18/09/2012

SHABAT



Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da Criação.
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental
para a saúde de tudo o que é vivo.
A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa.
Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações  'para não nos ocuparmos'.
Hoje, o tempo de 'pausa' é preenchido por diversão e alienação. 
A própria palavra entretenimento  indica o desejo de não parar.
E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.
O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.
 Nossas cidades se parecem  mais com a Disneylândia.
 Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas.
Fim do dia com gosto de vazio.
Um divertido que não é nem bom nem ruim. com a Disneylândia.
Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo...
Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping.
 A Internet e a televisão não dormem.
Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. 
As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder,
das informações e dos rumores, atividade incessante.
 A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo.
Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico
de uma paisagem que passa.
O futuro é tão rápido que se confunde com o presente.
As montanhas estão com olheiras,  os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado...
Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'.
Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI  - um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.
 Nunca
fizemos tanto e realizamos tão pouco.
Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos...
Parar não é interromper.
Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.
O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair: - literalmente, ficar desatento; - é um dia de atenção, - de ser atencioso consigo e com sua vida.
A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é: 'o que vamos fazer hoje?'
- já marcada pela ansiedade.
E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa
tarde de Domingo...
Quem ganha tempo, por definição, perde.
 Quem mata tempo, fere-se mortalmente.
É este o grande  'radical livre' que envelhece nossa alegria –o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares.
 A pausa é que traz a surpresa  e não o que vem depois.
A pausa é que dá sentido à caminhada.
A prática espiritual deste milênio será viver as pausas.
Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo
vai começar.
Afinal, por que o Criador descansou?
Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.
Autor:
Rabino Nilton Bonder
 


1 comentário:

A. João Soares disse...

Amiga Celle,

Um bom tema. A vida não pára, a Natureza não pára, Tem variações com períodos de mais intensidade criativa e outros de reflexão, avaliação da situação actual e preparação do amanhã, da nova primavera, do renascer, com energia acumulada. O intervalo de divertimento é útil para a recuperação de energias para o período seguinte de produção intensiva.

A vida é este encadeamento racional e lógico a que não devemos tentar fugir.

Beijos
João