10/12/2012

Amor de mãe, exemplar


Transcreve-se este artigo por constituir um exemplo de amor e de dedicação incondicional, total, que merece ser divulgado por ser o oposto a muitos casos de infanticídio e de eutanásia que aparecem na Comunicação Social.

Cuidar para morrer. O amor de Alina mudou a história de Lisandro
Ionline. Por José Carlos Carvalho, publicado em 10 Dez 2012 - 03:10

Lisandro foi caso único em Portugal. Tinha trissomia 13 com convulsões e os médicos diziam que não devia viver mais de 15 dias. A dedicação da mãe levou-o aos quatro anos.

Lisandro nasceu em 2008 com uma doença rara. Alina Cardoso explicou-me que era o “único caso em Portugal”, de uma criança com “trissomia 13, só que também com convulsões”. Os médicos não tentaram disfarçar e alertaram a mãe de Lisandro que ele não teria muito tempo de vida, talvez 15 dias, porque uma das convulsões poderia fazer com que o coração parasse de bater. Passou o primeiro mês, mas dos seis não deveria passar.

Alina foi cuidando das convulsões em casa, sempre que podia e Lisandro comemorou o primeiro aniversário, com os médicos a assumirem que o seu caso não tinha explicação. O primeiro contacto que tive com a família de Alina foi em Novembro de 2011, quando aceitou ser fotografada a receber um cabaz de Natal. O seu problema era bem maior, porque a situação de Lisandro não lhe permitia trabalhar. Só quando o seu filho fez três anos e três meses começou a receber o Rendimento Social de Inserção: 320 euros, com 200 a irem para a renda da casa. Receber um cabaz de Natal da associação Nova Esperança não era uma exposição da sua realidade, que Alina enfrentava diariamente, de sorriso constante, e sabendo que estava a “cuidar para morrer”.

Os cuidados da mãe e o carinho eram a explicação para Lisandro contrariar todas as estatísticas. Alina pensava no creme de banho, nas refeições trituradas, transformadas em sopa, e nos tratamentos com eucalipto fervido numa panela, como aerossol. Lisandro ia crescendo e há muito que não cabia na cadeira de bebé que lhe tinha sido oferecida. Foram precisos mais de dois anos para conseguir uma cadeira de rodas, oferecida pela cantora Micaela, que só quis uma fotografia da entrega para colocar no seu perfil de Facebook.

Acompanhei o caso de Lisandro de perto nos primeiros cinco meses deste ano – para ser incluído no projecto de fotografia 12.12.12, lançado esta quarta-feira – e cada vez mais havia a certeza de que a sua sobrevivência se devia à família, com as brincadeiras das duas irmãs e, principalmente, à atenção da mãe, que prolongou a vida desta criança, que não falava, não andava, não comia sozinho e só se alimentava de sopa, leite e iogurtes.

Lisandro teria feito o quarto aniversário a 7 de Junho e a família estava a preparar uma festa. Tinha preparado uma fotografia da família para oferecer a Alina, mas quatro dias antes, no aeroporto de Madrid, em trânsito da Noruega, recebo a mensagem que me fez gelar mais do que os Fiordes de onde tinha partido: “O Lisandro faleceu esta madrugada.” Nos últimos meses, tinha ouvido tantas vezes aquela conversa – “só dura 15 dias, no máximo um mês, não chega ao ano, dois era um milagre, dos três é que não passa, não há registo que algum tenha passado” –, que não devia receber a notícia com surpresa. Mas não estava à espera deste desfecho.

O meu trabalho estava no fim, mas quis mostrar o mais triste e perturbador: o fim da vida de Lisandro. Fui ao funeral, fotografei e chorei. Não quis acabar sem passar uma mensagem de esperança a Alina, a mãe que mudou o rumo da história de Lisandro e da minha história. Uma semana depois da morte de Lisandro, regressei a sua casa com a fotografia com que queria surpreendê-la no dia de aniversário do filho. Deixei-a no carro, por achar que o seu papel se alterara: era uma realidade que já não existia. Sem saber do meu dilema, Alina perguntou-me se eu não tinha uma foto da família que lhe pudesse oferecer. Foi a primeira vez que fiquei feliz ao ver as suas lágrimas.

Imagem de arquivo

3 comentários:

Celle disse...

Uma linda história de amor maternal!
Prova do que o Amor é capaz de fazer!
Beijos
celle

A. João Soares disse...

Amiga Celle,

É caso para dizer que O AMOR FAZ MILAGRES. Com uma vida de no máximo 15 dias, esta mãe conseguiu que o filho vivesse quatro anos. E ela sabia que ia perdê-lo mais dia menos dia, mas essa certeza não lhe diminuiu a vontade e o esforço de o manter vivo durante o máximo tempo possível !!!
É realmente um exemplo maravilhoso.

Beijos
João

Celle disse...

A síntese João, daquele Milagre de Amor, foi tão bem colocada que emocionei-me! Rapidez de reflexão e facilidade para explanar seu pensamento,ações próprias das pessoas culturalmente dotadas, me facinaram!
Paz e Bem
Celle