20/01/2021

COMPETÊNCIA E CAPACIDADE

O facto aqui relatado pelo autor do artigo mostra que há carência de competência, sensibilidade e experiência de análise de assuntos importantes e de capacidade para tomar decisões em assuntos de tal importância. A competência e a capacidade de gestão não dependem exclusivamente de diplomas e cursos universitários pois além de textos científicos exige uma preparação adquirida da vida prática de observação e análise de ocorrências em nosso redor e do raciocínio sobre as causas dos fenómenos os condicionamentos reais que os influenciaram, a forma como se desenvolveram e os seus resultados, por forma a concluir  de factores que os tornariam diferentes e de se obterem resultados mais adequados à finalidade  pretendida. A escolha de pessoas para os altos cargos não pode cingir-se aos seus diplomas universitários, pois estes muitas vezes até são de pouca utilidade prática   

Não, senhor PM, a culpa não é dos portugueses /premium

https://observador.pt/opiniao/nao-senhor-pm-a-culpa-nao-e-dos-portugueses/

2101220. Observador. Por João Marques de Almeida

Se o exemplo e a autoridade de um PM são sempre importantes, em tempos de pandemia são essenciais. Como é que os portugueses podem acreditar na palavra do PM depois da tanta incoerência e oportunismo?

Numa declaração em que, sem qualquer pudor, responsabilizou os

portugueses pelo aumento dos casos de Covid, o PM fez uma afirmação

espantosa. Disse, e cito: “Este não é o momento para aproveitar as

brechas da lei para se fazer o que não deve ser feito.” Num momento de

sofrimento nacional, António Costa tratou os portugueses como

violadores da lei. Mais um exemplo da insensibilidade do nosso PM. A

maioria dos portugueses não anda a ver como se aproveitam as

“brechas da lei”. Pelo contrário, está a tentar sobreviver como pode.

 

Em geral, os portugueses estão aflitos sem saber como será o seu

futuro. Se vão acabar num corredor de hospital, se vão despedir-se dos

familiares de idade sem saberem se os voltam a ver. Se vão perder o

emprego. Se vão ter dinheiro para pagar a casa. Os portugueses estão

angustiados com a pandemia e o seu futuro. E o PM português diz

perante todo o país que andam a “aproveitar as brechas da lei.”

 

Esta afirmação é ainda mais extraordinária vinda do líder de um

partido que se especializou nas últimas décadas em aproveitar todas as

brechas da lei para satisfazer o seu apetite pelo poder. Costa avalia os

portugueses pelos padrões de comportamento do seu partido.

 

Vamos então às “brechas” do PM. Nenhum português abriu tantas

brechas como o governo socialista. Com os portugueses em casa, as

esquerdas celebraram o 25 de Abril, sem máscaras, para mostrar quem

são os donos do regime. O que se aplica a todos, não se aplica a eles. O

25 de Abril de 2020 não foi o dia da liberdade (e, para as almas mais

sensíveis, sublinho apenas o de 2020). Foi o dia da soberba socialista.

 

Depois abriram brechas aos sindicatos para celebrarem o 1º de Maio e

ao PCP para fazer a festa do Avante. Foram decisões políticas de um

governo minoritário que necessita de apoio parlamentar. O voto dos

comunistas no Orçamento de Estado pagou a festa do Avante.

 

Pelo meio houve a Champions em Lisboa, os auto-elogios porque

Portugal tinha resultados muito melhores do que a maioria dos países

europeus. Houve ainda um verão igual aos outros, com fotografias do

PM e de membros do governo na praia e em férias, como se a

pandemia tivesse acabado. Aqueles que avisavam para o perigo de uma

segunda vaga eram tratados como os habituais “profetas da desgraça.”

 

O facilitismo, o populismo e o desejo de agradar aos portugueses

repetiram-se entre o Natal e o Ano Novo. Além disso, depois das

excepções políticas da Primavera e do Verão, para agradar às

esquerdas, o PM não tinha autoridade para ser duro com os sectores

mais conservadores da população portuguesa. E quando já muitos

falavam da terceira vaga, o PM jurava que nunca mais impunha um

confinamento aos portugueses.

 

Este comportamento errático, com excepções e favores políticos (cheio

de “brechas”), retirou autoridade moral ao PM. A autoridade

conquista-se com o exemplo e com um comportamento acima de

qualquer suspeita. Não basta fazer discursos cheios de boas intenções.

Se o exemplo e a autoridade de um PM são sempre importantes, em

tempos de pandemia são absolutamente essenciais. Como é que os

portugueses podem acreditar na palavra do PM depois da tanta

incoerência e oportunismo?

 

António Costa também afirmou que este não é o tempo de disputas

políticas, mas sim de unidade nacional (e disse isto a menos de uma

semana das eleições presidenciais, mostrando um entendimento

estranho da democracia). No entanto, o governo não aplica o princípio

da unidade nacional ao sector da saúde, dividindo permanentemente o

SNS e a saúde privada. À disponibilidade total dos grupos de saúde

para colaborarem com o governo e com o SNS, a ministra da Saúde

responde com a ameaça da requisição civil dos hospitais privados.

Neste caso, não há preocupações com a unidade nacional ou com a

violação do estado de direito?

 

O preconceito ideológico contra o sector privado está a repetir-se com

as vacinas. Neste momento, só se vacina no sector público. O Reino

Unido foi durante meses o pior país europeu em termos de novos casos

e de mortes. Mas a vacinação está a correr melhor do que em qualquer

outro país europeu. No Reino Unido, dão-se vacinas nas farmácias, nos

supermercados, nas igrejas; e das 8 da manhã à meia noite. Eis o

exemplo de um país que decidiu colocar o combate ao Covid acima de

considerações ideológicas e corporativas. Portugal deveria seguir o

exemplo britânico.

 

Para vacinar metade da população portuguesa em seis meses (dez

milhões de doses), seria necessário dar 55.000 vacinas por dia. O SNS

não tem capacidade para o fazer. É fundamental mobilizar todos os

meios existentes, públicos e privados, para vacinar os portugueses o

mais rapidamente possível. Mas desconfio que nem perante a maior

crise pandémica na Europa, o governo abandona os seus preconceitos

ideológicos e a sua fidelidade aos interesses corporativos.

 

António Costa perdeu credibilidade e autoridade. Hoje, em termos

relativos à população, Portugal é o país da Europa com o maior número

de novos casos diários e de mortes. A Hungria, do “terrível Orban”,

com uma população semelhante à portuguesa, tem cerca de 10 vezes

menos casos diários e três vezes menos mortes diárias.

 

No início do mês, o PM estava cheio de si próprio com o início da

presidência portuguesa do Conselho da UE. Seria o momento para

brilhar, com a bazuca de fundos e com a vacina. Mas a realidade é

muito diferente. O PM português mostrou que não tem capacidade

para governar um país em crise. Os portugueses continuarão a sofrer

por causa dessa incapacidade. Mas se o sofrimento é inevitável,

dispensam seguramente os insultos do PM a tratá-los como

incumpridores da lei.


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