27/08/2012

GERAÇÃO À RASCA - OU POUCO DESENRASCADA?




"Desenrascar-se é lutar contra as dificuldades para as vencer, reduzindo-as a pó ou contornando-as, como faz a água do ribeiro desde a nascente até à foz.
Diz o pensador:
Se não mudas nada em ti mesmo não esperes que o mundo mude.
Se lutares, podes perder; se não lutares, estás perdido!"
 (A. J. Soares)

Andam à rasca...
... já experimentaram contrariar?
A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca.
Foi uma geração com capacidade para se desenrascar.
Numa terriola do Minho as condições de vida não eram as melhores.
Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar.
Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Artur, já se encontrava.
Mais tarde veio o Joaquim, o irmão mais novo.
Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.
Porque recusaram ser uma geração à rasca fizeram uma coisa muito simples.
Foram trabalhar.
Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam.
Não ficaram à espera.
Foram taberneiros.
Foram carvoeiros.
Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcão.
Foram simples empregados de tasca.
Mas pouparam.
E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.
Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.
Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.
Porque sempre acreditaram neles próprios.
E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas.
Nós, eu e os meus primos, sempre tivemos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro.
Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram.
E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me conduz.
Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito.
Não preciso das ajudas do Estado.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.
Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.
Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.
Preciso de mim.
Só de mim.
E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca.
Porque me desenrasco.
Porque sempre me desenrasquei.
O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam.
Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.
Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido.
Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade.
Sentem-se desiludidos.
E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas.
Mas não é...
É altura de aprenderem a ser humildes.
É altura de fazerem opções.
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno".
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.
Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.
Mexam-se.
Trabalhem.
Ganhem dinheiro.·
Na loja do Shopping.
Porque não ?
Ah, porque é Doutor...
Doutor em loja de Shopping não dá status social.
Pois não.
Mas dá algum dinheiro.
E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno".
O tal que dá status.
O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho.
Eu, que sou Informático, System Engineer, em alturas de aperto, vendi bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc.
E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita. 
Geração à rasca ?
Vão trabalhar que isso passa... 
À rasca, mesmo à rasca, também já tenho estado.
Mas vou à casa de banho e passa-me.
                                            (Autor Desconhecido)

3 comentários:

A. João Soares disse...

Amiga Celle,

Estar em dificuldade (à rasca) não deve servir para lamentação, mas sim, com virilidade, para ginasticar a vontade, a capacidade de inovação, de acção, para descobris a melhor oportunidae dentro do possível para construir um futuro de que se goste.
O texto traduz realismo, porque não são os sonhos irreais que nos trazem o pão de cada dia.
Segundo um provérbio chinês, É preciso não temer arriscar, pois, quando um barco avança, ele equilibra-se.

Beijos
João

Celle disse...

João, como eu sei o que é estar (à rasca)em dificuldades!
A nossa vida inteira tem sido uma luta, cheia de altos e baixos mas, unidos na luta, nos combates diários, arriscando e acreditando, sacrificando e vencendo, com esforço,lealdade, renuncias, coragem, esperança e fé!
Embora hoje, mais aliviados,na verdade!
bjs
celle

A. João Soares disse...

Amiga Celle

Parabéns pela luta e pela vitória. É fundamental lutar procurar soluções positivas, baseadas em saber e em raciocinios realistas, medindo o risco e não parar. Parar é morrer.
Sentar-se e lamentar-se não conduz a nada de bom.
Se a luta nem sempre conduz ao resultado desejado, pior seria ter ficado sentado. Um falhanço deve ser analisado para se tirar a lição e evitar novo erro.

Parabéns pelo vosso sucesso.

Beijos
João