12/03/2012

Do Outono, poesia

DO OUTONO

I

O lento caminhar
dos passos preguiçosos
sobre a resteva afilada
do campo abandonado,
liberta um cheiro
a outono ainda aprisionado
no húmus fumegante,
na vegetação ocre,
agonizante,
em fim de tarde húmido,
abafado.
Ao longe,
um resto de seara fulva,
proscrita,
espera lânguida e inquieta
um último sopro
de vento que a agite,
antes do golpe
acerado da foice que,
célere, a liberta.

Isabel Martins

II

O suco negro da amora,
dulcífico,
escorre pela face
caiada de poalha
coagulada do sonolento pastor.
Livres,
os seus olhos enormes de felicidade,
vagueiam pelo seu mundo
limitado, pacífico,
de cabeços escalvados,
ruminantes indolentes,
arroios matreiros e seixos rolados.
O perfume do americano maduro,
flutua sobre o vale
dourado, em ondas balsâmicas, dulciolente.
Os homens matejam
num movimento antigo,
sincopado, repetido.
E o canto da cigarra
estridente, afinado,
embala o outono
que lentamente empalidece
num estiolamento progressivo

2 comentários:

Luis disse...

Minha Boa Amiga,
Dois belos poemas a merecerem a nossa melhor atenção. Tem andado arredia do nosso Blogue venha mais vezes fazer-nos companhia,
Beijinhos amigos.

Celle disse...

Isabel Martins
Caríssima colega!
Como deve ser bom poder se expressar poeticamente! Não sei faze-lo. Parabens!
bjs
celle