15/08/2014

CASOS DA VIDA REAL


Em relação ao doente, o médico tem dois objectivos. Evitar que o doente morra para não ficar sem o cliente; Evitar que o cliente se cure totalmente, para ele não deixar de aparecer nas consultas com regularidade. Um médico meu amigo e com mais um ano de idade, sendo uma excelente pessoa, nunca deve ter encarado aqueles objectivos.

Por isso, na qualidade de doente, pode não ter tomado a decisão mais correcta. O seu cardiologista vinha insistindo com ele para fazer uma operação cardíaca por sofrer de uma insuficiência numa das válvulas. Observava com atenção todos os relatórios de exames e análises e foi adiando. Por fim, decidiu-se à operação, certamente com receio de ter uma morte repentina, imprevista, embora sem ser precedida de sofrimento.

A operação cirúrgica decorreu bem. Mas, logo nos primeiros exames, foi detectado um AVC ocorrido durante a operação que lhe afectou os movimentos do lado esquerdo e a fala. Poderá recuperar a sua independência e oxalá que o consiga na totalidade, mas dizem ser pouco provável que o resultado vá aos 100%.

Este é um problema em que os idosos devem ponderar: A morte é inevitável e, em casos como este, desejar evitar uma morte rápida e indolor pode ocasionar o prolongamento da vida em situação de sofrimento, de dependência de outros, de dificuldades de contacto e de movimentos, sem verdadeira qualidade de vida. Coloca-se o problema a decidir. Valerá a pena, acima de uma certa idade, correr o risco da lotaria de uma operação cirúrgica, mesmo que ela, por si, possa ter previsão optimista de sucesso total? Claro que depende do tipo de operação, daquilo que possa ocorrer se for realizada ou se não for.


A João Soares
Imagem de arquivo

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