27/11/2013

A realidade explicada de forma clara.




AÍ VÊM ELES!
- Quem é que vem aí?
- Os imigrantes.
- Então agora que os nossos estão a sair é que hão-de chegar outros?
- Sim, não tardará muito para que comecem a chegar.
- Para quê? Vêm cá passar o Natal?
- Esses vêm como turistas e voltam para as terras deles pouco depois. Eu refiro-me aos que vêm para ficar a trabalhar.
- Deve estar a brincar. Então com a falta de empregos...
- Exacto! Há falta de empregos mas há muitos postos de trabalho a preencher. Eles vêm para trabalhar, não para terem um emprego à moda dos de cá.
- E esses vêm então trabalhar em quê?
- Em tudo aquilo que os de cá não querem.
- Não estou a perceber.
- Na agricultura, nas fábricas que exportam, nos trabalhos mais pesados.
- E nós?
- Vocês continuam no Fundo de Desemprego à espera que vos chamem para Presidentes de Conselhos de Administração.
- Está a gozar!
- Não, estou a falar muito a sério. O País real passa cada vez mais ao largo das vossas reivindicações. Os empreendedores não ficaram à espera que o Governo lhes dissesse o que deveriam fazer: fizeram.
- Fizeram o quê?
- Transformaram a nossa Balança Comercial de negativa crónica em positiva. Só! Acha pouco?
- Mas isso foi algum milagre da Senhora de Fátima?
- Não foi milagre nenhum. O decréscimo enorme que houve no consumo quebrou radicalmente as importações e bastou algum crescimento das exportações para que o saldo passasse a ser positivo.
- Então o milagre foi nas importações.
- Isso também não foi milagre nenhum: foi a falência do falso «modelo de desenvolvimento» que tínhamos com o nosso sistema bancário a perder o crédito no estrangeiro e a não poder mais financiar importações. E foi também a quebra dos meios de pagamento em poder dos consumidores portugueses. Não esquecer as negaças que houve com os subsídios de férias e de Natal...
- E por que é que as exportações cresceram assim de repente?
- Porque os empresários não perderam tempo e quando viram que o mercado interno tinha dado o berro, voltaram-se para os mercados externos e salvaram a pele deles e a do país.
- E isso vai continuar assim?
- Espero bem que sim e que o novo modelo económico seja mesmo de desenvolvimento e não mais como o anterior que foi de afundamento.
- Mas qual é a diferença entre esses dois modelos?
- O anterior estava a fazer de Portugal um país de serviços e o novo tem que se basear na produção de bens e serviços transaccionáveis.
- Que bens são esses?
- São todos os que possam ser objecto de comércio internacional. Quer exemplos? Um carro é um bem transaccionável porque pode ser importado ou exportado; o Turismo é o serviço transaccionável mais comum mas os Seguros também o são; um navio, um saco de batatas ou de cebolas, um cabaz de peixe, um computador ou o respectivo software, tudo são bens transaccionáveis...
- E o que é que não é isso?
- Bens e serviços não transaccionáveis são os que não podem ser exportados ou importados. Por exemplo, uma estrada, uma ponte, um prédio, são bens não transaccionáveis; uma corrida de táxi daqui até à estação do Rossio é um serviço não transaccionável.
- E como era antes?
- Vinha praticamente tudo do estrangeiro e nós quase só vendíamos Turismo. Andávamos a fazer obras públicas importantes sobretudo para quem as construía, o Governo anterior preparava-nos para mais uns quantos elefantes brancos, já estávamos internacionalmente com um dos índices mais elevados de habitação própria ao mesmo tempo que o parque habitacional edificado se encontrava em ruínas, o consumo era a menina dos olhos do comércio importador. E todos viviam muito felizes num mundo irreal comprando tudo sem dinheiro... O pior foi quando os credores disseram que chegara a hora de fazer contas.
- Quais credores?
- Os primeiros a apertar os gasganetes aos devedores foram os bancos estrangeiros que disseram aos bancos portugueses que não havia mais nada para ninguém enquanto não começassem a pagar o que já lhes deviam. E, aí, houve grandes bancos portugueses que estiveram parados durante uns tempos à espera que alguns dos seus clientes exportassem alguma coisa para poderem ser creditados lá fora desses montantes e pagarem cá dentro em Euros internos.
- Euros internos? Então os Euros não são todos iguais?
- As notas e as moedas são todas praticamente iguais mas não é de notas nem de moedas que falo. Falo da moeda escritural, a dos movimentos contabilísticos a débito e a crédito nos mercados inter-bancários.
- Vai ter que me explicar isso mais de vagar...
- O meu amigo vai ali ao seu banco com um saco de notas e moedas que deposita na sua conta e diz ao banco para mandar vir da Finlândia uma manada de renas. O seu banco não vai com o saco de notas e moedas à Finlândia pagar a manada das ditas renas. Guarda o dinheiro que Você lhe entregou e pede ao banco finlandês que, por sua conta, banco português, pague ao exportador da manada. Só que o banco finlandês diz ao banco português que já pagou manadas a mais por conta dele, banco português, pelo que está na hora de ele, banco português, amortizar a dívida que tem para com ele, banco finlandês. Então, o banco português tem que esperar que o importador finlandês de rolhas portuguesas de cortiça deposite no banco finlandês esse dinheiro que será então creditado ao banco português para que este possa então merecer novamente alguma confiança do seu correspondente finlandês. Portanto, como os bens e serviços, há uns Euros que passam a fronteira (os externos) e os que não passam fronteiras (os internos). O que aconteceu ao sistema bancário português foi a perda de crédito junto dos correspondentes estrangeiros por razões deste género. O falso modelo de desenvolvimento em que estávamos, mandando vir tudo lá de fora, deu o berro.
- E como foi que o assunto se resolveu?
- O problema não se resolveu; apenas se começou a atenuar.
- Como?
- Cortando no poder de compra dos consumidores, os importadores reduziram drasticamente as suas encomendas ao estrangeiro e os que sobreviveram passaram a contratar cá dentro uma parte do que dantes mandavam vir de fora. Houve uma substituição (parcial) de importações por produções nacionais mas o mais importante foi que os empresários que viram o mercado interno em ruína, se atiraram para os mercados externos e deram ao sistema bancário a oportunidade de retomar alguma da confiança que tinham perdido lá fora.
- E o que é que isso tem a ver com os imigrantes que Você diz que vêm aí?
- Tem tudo. Os portugueses continuam a reivindicar os direitos adquiridos, a fazer greves, a protestar contra tudo. Só que o empresariado não tem tempo a perder e vai certamente começar a preencher os novos postos de trabalho por quem esteja disposto a arregaçar as mangas em vez de erguer os punhos.
- Mas os Sindicatos não vão permitir que esses estrangeiros para cá venham roubar empregos aos portugueses.
- Mas Você é da extrema-direita?
- Eu, fascista? Nem pensar nisso! Eu sou democrata de esquerda.
- Mas está a pugnar pelo mesmo que o Le Pen em França...
- Porquê?
- O Le Pen também quer correr com os estrangeiros para os empregos ficarem para os franceses.
- Mas os nossos Sindicatos não têm nada a ver com o Le Pen!
- Pelos vistos têm tudo a ver com posições de direita extrema. Vocês, sindicalizados, é que andam muito enganados.
- Não me diga mais nada!
- Posso dar uma última sugestão?
- Pode.
- Pensem pelas vossas cabeças e deixem de seguir bandeiras que só vos enganam.
- Vou pensar nisso...
- Continuação duma boa tarde!

2 comentários:

A. João Soares disse...

Muito extenso, mas claro.

Luis disse...

Caríssimo João,
Por vezes é difícil de se condensar. É o caso!
Um abraço amigo e solidário.