06/06/2021

A EUTANÁSIA E A IGREJA

 A eutanásia e a Igreja

Desde há muitos anos que em Trás-os-Montes existia o «abafador» que quando uma pessoa idosa estivesse doente, imobilizada, com sofrimento e sem esperança de melhorar, a família recorria ao indivíduo que ajudava no apoio de saúde e que se prestava, a dar a um doente irrecuperável, «morte santa» acariciando-o na cara de forma a fechar-lhe a boca e o nariz durante o tempo suficiente para não voltar a sofrer. Era o «abafador». Há cerca de 50 anos conheci uma senhora com cerca de 40, que era professora primária e muito católica e que dizia ter ajudado muitas pessoas a ter uma morte santa. Miguel Torga referiu nas suas obras estas personagens caridosas.

Agora, tal acto humanitário está a ser legalizado pela eutanásia. Mas esta vai prestar-se a crimes contra vidas, por interesses variados. A lei não garante comportamentos irrepreensíveis, como se viu com o primeiro confinamento que não impediu as festas do Avante, do 1º de Maio e outras de interesse político-partidário. O PM falou de casos de excepção que devem ser previstos para qualquer disposição legal. E a eutanásia arrasta muitos tipos de excepção, ao ponto de, após a legalização, o bispo espanhol de Alcalá de Heneres, Juan Antonio Reig Pla, ter publicado uma carta pastoral em que acusava o Governo de ter tornado a Espanha num «campo de extermínio».   

Possivelmente, entre nós, se vier a ser publicada lei semelhante, a Igreja não deixará de se manifestar de forma idêntica. Mas o ditado diz que «é melhor prevenir do que remediar» e, assim, seria melhor agir para evitar a publicação da lei do que obter depois a sua anulação. Já há médicos a afirmar que não participarão em tais actos de aniquilamento, porque isso vai contra a sua formação e os princípios que seguem de tudo fazer para respeitar a vida, no cumprimento do «juramento de Hipócrates» que fizeram após a sua formatura. «…A vida que professar será para benefício dos doentes e para o meu próprio bem, nunca para prejuízo deles ou com malévolos propósitos. Mesmo instado, não darei droga mortífera nem a aconselharei; também não darei pessário abortivo às mulheres…»

O respeito pela vida deve ser um valor permanente e prioritário na acção de um bom político e de qualquer pessoa com sãs preocupações de moral, de ética, na sua conduta social. Nestas condições, manifesto meu respeito e muita admiração pelo senhor bispo Juan Antonio Reig Pla.

O artigo 24.º, n.º 1, da Constituição determina que "a vida humana é inviolável". E, há alguns dias, quatro juízes do Tribunal Constitucional acompanharam o acórdão final, mas subscreveram uma declaração de voto conjunta em que discordam que o TC não tenha feito um juízo de inconstitucionalidade do diploma "por violação do direito à vida".

Recordo que em artigo publicado em 24-04-2018, alertava para os seguintes perigos: «a eutanásia exige legislação muito cuidada e rigoroso controlo para evitar interesses de familiares, do Estado, dos hospitais, do serviço de saúde, etc.». Se a sua filosofia anti-natura, com desprezo pela vida dos outros e sem sensibilidade, tiver aprovação pelo PODER, acabarão por ser eliminados todos os que não produzem riqueza económica nacional, e pesam no orçamento do Estado, por serem idosos, deficientes, desempregados, doentes, criminosos, etc. Este novo tipo de pena de morte irá desinfestar a sociedade de «inúteis» que, com a evolução rápida das novas tecnologias, serão a maioria da população». Deixando, assim, de haver consumidores, são desnecessárias as novas tecnologias, o comércio fecha, são desnecessários hospitais, médicos, laboratórios e farmácias, os serviços públicos serão reduzidos, bem como o próprio governo, libertando muitos inúteis, candidatos à exterminação da espécie, à espera da oportunidade da eutanásia que acabará por lhes chegar.

1 comentário:

A. João Soares disse...

Relacionado com este tema, LEIA também o texto https://domirante.blogspot.com/2018/04/eutanasia-ou-o-fim-da-humanidade.html
que está colocado noutro blog.