel...
- "Peraí". A ex-namorada do teu actual namorado... É a actual namorada da tua irmã... que é minha filha também... que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...
- É isso. Pois é... a Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.
- De quem?
- Da Bel.
- Logo da Bel?! Quer dizer, então.... que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska?!?...
- Isso.
- Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.
- Em termos...
- A criança vai ter duas mães: você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel.
- Por aí....
- Por outro lado, a Bel..., além de mãe, é tia... ou tio... porque é tua irmă.
- Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.
- Só trocar, né? Agora, o óvulo vai ser da Bel. E o ventre, da Veruska.
- Exato.
- Agora, eu entendi! Agora eu realmente entendi....
- Entendeu o quê?
- Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!
- Que swing, mãe ?!!...
- É swing, sim! Uma troca de casais... com os óvulos e os espermatozóides, uma hora do útero de uma, outra hora no útero de outra...
- Mas...
- Mas, uns tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior...com incesto no meio.
- A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...
- Sei... E quando elas quiserem ter filhos...
- Nós ajudamos.
- Quer saber? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que... Fazer árvore genealógica daqui p'ra frente... vai ser complicado, muito complicado!

(Luiz Fernando Veríssimo)

8 comentários:

Fenix disse...

É triste que dê para rir..., ou já nem sei..., acho que estou com vontade de chorar!
E de fugir deste planeta!
Daqui para a frente parece ser melhor viver no mundo dos sonhos, porque a realidade está a tornar-se um verdadeiro pesadelo.
Acho que estou a ficar caduca..., ou será impressão minha?!?

Abraço
Gostei o texto.
Bem apropriado ao momento, de controvérsia sobre este assunto, que atravessamos.

Pelos caminhos da vida. disse...

Me perdi no meio,mas me encontrei no final,rs.

beijooo.

A. João Soares disse...

Cara Fénix,
Cada um pode ter os seus vícios e virtudes, sendo um assunto privado ninguém deve intrometer-se.
Mas isto vai colidir com as liberdades e os direitos dos outros, com toda a sociedade.
Imagine como reagirá um indivíduo a quem perguntam
- Qual é o seu estado?
- Sou casado.
- Com uma mulher ou com um homem?
Sedo os homossexuais tão modernos, criativos e inovadores, qual a razão por terem de usar a palavra casamento, em vez de usarem um outro termo, mais moderno e inovador, mais adaptado à sua situação de heterodoxos?
Este entusiasmo do PM vem dar credibilidade à «manobra negra», às «insinuações» que circulavam quando da sua campanha eleitoral.
Que Deus deite a sua bênção sobre Portugal e evite que o buraco em que se afunda não seja muito mais fundo!!!
Abraço
João Soares

A. João Soares disse...

Querida Ana,
Ainda bem que se encontrou!!! Nesses caminhos não se pode entrar por acaso, porque depois há teias poderosas que impedem o regresso,. A opção deve ser consciente e bem meditada e fundamentada.
Um abraço
João Soares

Fenix disse...

Sim, concordo!
Talvez o termo "amamento" em vez de casamento...
Já que é amor, o que os une!

A. João Soares disse...

E porque não «União ad hoc»? já há nomes conhecidos no campo dos espectáculos que tal como se uniram com muita visibilidade, já se «divorciaram» com igual publicidade. Os laços que os ligam parecem ser muito mais frágeis do que os dos piores casamentos.
O próximo futuro dirá sobre a duração desta moda de exibicionismo.
Um abraço João Soares

Unknown disse...

Caro amigo João,
um texto um tanto ó quanto complicado mas recheado de reflexão.
Eu penso tal e qual o João e não me manifesto sequer nas opções dos outros, cada um é livre de viver de acordo com os seus gostos, desde que não interfira na vida dos outros. Mas daí a casarem e terem filhos, vai uma grande distância, até porque acredito piamente que isso vai baralhar completamente a cabecinha das crianças.
Imagine na escola primária, perguntarem no dia da apresentação
a uma criança que tenha dois pais ou duas mães: - Como se chama o teu pai? - António.
- E a tua mãe? - José.
Isto concerteza provocará o riso e chacota do resto da turma, e por sua vez o mal estar e vergonha da criança.
Muito honestamente, vendo as coisas assim, não posso ser a favor da adopção por parte de casais homossexuais, não estou com isto a querer dizer que não dariam bons pais ou boas mães, a nivel de amor e afecto, mas penso que não será saudável para nenhuma criança.

Beijinhos,
Ana Martins

A. João Soares disse...

Cara Ana,
Se esta decisão contra natura for para a frente e se instalar definitivamente, as transformações serão demasiado drásticas e não trarão bons resultados sociais.
Durante dois ou três anos tive no Liceu um professor que era homossexual e era um dos melhopres professores. Nada tenho contra os vícios privados. Mas chamar CASAMENTO a uma tal união, é uma falta de criatividade e inovação de quem se diz ser moderno, inovador e criativo. Então não conseguem encontrar ou inventar uma nova palavra? Precisam de copiar a dos naturalmente normais?
Abraço
João Soares