06/05/2012

Mãe



Neste dia especial, dedico este soneto de Antero de Quental a todas as mães, aos que ainda a têm e aos que já tiveram.
Uma saudação muito especial àquelas mães que já são avós e bisavós.

Mãe...
Mãe — que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas ate o fio
Do meu pobre existir, meio partido...

Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido...

Eu dava o meu orgulho de homem — dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava.

Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mãe!

Antero de Quental, in "Sonetos"

2 comentários:

A. João Soares disse...

Amiga Fê,

Mãe não se define apenas por dar à luz, mas principalmente por ensinar a criança a usar a vida que lhe deu. O amparo nos primeiros passos o ensino das boas maneiras, das regras de vida digna, da moral e da ética. O comportamento da humanidade deve-se às mães, é o resultado da sua missão maternal de educar os filhos.

Há que respeitar as mães e dar-lhes todo o apoio conveniente para a sua tarefa de formar as gerações futuras.

Beijos
João

Rogério G.V. Pereira disse...

Tal como o amor, poema com poema se paga:

"POEMA À MÃE" de Eugénio de Andrade.


No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.