16/01/2012

Acordo Ortográfico


A língua, escrita ou falada, é a expressão viva da evolução social. Particularmente num mundo sem fronteiras, com novas formas de comunicação e de relação.

O português – a 5ª língua nativa mais falada – não foge a essa regra. Mas uma coisa é a absorção de modificações que se vão verificando, outra é a sua imposição por decreto. O Acordo Ortográfico é o produto não de uma evolução natural e impregnada na prática, não de uma necessidade de defesa e promoção linguísticas, mas tão-só a imposição de iluminados, que o Estado avalizou, menosprezando posições diferentes e ignorando a voz do povo soberano.

O Acordo é também uma expressão de submissão às maiorias populacionais. Neste caso, do Brasil. Esquece-se que uma língua se enriquece na diversidade e se empobrece na “unicidade” por forçada via legal. Claro que há sempre prosaicas justificações mercantis (interesses?) em sua defesa e há quem vá ganhar com tudo isto.

Imagina-se o Governo britânico a uniformizar a grafia de vocábulos escritos nos Estados Unidos ou Austrália (v.g. “realise”/”realize”, “center”/”centre” ou “labour”/”labor”)? Ou o castelhano a adaptar, por lei, a escrita de certos vocábulos na Argentina?

Pequeninos geograficamente, teimamos em ser pequeninos patrioticamente. Dizia sabiamente Fernando Pessoa: “A palavra escrita é um elemento cultural, a falada apenas social”.

Adivinhem o que se quer dizer com “não me pelo pelo pelo de quem para para desistir”? Na rejeitada e antiga grafia escreve-se: “não me pélo pelo pêlo de quem pára para desistir”


Já não nos chegavam os agravos à nossa língua nas tv e textos públicos, eis que os tornam agora obrigatórios. Os “supônhamos” e “houveram” de braço dado com os “suntuosos” e os “contrassensos”.


Enfim, a lógica da batata. Ou da ” (H)ortografia”.
Bagão Félix

2 comentários:

A. João Soares disse...

Amigo Luís,

Concordo com o autor do texto. Pela minha parte continuo a ser fiel ao dicionário que consta no meu comentador e que me evita de errar no pré-acordo.
Oficialmente, cometo erros ortográficos é certo, mas antes do acordo já aparecia muita gente a cometer erros de outra forma, por ignorância ou descuido, agora é a minha vez a errar mas, conscientemente, em sintonia com as palavras de Bagão Félix.

Abraço
João

Luis disse...

Caríssimo Amigo João,
Concordo inteiramente contigo e não vou seguir este malfadado acordo!
Um forte e amigo abraço-